Uma dúvida sempre abre uma porta. E a porta aberta dá acesso a várias possibilidades, antes impensáveis. Cada pergunta pode levar a infinitas respostas e a um número ainda maior de reflexões sobre elas. Pode-se optar por ter respostas prontas e certas, aceitas por todos, ou se permitir duvidar e ir além nas reflexões. A dúvida, certamente, move nosso ser.
E, se isso vale para nós, adultos vivendo em um
mundo estabelecido, muito mais valerá para as crianças, que ainda têm muitos
universos de oportunidades para transformá-lo. Permitir uma educação pautada no
questionar leva a criança a buscar sempre possibilidades mais amplas. Ao
contrário da maioria das pessoas, que aceitam tudo com naturalidade, achando
que as coisas são como são, as crianças se dão o direito de questionar.
Neste momento de pós-modernidade, o mundo todo
passa por grandes mudanças. Tudo o que era visto como distante tornou-se
próximo com o uso da tecnologia. Por outro lado, as relações estão cada vez
mais complexas. Como adiantou Bauman, o mundo se tornou líquido - e isso se
aplica a tudo. Os valores, pensamentos e respostas definitivas de outrora hoje
se tornam relativos. A verdade, por sua vez, tornou-se algo subjetivo.
Dependendo de cada um, o certo pode ser errado e vice-versa. Tudo é descartável.
A experiência individual está acima de qualquer opinião. Viver para ser (ou
parecer) feliz - e mostrar isso constantemente nas redes sociais - é motivação
diária para muitos.
A Filosofia surge com a primeira pergunta. E, como
se sabe, muitas perguntas surgiram ao longo da história. Entender de onde o ser
humano veio, para onde vai ao final de tudo e qual seu propósito são pautas
recorrentes. À medida que aceitamos tudo como nos é passado, limitamos nossas
crenças e, infelizmente, paramos de buscar por novas explicações, aceitando a
resposta do outro como certa. Mas a criança, sendo um ser em construção,
precisa ter em sua formação uma Educação voltada ao questionar.
No desenvolvimento infantil, o momento do perguntar
muitas vezes parece cansativo e sem fundamento. A criança vê e questiona,
procura dar sentido, gerar significado para o que a inquieta. E nós, enquanto
adultos, ao dar respostas prontas e rápidas, começamos a moldar a mente
infantil a procurar sempre o caminho mais curto e fácil. Quando se insere o “e
se?” novas possibilidades se abrem e permitem ao imaginário infantil explorar
essas possíveis respostas em conjunto com a família. Mentes questionadoras vão
além.
A criança deve brincar, se relacionar com seus
colegas, ter carinho e afeto de sua família. Deve ter uma boa educação pautada
em valores que permitirão que sua jornada seja repleta de realizações. A
escola, assim como o lar, deve ser um local de aceitação, desafio e motivação.
E tudo isso precisa estimular que, no desenvolvimento diário, as escolhas sejam
feitas da melhor forma possível. Aprender a fazer boas escolhas está
diretamente relacionado a ser crítico e ter um olhar mais atento sobre o mundo.
A escola tem papel importante em permitir que o estudante possa explorar essas
possibilidades.
O ensino precisa estar voltado a despertar mentes
inquietas, e não cativas. Ensinar é mostrar um caminho. Como diz o provérbio
espanhol, “ao caminhar se fazem caminhos”. Não há outra forma de desenvolver
uma mente questionadora, senão pelo incentivo do perguntar. E isso se
multiplica, vira possibilidade e, aos poucos, faz parte do ser.
Que seus dias tenham muito mais perguntas que
respostas, e que isso te motive a ir além. E, se você não entender o porquê lhe
desejo isso... pergunte! Assim começará a sua busca.
Robson Ghedini - professor de
Filosofia e coordenador pedagógico na Conquista Solução Educacional.
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