A comemoração do dia internacional do trabalhador consagra a
luta e conquista de trabalhadores há mais de 130 anos. Eventos que ocorreram há
tanto tempo possibilitam interpretarmos o presente mundo do trabalho e nos
impõe a necessidade de projetarmos qual futuro do trabalho vislumbramos e/ou
desejamos.
A Segunda revolução industrial produziu: a difusão de novas
tecnologias como o motor a combustão interna, que introduziu o mundo na era do
petróleo; a lâmpada de filamento, que permitiu a ampliação das horas de
trabalho em ambientes iluminados; o telefone e o telégrafo sem fio, que
conectou pessoas e expandiu mercados; a esteira rolantes, que ampliou a
rotinização, divisão e aceleração do trabalho; rápida urbanização e o crescimento
populacional, com a Europa expandindo sua população em 37% entre os anos de
1870 e 1914 e os Estado Unidos em 150% no mesmo período.
Desta forma, a segunda revolução industrial não trouxe
mudanças apenas em coisas e máquinas, transformou profundamente as pessoas, sua
compreensão de tempo, sua jornada de trabalho, sua forma de acessar alimentos e
suas relações sociais. O trabalho nas fábricas e a vida nas cidades eram
insalubres, a jornada de trabalho poderia superar 17 horas diárias e até mesmo
as crianças eram convocadas para trabalhos extenuantes e perigosos. As
primeiras conquistas dos trabalhadores ocorreram exatamente no estabelecimento
de limite de 8 horas diárias na jornada de trabalho de crianças, o que
possibilitaria ampliação da escolarização.
As crises econômicas do final do século XIX e início do
século XX foram suplantadas por uma mudança no entendimento da sociedade sobre
o trabalho. A percepção de que o desemprego era um problema individual e que
cada pessoa deveria se responsabilizar por suas privações materiais, foram
substituídas pela leitura de que o desemprego era uma consequência de problemas
macroeconômicos gerados por más expectativas de empresários, declínio de ciclos
econômicos e outras distorções do sistema produtivo. Os ganhos de produtividade
da segunda revolução industrial poderiam gerar crescimento econômico, mas
exigiam a expansão do mercado consumidor. O que ficou conhecido como o “Era de
Ouro” do Capitalismo foi resultado da incorporação dos
trabalhadores industriais como consumidores das mercadorias que produziam. A
elevação da produtividade foi transformada em elevação dos lucros, salários e
consumo, produzindo um ciclo virtuoso de desenvolvimento econômico e construção
de um estado de bem-estar social.
A redução da jornada de trabalho conquistada pelos
trabalhadores no século XIX incorporou maior contingente de operários em
atividades industriais, produzindo relevantes efeitos econômicos, como elevação
na demanda por trabalho e ampliação dos níveis salariais. Além disso, a redução
da jornada de trabalho aumentou a massa salarial e o poder de consumo dos
trabalhadores, permitindo-lhes ter mais tempo livre para vivenciar novas
experiências pessoais e sociais, o que levou ao desenvolvimento de atividades
econômicas ligadas ao lazer e entretenimento. Outro efeito resultado da redução
da jornada de trabalho e elevação do rendimento dos trabalhadores, foi o
incentivo à inovação (tecnológica e organizacional) poupadoras de força de
trabalho, a fim de compensar a elevação dos custos com trabalho.
Constata-se com isso que as transformações no mundo do
trabalho produziram não apenas mudanças na vida dos trabalhadores como em toda
a estrutura social dos países desenvolvidos. Nos países subdesenvolvidos a
trajetória de industrialização e constituição de direitos trabalhistas foi
substancialmente diferente dos países centrais, dada nossa herança colonial e
escravista, geramos uma estrutura social profundamente desigual e um mercado de
trabalho excludente. O período em que a industrialização foi concluída no país,
marcado por elevadas taxas de investimento e crescimento econômico, coincidiu
com a violenta ditadura militar, que impôs um modelo de crescimento econômico
marcado pela elevação da desigualdade e pela polarização do mercado de trabalho.
O Brasil perde a oportunidade histórica de tentar romper com as características
estruturais de nosso mercado de trabalho, marcado por a elevado desemprego,
baixos salários, alta rotatividade e incidência de trabalho informal.
Os trabalhadores brasileiros não têm muito o que comemorar
no momento. Que pese que o país não registre mais a tenebrosa taxa de
desemprego de 14,8% do final de 2020, o desemprego de 8,6% do primeiro
trimestre de 2023 ainda representa 9,2 milhões de desempregados. A taxa de subutilização
da força de trabalho também tem caído, mas ainda está em um patamar de 18,8%,
atingindo níveis duas vezes maior entre trabalhadores jovens de 14 a 24 anos.
Com a mais elevada taxa básica de juros do mundo, o Banco Central do Brasil,
além de utilizar uma medida de baixa eficácia para o combate à inflação de
custo, eleva o endividamento do Estado, reduz o ímpeto dos empresários gerarem
emprego e amplia a já elevada taxa de desemprego brasileira.
Com o que já foi exposto fica evidente
que a dinâmica do mercado de trabalho não só informa o nível de atividade
econômica, como contribui para o crescimento econômico, gerando efeitos
virtuosos de ampliação do mercado consumidor e expansão da arrecadação do governo.
O desafio posto ao Brasil no dia do trabalho de 2023 é constatar que o mundo
está em transformação e que a dinâmica do mercado de trabalho ainda é
determinante na superação da crise que arrebata o mundo todo. Com trabalhadores
da economia de plataforma exercendo jornadas de trabalho de 17 horas diárias,
dilemas enfrentados no século XIX e início do XX voltam a exigir respostas para
suplantar a crise imediata, mas também para horizontes mais alargados. No dia
do trabalhador somos convocados a relembrar a centralidade do trabalho na
dinâmica econômica e a pensar que sociedade queremos construir.
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