Comunicação e produtos atuais do setor fazem com que atraia menos a atenção dos jovens, o que acaba limitando o crescimento potencial. Apenas 7% dos participantes das EFPC têm menos de 24 anos, o que corresponde a quase de 300 mil pessoas
Com 225
fintechs de crédito, 129 insurtechs, 541 healthtechs e 299 Agtechs, o Brasil
desponta como referência do uso de tecnologia para impulsionar a transformação
digital de diversos setores da economia. Mas, diferente do que ocorre com estes
segmentos, o processo de digitalização das entidades de previdência privada
segue a passos lentos, principalmente quando se fala da relação com os
participantes.
“Em
termos operacionais, os fundos de pensão já são relativamente digitalizados,
porém a tecnologia não chega no relacionamento com seus participantes. A
maioria não conta com canais digitais completos que facilitem as pessoas
obterem informações sobre seu investimento, a possibilidade de ampliar ou
reduzir as contribuições, rentabilidade ou serviços adicionais ofertados como
contratação de crédito”, afirma Alexandre Teixeira, sócio e CEO da uFund,
pensiontech especializada na transformação digital e modernização do
ecossistema das Entidades Fechadas de Previdência Complementar (EFPC).
A
comunicação e os produtos atuais do setor fazem com que ele atraia menos a
atenção dos jovens, o que acaba limitando o crescimento potencial. Hoje existem
275 Fundos de pensão que contam com cerca de 4 milhões de participantes, o que
equivale 2% da população brasileira. Para se ter uma ideia, na divisão por
faixa etária apenas 7% dos participantes das (EFPC) têm menos de 24 anos, o que
não chega a 300 mil pessoas.
“É
preciso ter canais apropriados que conversem com as diferentes faixas etárias,
mas que engajem principalmente os jovens que buscam se identificar com as
marcas e investir em propósitos. As startups podem agregar com produtos e serviços
que atendam a hiper personalização, com uma comunicação não apenas digital que
fale com esse jovem no canal onde ele navega, mas que também fale a linguagem
dele”, diz Teixeira
Eder
Carvalhaes da Costa e Silva, assessor do Presidente do BNDES, concorda que o
apoio de startups pode ser essencial para que a previdência complementar
fechada seja mais atraente para os jovens. “Vivemos uma época de hiper
personalização em que a tecnologia é capaz de adequar as soluções ao perfil de
cada indivíduo. Mas sem as startups não é possível fazer isso, pois a
tecnologia está com elas”, diz.
Teixeira
complementa. “Uma entidade de previdência não tem como foco desenvolver
plataformas e aplicativos e sim gerir os recursos dos participantes. Já as
startups têm as ferramentas adequadas para aumentar a conexão com os atuais
participantes e para atrair o interesse de mais pessoas. Soluções tecnológicas
são a expertise delas”.
A
EnergisaPrev, fundo de pensão que administra os planos de previdência de 14 mil
colaboradores das empresas que formam o Grupo Energisa e cujo patrimônio é de
aproximadamente R$ 1,8 bilhão, está entre as instituições que deram o primeiro
passo rumo à transformação digital. O fundo adotou uma solução, desenvolvida no
conceito White Label, que permite uma comunicação fluida e integrada com os
participantes por múltiplos canais digitais num modelo semelhante ao das
fintechs e neo banks.
Por
meio do aplicativo, que pode ser baixado pelo participante em seu smartphone, é
possível fazer consultas e algumas operações como, por exemplo, solicitar
empréstimo. Tudo com a mesma facilidade de um banco digital e sem a burocracia
comum aos meios de atendimento tradicionais.
“Nos perguntamos se estávamos realmente satisfeitos com o atendimento e as possibilidades que oferecíamos a nossos participantes. Concluímos que não e descobrimos a uFund. Desde que a plataforma foi implantada, nossa carteira de crédito cresceu exponencialmente. Era uma questão de modernizar nossa interface”, conta Marcio Pires, diretor da EnergisaPrev.
Por quê?
Mas se
as instituições financeiras são a prova de que as startups têm as soluções para
a inserção das grandes empresas na era da digitalização, por que os fundos de
pensão só agora estão começando a atentar para este fato? Não há uma única
resposta e contraditoriamente, segundo Teixeira, existe sim bastante interesse
nesse movimento de modernização. Mas questões culturais e receio de o custo se
tornar muito alto são alguns pontos a serem considerados.
“Ao
entrar em contato percebi que todas estão abertas a parcerias. A questão é o
quão desafiador é ter uma comunicação mais efetiva, capaz de alcançar todos os
colaboradores. E como usar os dados para se comunicar corretamente com o
participante e ampliar o ecossistema. Empresas de varejo, com o apoio de
fintechs, estão se transformando em bancos. Cada vez mais a indústria não se
limita a atuar apenas em sua área de atuação. E está na hora dos fundos de
pensão seguirem o mesmo caminho”.
Outro
ponto considerado como dificultador é o fato de que somente agora a geração Z,
que tem mais afinidade com tecnologia, está entrando nos planos de previdência
complementar. A maioria dos participantes pertence a gerações anteriores, com
cultura possivelmente mais analógica. Mas essa visão é criticada por Marcio
Pires, da EnergisaPrev.
“A
tecnologia traz mais precisão e agilidade, permite fazer mais com muito menos
custo e alta assertividade. Além disso, temos de olhar as soluções para quem
está chegando, caso contrário eles nem entram. Essa cultura existe porque
trabalhamos com um horizonte muito longo. Mas não pode servir como desculpa
para não implantarmos novidades”, comenta Pires.
Eder Carvalhaes concorda. “Não fazer também tem seus custos. E é preciso considerar que as startups já investiram no desenvolvimento da solução. Ou seja, já atravessaram o caminho das pedras e vão diluir os custos entre vários clientes cobrando de cada um apenas uma fração do investimento que fizeram”.
O que pode ser agregado
Além da
modernização da interface, que confere mais agilidade nas operações, as
startups podem agregar mais às entidades de previdência privada fechadas em
termos de produtos e serviços. Atualmente, suas operações oferecem
credibilidade, novos produtos e competência técnica. E as pensiontechs
podem possibilitar que os clientes sejam o centro das decisões, que os produtos
sejam personificados e que o crédito esteja presente na jornada financeira.
No
campo da tecnologia e inovação, as startups podem contribuir com o
compartilhamento do custo de desenvolvimento, com soluções ágeis “time to
market”, com tecnologia humanizada, inteligência de dados, forma colaborativa e
custos variáveis.
“Tudo isso e muito mais. Podemos entregar
soluções interativas e intuitivas, gerar maior conexão com o público mais
jovem, criar soluções viáveis para entidades menores, além da ampliação do
ecossistema de previdência que envolve marketplace mercantil, cashback efetivo,
crédito ágil e todos os tipos de seguros, como saúde, para pets, para veículos,
entre outros”, completa Alexandre Teixeira.
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