O ano de 2021 tem sido marcado por grandes
desafios, seja nas questões sanitárias com o enfrentamento da pandemia de
covid-19, ou na geopolítica internacional com a retomada do poder no
Afeganistão pelo grupo extremista Talebã. Além disso, notícias a respeito de
eventos climáticos extremos como chuvas torrenciais na Rússia e China, fortes
ondas de calor no Canadá e EUA, e o Brasil vivenciando um cenário de extremos,
dividido entre as piores estiagens e geadas dos últimos 100 anos, chamam cada
vez mais a atenção da comunidade científica e da população de um modo geral.
Essas questões se tornam ainda mais preocupantes quando analisamos o relatório
do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), um órgão da ONU,
denominado “Climate Change 2021: The Physical Science Basis”. Segundo
António Guterres, secretário-geral da ONU, o estudo apresenta um caráter de
“código vermelho”, que na linguagem militar significa uma espécie de punição
para quem descumpre as regras impostas pela corporação, como se o planeta
estivesse punindo a humanidade com as consequências das mudanças climáticas
globais.
É importante observar que as discussões ambientais
são consideradas recentes, ganhando contornos de interesse internacional apenas
no fim dos anos 60, seja pelo início das discussões no âmbito da política
internacional ou como bandeira de movimentos ambientalistas que se difundiram
no mundo. Em 1978, com o relatório Brundtland surge a necessidade de se
(re)pensar nosso modelo civilizatório, pautado na ideia de “desenvolvimento
sustentável”, que tem estado sempre presente em conferências internacionais,
buscando um desenvolvimento que seja ambientalmente suportável, economicamente
viável e socialmente justo.
Deve-se ressaltar que o IPCC é um painel de
especialistas que atua há mais de 30 anos construindo uma base científica
sólida a respeito das mudanças climáticas globais, sendo que o último relatório
foi baseado numa revisão de mais de 14 mil artigos científicos e contou com a
colaboração de 234 especialistas de 66 países - colocando uma “pá de cal” sobre
qualquer argumento negacionista ou dúvida a respeito do papel do ser humano
como agente das mudanças climáticas. O cenário alarmante evidenciado no novo
relatório do IPCC reforça a necessidade de ações rápidas e conjuntas entre os
países para desacelerar tais mudanças, que se apresentam hoje como “sem
precedentes”. Além de afirmar pela primeira vez que o ser humano é responsável
direto pelas mudanças do clima, foi possível quantificar a “interferência
antrópica”. Os dados do relatório apontam uma elevação da temperatura em torno
de 1,07 °C, que pode ser de 1,5 °C a 2 °C nesse século caso não ocorra uma
mudança drástica em nossa sociedade. Cada uma das últimas quatro décadas foi
sucessivamente mais quente do que qualquer outra que as precedeu desde 1850.
Uma prova do impacto da elevação da temperatura do
planeta é a maior ocorrência dos chamados “eventos climáticos extremos” como
chuvas torrenciais, furacões e tufões, ondas de calor que têm se tornado cada
vez mais frequentes e intensas, além do aumento da desertificação, gerando os
chamados refugiados do clima, populações que são obrigadas a deixar seu local
de origem de maneira temporária ou permanente, por conta de eventos climáticos
– afetando seriamente seu estilo de vida, principalmente o acesso à água e o
desenvolvimento agrícola, ou até mesmo, gerando risco de vida, como observado
em Porto Rico ou no Haiti, áreas fortemente afetadas por furacões. Esse grupo é
quatro vezes maior do que o de refugiados vítimas de conflitos políticos ou
perseguição religiosa.
Discutir mudanças climáticas globais é uma tarefa
de sobrevivência e urgente para o ser humano. Passa por um esforço político,
entre chefes de Estado, empresas e ONGs, além dos contínuos investimentos em
pesquisa, desenvolvimento de novas tecnologias, busca por novas fontes de
energia renováveis e limpas, e a redução da queima de combustíveis fósseis que
liberam grandes quantidades de dióxido de carbono na atmosfera, intensificando
o efeito estufa, e, por consequência, gerando o aquecimento global. Eis o
grande desafio dos nossos tempos!
Eduardo
Berkenbrock Lopes - Geógrafo e professor de Geografia do Colégio Positivo.
eduardo.lopes@colegiopositivo.com.br
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