Mastologista destaca a importância do diagnóstico precoce e exames de rotina
A campanha do
Outubro Rosa é mundialmente reconhecida e relembra às mulheres a importância
dos exames de rotina e da atenção diária aos sinais do corpo. Mas ainda há
muitas dúvidas com relação a doença. Pensando nisso, a Inspirali, principal ecossistema
de educação médica do país, convidou o Dr Marcos Medeiros, mastologista e
professora da UniSul Campus Tubarão, para esclarecer as principais dúvidas da
população em relação ao tema. Confira:
- Câncer de mama é
hereditário?
R: Todos os tipos
de câncer, independente se for de mama ou outros tipos, o fundo sempre vai ser
genético. Sempre será um gene de uma célula que vai se modificar, essa célula
vai se proliferar de uma maneira incorreta e formando aquela tumoração. Porém,
esse gene pode se modificar ou por alterações ao longo da vida e exposição a
algo que gere essa modificação - como cigarro, obesidade, álcool - ou pode ser
um gene defeituoso de fábrica. Como costumo dizer, a pessoa já nasceu com
aquele gene com alguma mutação, e esse gene em específico pode predispor um
câncer de mama ao longo da vida. Consideramos que aproximadamente 10% a 15% dos
cânceres de mama são hereditários, ou seja, essas pessoas herdaram esse gene,
essa mutação de gene familiar, e elas têm essa predisposição ao câncer de mama
ao longo da vida. Agora, a grande maioria, 85% dos cânceres de mama,
consideramos cânceres esporádicos, que não são hereditários. Desses, a maioria
é por alguma mutação que ocorreu ao longo da vida, ou seja, não tem esse peso
de hereditariedade.
- Estilo de vida
saudável ajuda a evitar a doença?
R: Um estilo de
vida saudável com certeza protege não só para o câncer de mama, mas para
qualquer tipo de câncer. Atividade física regular, alimentação equilibrada, sem
excessos, o não consumo de bebida alcoólica, o não consumo de cigarro, isso
tudo entra como fator protetor. Além disso, para o câncer de mama em
específico, a questão de amamentação, em um período mais prolongado de dois
anos ou mais, isso também geraria um fator protetor para câncer de mama. Quanto
aos fatores de risco, tabagismo, obesidade e outros excessos - de carboidratos,
gordura, por exemplo - isso acaba aumentando o risco. O uso de anticoncepcional
e reposição hormonal estão também relacionados, eles aumentam o risco, mas é
muito pouco.
- Quem está mais
propensa a contrair a doença?
R: A questão de
história familiar é muito positiva, então, principalmente parentes de primeiro
grau que tiveram câncer de mama e ovário muito cedo, antes da menopausa, abaixo
dos seus 50 anos, isso vai impactar naquele familiar um risco um pouco maior.
Se esse familiar, porventura, tenha tido câncer de mama bilateral ou câncer de
mama e ovário, seria uma questão para ficar mais atento. Logicamente, a
paciente que já teve câncer de mama está mais propensa a ter um novo câncer,
então ela tem um alto risco para isso. Pacientes que fizeram radioterapia no
tórax, por pegar a mama, essa radiação pode gerar um risco futuro. E aquelas
que já foram testadas geneticamente e vieram com algum gene em específico alterado
que aumenta o risco para câncer de mama.
Quanto à idade da
mulher, sabemos que quanto maior a idade, maior risco para câncer de mama. Uma
paciente mais idosa vai ter mais risco de câncer de mama do que uma paciente
menos idosa. A cada ano que passa tem maior chance de ter um câncer de mama,
mas o pico de incidência vai girar entre os 50 e 60 anos. As pacientes na
pós-menopausa têm mais risco de ter câncer de mama do que na pré-menopausa.
Casos de câncer de
mama estão crescendo no Brasil?
R: Vemos um aumento
gradativo ano a ano. Mais de 70 mil novos casos são estimados no Brasil para
2025, mas tem uma proporção um pouquinho maior de pacientes jovens. Há alguns
anos o percentual, por exemplo, de pacientes de 35 anos ou menos com câncer de
mama, do montante, seria em torno de 2% dos casos. Já hoje vemos um incremento
e agora está por volta dos 4, 5% nessa faixa etária. Não sabemos dizer o motivo
deste aumento, talvez pelo estilo de vida, alimentação, mas tem esse pequeno
incremento. Mesmo com este aumento de jovens, as pacientes mais acometidas são
pós-menopausas e quanto mais idade, maior o risco.
- Mulheres com
prótese de silicone têm mais propensão em contrair a doença?
