Muitos de nós certamente se lembram da crise financeira de 2008, desencadeada por – dentre vários motivos – uma bolha no setor imobiliário dos Estados Unidos. Grandes bancos faliram, e o governo estadunidense foi forçado a intervir. Dentre essas grandes instituições, o maior banco de investimentos do país, o Lehman Brothers, fundado em 1847 e que contava com 25 mil funcionários, faliu. Da mesma forma, o Washington Mutual, um banco de poupança e empréstimos sediado em Seattle, encerrou suas atividades e o governo dos EUA o vendeu para o JPMorgan Chase.
Com sede na Califórnia, o IndyMac foi fechado pelo
FDIC (Federal Deposit Insurance Corporation) em julho de 2008 e vendido para um
grupo de investidores; enquanto o quarto maior banco dos EUA à época, o
Wachovia, foi adquirido pelo Wells Fargo em outubro do mesmo ano. Ao caso do
colapso do sistema bancário 15 anos atrás, seguiram-se aumentos expressivos nos
índices de desemprego, empobrecimento de famílias e milhares de pessoas sendo
despejadas não só nos Estados Unidos mas no mundo todo. Tudo isso faz com que
as imagens e lembranças daquela crise sejam realmente assustadoras.
Agora, o fantasma de 2008 volta a rondar o mundo,
mas com outro nome: Silicon Valley Bank, o SVB. Trata-se de um banco fundado em
1983 por Bill Biggerstaff e Robert Medearis e com sede em Santa Clara, na
Califórnia. Desde o início, a estratégia focou-se em capital de risco, seja de
empresas financiadas por esse tipo de capital ou por investidores e serviços
financeiros. A oferta inicial de ações do banco ocorreu em 1988, e, desde a
década de 1990, o SVB atendeu uma variedade de grandes empresas, como a Cisco
Systems, e startups como o Airbnb, o Twillio ou mesmo o Zoom Video
Communications.
No dia 9 de março, as ações do SVB caíram mais de
62% após a proposta da empresa em vender ações para reforçar seu balanço
patrimonial. A isso seguiu-se uma corrida dos correntistas ao banco para sacar
os valores depositados ali. O Departamento de Proteção Financeira e Inovação da
Califórnia alegou risco de insolvência e, no domingo, 12 de março, o
Departamento do Tesouro dos EUA anunciou medidas emergenciais para evitar a
falência do banco.
O Silicon Valley Bank possui operações em países
como Canadá, China, Dinamarca, Alemanha, Irlanda, Israel, Suécia e Reino Unido;
e se beneficiou tanto do crescimento do setor de tecnologia na Califórnia e nos
EUA nos últimos anos quanto dos empréstimos a juros baixos até meados da
pandemia. Entre 2019 e 2022, os ativos do SVB saíram de US$ 71 bilhões para US$
220 bilhões.
A falência de uma instituição financeira é algo
extremamente arriscado não só para a economia de um país como também,
dependendo do caso, para a economia de todo o planeta. Primeiramente, pelo
papel crítico dos bancos no sistema financeiro: ao armazenar e gerenciar
recursos, fornecer empréstimos e financiamentos. Segundo, pela série de efeitos
negativos que uma falência bancária pode causar: desde a perda de confiança dos
consumidores no sistema financeiro até o efeito dominó. Nesse último caso,
trata-se de uma reação em cadeia em que outras empresas e instituições
financeiras que possuem relação com o banco em processo falimentar podem
tornar-se incapazes de honrar as próprias dívidas. Por fim, a falência de um
banco reduz o fornecimento de crédito. Para os EUA, neste exato momento, isso
também é muito preocupante: o país está em franca disputa tecnológica e
comercial com a China, e a redução na sua capacidade de gerar inovações pode
ter severos efeitos geopolíticos.
Embora as diferenças entre o que ocorre agora com o
SVB e a crise financeira de 2008 sejam bastante grandes – em especial pois,
àquela época, as instituições financeiras possuíam inúmeros ativos sem lastro
–, o receio do contágio de uma crise financeira permanece. Estima-se que os
ativos do SVB estejam na casa de US$ 209 bilhões. Era o que faltava: após uma
pandemia e uma guerra, uma crise financeira.
João Alfredo Lopes Nyegray -
doutor e mestre em Internacionalização e Estratégia. Especialista em Negócios
Internacionais. Advogado, graduado em Relações Internacionais. Coordenador do
curso de Comércio Exterior na Universidade Positivo (UP). Instagram: @janyegray
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