Pesquisador científico afirma que as pessoas devem cumprir o dever de
dar destinação correta ao lixo que produzem
Registro de caso
por leishmaniose visceral humana gera preocupação em Presidente Prudente. A
vítima, do sexo masculino, teve seu nome preservado. O local onde mora não foi
divulgado; para não gerar alvoroço na vizinhança. Para o pesquisador científico
Dr. Luiz Euribel Prestes Carneiro, médico infectologista, o caso registrado
pelas autoridades sanitárias no dia 5 deste mês realça o alerta à população de
mais de 231 mil habitantes para que faça a lição de casa quanto ao descarte
correto do lixo. Pesquisas apontam a existência de 92 pontos com depósitos
irregulares em diferentes áreas da cidade e, especialmente, na periferia.
Condição que favorece o ciclo biológico da doença.
Conforme dados
tabulados nas investigações científicas, de 1999 a 2021 foram registrados 2.952
casos de leishmaniose visceral humana no estado de São Paulo, dos quais 461, o
que representa 16,97%, em 45 municípios do oeste paulista: área de abrangência
do Departamento Regional de Saúde (DRS-11). No Grupo Vigilância
Epidemiológica (GVE) de Prudente, que compreende 24 municípios, regionalmente
apresentou entre 2017 e 2023, 30 casos com 1 óbito. O GVE de Presidente
Venceslau, formado por 21 municípios, apresentou 120 casos com 8 óbitos.
Na cidade de Prudente o primeiro caso ocorreu em 2013 e até o começo de
abril de 2023, eram 15 pessoas que contraíram a doença e 2 pessoas foram a
óbito.
Aumento alarmante
“Na cidade de
Presidente Prudente, assim como nas cidades da região oeste do estado de São
Paulo, a presença de fatores socioeconômicos, como baixa renda, baixa
escolaridade, grande número de cães abandonados e munícipios sem centro de
controle de zoonoses aliados a fatores ambientais como falta de saneamento,
clima tropical, altamente chuvoso no verão e seco no inverno e o grande
desmatamento sofrido pela região, podem favorecer o ciclo biológico da doença,
aumentando a presença de parasitas (Leishmania infantum chagasi) do
vetor, o mosquito palha (Lu. Longipalpis) e dos reservatórios (cães)
favorecendo a manutenção do ciclo evolutivo da doença”, explica.
Indagado sobre o
quanto tudo isso é preocupante, o Dr. Euribel comenta que as doenças
transmitidas por vetores, especialmente por mosquitos: Aedes aegypti,
da dengue e Chicungunya; e palha, transmissor da leishmaniose visceral e
cutânea. Mosquitos que estão aumentando de maneira alarmante em Prudente e
região, pelos fatores já citados. “Há uma tendência da população em culpar
apenas os governantes por essa situação, mas sabemos que a população não faz a
lição de casa. Presidente Prudente é um grande lixão a céu aberto”, pontua.
Descaso da
população
Outros dados
relevantes são os de que em 2015 foram identificados 56 pontos de depósitos
irregulares de resíduos sólidos em diferentes áreas da cidade, principalmente
na periferia; e em 2020 e 2021 foram identificados 92 pontos, um aumento de
64,2% em relação a 2015; praticamente nas mesmas regiões onde foram encontrados
anteriormente. “Isso mostra o descaso com que a população enfrenta essa
questão. Locais que são criadouros de mosquitos da dengue e da leishmaniose,
por atraírem animais de sangue quente como os roedores e cães que são fonte de
alimento para fêmeas de mosquito”, alerta.
O Dr. Euribel
explica que não existe uma vacina para prevenir a leishmaniose visceral humana.
Portanto, compreende que a tendência dos casos humanos é de aumento
progressivo. “No entanto, há de se reconhecer o excelente trabalho da
Vigilância Epidemiológica, Centro de Controle de Zoonoses (CCZ),
Superintendência de Controle de Endemias e Instituto Adolfo Lutz de Presidente
Prudente. Graças a isso, temos um pequeno número de pessoas infectadas quando
comparado a outras cidades da região oeste paulista, como são os casos de
Dracena, Presidente Epitácio e Presidente Venceslau, do GVE de Venceslau”, diz
o pesquisador vinculado à Unoeste, professor na Faculdade de Medicina e nos
programas de pós-graduação em Ciências da Saúde e Meio Ambiente e
Desenvolvimento Regional.
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