Lideranças
tóxicas, cargas de trabalho excessivas e o uso inadequado da linguagem no
ambiente corporativo são fatores que evidenciam essas questões
As microagressões no ambiente de trabalho
permanecem um desafio para líderes que buscam harmonia entre colaboradores. Um
estudo da McKinsey & Company aponta que, além da desigualdade de gênero, as
mulheres enfrentam um número significativo de microagressões. Esse cenário é
agravado por lideranças tóxicas, assédio e cargas de trabalho excessivas.
Pesquisa com dados e cases foram apresentados no 1º
dia do 2º Summit Internacional de Segurança Psicológica, realizado nesta
segunda-feira, 14 de outubro, em São Paulo, pelo Instituto Internacional de
Segurança Psicológica (IISP).
Nesse contexto, o Estudo 2023 – Canal de Denúncias
da IAUDIT Tecnologias revela que 41,64% dos entrevistados relataram
experiências de assédio moral, abuso de poder, agressão física e desvios de
comportamento no ambiente corporativo. Além disso, o levantamento indica que
46% dos denunciantes identificam especificamente o funcionário responsável pelo
ato, com 37,61% dos denunciados sendo líderes, supervisores ou encarregados.
Patrícia Ansarah, fundadora do Instituto de
Segurança Psicológica (IISP) e organizadora do Summit, destaca que a segurança
psicológica no ambiente de trabalho depende também da compreensão de temas
frequentemente delicados. “Microagressões, embora sutis, podem afetar
profundamente o bem-estar emocional dos colaboradores, enquanto o assédio é uma
forma mais intensa e prejudicial de comportamento inadequado. É crucial que as
organizações cultivem uma cultura de respeito e empatia, promovendo diálogos
abertos sobre essas questões. Dessa forma, poderemos criar um ambiente de
trabalho mais seguro, onde todos se sintam valorizados e respeitados”, conclui.
Um dos painelistas no evento, o professor,
pesquisador e especialista em temas relacionados ao significado do trabalho,
Alexandre Pellaes, destaca que as microagressões se manifestam por meio de
pequenas atitudes, comentários e comportamentos. Segundo ele, esses atos,
acumulados ao longo do tempo, comprometem a saúde mental e a capacidade de
ação. “Essas violências não se limitam às estruturas organizacionais, elas
aparecem nas interações diárias entre colegas, líderes e subordinados, muitas
vezes resultantes de escolhas e ações individuais”, destaca.
Segundo um levantamento apresentado por Alexandre,
algumas dinâmicas ocultas podem revelar exemplos de microagressões e seus
impactos no cotidiano. Um exemplo é o elogio em público seguido de sabotagem em
particular. “O chefe aparenta apoiar um funcionário, mas age contra ele nos
bastidores”, explica. Outra forma de microagressão é a imposição de autoridade
com base no cargo, ignorando a competência e o conhecimento em favor do status.
Além disso, a criação de um "glamour" em torno da sobrecarga de
trabalho também entra nessa lista. “Isso acontece quando a empresa ou o chefe
valoriza aqueles que trabalham até tarde, fomentando uma cultura de exaustão”,
detalha.
No estudo, ele também destaca a diferença de
tratamento entre pessoas com contribuições iguais, a mistura de relações
sociais com desempenho profissional e a falta de respeito durante apresentações,
como quando alguém se distrai olhando memes no celular. “Isso demonstra
desrespeito pelo tempo e pela intenção de trabalho dos outros”, explica. Além
disso, Alexandre aponta que o uso de apelos emocionais para obter vantagens é
outra forma de microagressão, seja quando funcionários se apresentam como
vítimas ou quando a empresa promove uma imagem de "família".
Impacto das palavras
O especialista observa que, ao identificar os
fatores que afetam a segurança psicológica, muitos aspectos ainda obscuros podem
ser desmistificados. “Existe muito daquilo que não é dito. À medida que
abordamos esses temas, espera-se que se torne mais comum discutir questões como
essa, fundamentando-se na fala e na escuta”, afirma.
Vivian Rio Stella, doutora em linguística e também
painelista no 2º Summit Internacional de Segurança Psicológica, compartilha
essa perspectiva ao destacar o impacto das palavras nas decisões e relações
corporativas. “Nas empresas, silêncios comunicam muitas coisas. Há um grande
número de coisas não ditas por medo de retaliação, olhares enviesados ou
interpretações. É fundamental discutir os silêncios que foram normalizados”,
enfatiza.
Ela também ressalta a importância de diferenciar
microagressões de assédio. Enquanto o assédio é definido de forma normativa, a
noção de microagressão começou a ser discutida há cerca de 40 anos. “A
microagressão é o que passa do pensamento para a ação. A diferença reside na
intenção e no modo de agir. O assédio, por sua vez, é caracterizado pela
intensidade da ação, que pode se manifestar em frequência e tom mais
agressivo”, explica.
A jornalista, palestrante e pesquisadora de temas
que envolvem saúde mental, Izabella Camargo, mediadora do painel no Summit,
ressalta a importância da segurança psicológica no ambiente de trabalho, enfatizando
que, embora a liderança tenha um papel fundamental em promovê-la, a
participação de todos é crucial. “A segurança psicológica começa com a
liderança, mas todos precisam falar. Cabe a nós, que estamos criando a cultura
da nossa empresa, trabalhando para algum lugar, já dizer que aquilo se trata de
um trabalho. Trabalho não é a família. Por isso, é importante observar que
conversa estamos repetindo, que linguagem estamos usando. É preciso pensar em
tudo isso”, conclui.
Patrícia Ansarah - Precursora do conceito de segurança psicológica no Brasil, a psicóloga organizacional Patricia Ansarah - com mais de 20 anos atuando em RH e como executiva de grandes empresas - criou o instituto Internacional de Segurança Psicológica (IISP), a primeira entidade voltada exclusivamente ao tema em território nacional, para endossar o pioneirismo e dar visibilidade ao tema no Brasil e levar soluções integradas por meio da segurança psicológica para o desenvolvimento de times e organizações.
Alexandre Pellaes - Professor e pesquisador em Psicologia Organizacional pela USP, especialista em temas relacionados ao significado do trabalho, com mais de 20 anos de experiência em gestão e liderança. É palestrante TEDx e colunista da UOL Economia, foca no desenvolvimento de relações de trabalho humanizadas e autônomas.
Vivian Rio Stella - Doutora em Linguística pela Unicamp, com pós-doutorado pela PUC-SP. Professora da Aberje, da Casa do Saber, de cursos de extensão da Cásper Líbero e de MBA da FIA. Idealizadora da VRS Academy, onde atua como curadora, professora e pesquisadora.
Izabella Camargo - Jornalista, palestrante e escritora, é reconhecida por sua atuação na comunicação e saúde integral, com ênfase em saúde mental, Síndrome de Burnout, bem-estar no ambiente de trabalho e longevidade. É autora do livro “Dá um tempo! Como o Burnout mudou minha vida” e curadora de conteúdos sobre saúde integral.
Instituto Internacional em Segurança Psicológica - IISP
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