R: Prótese mamária
não aumenta risco para câncer de mama e não dificulta o rastreio. Mulheres com
prótese também fazem mamografia normalmente, sem dificuldade no diagnóstico.
Foi se documentado, há alguns anos, a questão de linfoma de mama, ocasionada por
uma prótese específica, de uma marca específica. Linfoma de mama é uma condição
muito rara e esse em específico, linfoma de grandes células, era de letalidade
muito baixa, bem tratável.
- Nódulos nas
mamas são sinal de câncer?
R: Nódulos
comprovadamente benignos como fibroadenoma, em sua grande maioria não aumentam
o risco para câncer de mama. O fato de eles existirem não vão gerar um risco
futuro para uma mudança de padrão e aquilo ali virar um câncer, então eles não
aumentam o risco de câncer de mama. Especificamente fibroadenoma, que é mais
comum, não tem risco.
- Câncer de mama
pode ser causado por algum tipo de trauma no seio (batida)?
R: O fato de ter
uma batida na mama não vai gerar um risco futuro para a câncer. Muitas vezes
essa correlação ocorre porque provavelmente a paciente já tinha o tumor e uma
batida a forçou a apalpar a mama por conta da batida por conta da dor, e ali
sentiu um nódulo e associou com o trauma, mas não quer dizer que o trauma seja
motivo de aparecimento do câncer de mama, então não existe essa relação. Dor na
mama, que a gente chama de mastalgia, também em geral não é um sintoma de
câncer de mama. Ela, muitas vezes, está mais relacionada com a oscilação
hormonal do que propriamente com alguma patologia.
- Quais os sintomas
do câncer de mama?
R: A retração de
pele ou de mamilo, alteração de pele deixando-a mais espessa, mais avermelhada,
descamando, pode, porventura, ser uma alteração relacionada a um câncer de
mama. Outro sintoma é a saída de secreção pelo bico do peito, que a gente chama
de descarga papilar, isso também em alguns casos pode estar envolvido.
- Câncer de mama
tem cura? Qual a probabilidade?
R: O câncer de
mama, como qualquer outro câncer, também pode ser curado. Porém, como mencionei
anteriormente, mesmo a paciente curada sempre vai estar em acompanhamento, pois
ela tem mais risco de ter um novo câncer. Mas quanto mais precoce o tumor,
quanto menor o tamanho, sem comprometimento de ínguas embaixo do braço, isso
favorece o tratamento, então quanto mais precoce ele é descoberto, a chance de
cura é enorme, chega a mais de 95% em estágios iniciais. E quanto mais avançada
a doença, então maior o nódulo, maior o tumor, já com o comprometimento de
ínguas, isso tudo vai diminuindo a chance de cura. Não que não há possibilidade,
mas vai diminuindo. E até na situação quando a doença já se espalhou para
outras partes do corpo, falamos que a doença não seria mais curável, mas sim
controlável, então a gente sempre tenta o controle. Mas quando a doença é
localizada, sempre visamos a cura e quanto menor o estadiamento, disparadamente
maior a chance de cura, daí a importância do diagnóstico precoce, que é o
rastreamento com mamografia, por isso nós, médicos, batemos tanto nesta tecla.
- Quando devemos
fazer mamografia?
R: A partir dos 40
anos na população geral, com a periodicidade anual, e os trabalhos mostram
benefício até os 75 anos, mas logicamente dependendo da expectativa de vida de
cada mulher, isso vai se prolongando, lembrando que o rastreio, o que seria,
ele visa o diagnóstico precoce de determinada doença, e nesse diagnóstico
precoce, o impacto do rastreio é diminuir mortes por aquela doença, então,
visando o diagnóstico precoce, você consegue melhorar o tratamento por aquela
doença. A mamografia não vai prevenir o câncer de mama, ela vai prevenir mortes
por câncer de mama, então, é esse o objetivo do rastreamento, e por isso que se
preconiza, a partir dos 40 anos.
- Mulheres negras
tem mais risco de óbito? Por quê?
R: Recentemente
foi visto que temos subtipos de câncer de mama, e isso muda em termos de
agressividade, então tem tumores um pouco mais agressivos sabidamente, outros
menos, tem ou não receptores hormonais e por aí vai. As mulheres negras têm uma
proporção um pouquinho maior de terem um subtipo chamado triplo negativo, que
em tese é um subtipo um pouco mais agressivo. Por conta disso, tem se
evidenciado não só no Brasil, um incremento em relação à mortalidade na
população negra por conta disso, provavelmente, são os dados aí preliminares.
Nenhum comentário:
Postar um comentário