Níveis da substância em crianças com diagnóstico de
TDAH é quase 5 vezes maior
O TDAH é um transtorno do neurodesenvolvimento muito
comum e atinge, aproximadamente, de 5 a 11% das crianças em idade escolar.
Entretanto, até hoje as causas específicas do TDAH não são completamente
compreendidas pela medicina.
Mas, um novo estudo, publicado no Journal of
Child Neurology, mostrou que o
desenvolvimento do TDAH pode ter ligação com alterações no sistema imunológico,
mais especificamente com níveis elevados de uma citocina pró-inflamatória, a
interleucina-6 (IL-6).
O objetivo da pesquisa foi medir o nível sérico da
interleucina-6 e estudar a sua correlação com a gravidade dos sintomas no TDAH.
A pesquisa foi feita com 60 crianças com diagnóstico de TDAH e 60 crianças sem
o diagnóstico (grupo controle). O nível sérico da interleucina-6 nas crianças
com TDAH foi de 22,35 e no grupo controle foi de 5,44. Um número quase cinco
vezes maior.
Papel da Interleucina-6 no sistema nervoso
Segundo a neuropediatra Dra. Andrea Weinmann,
estudos anteriores já haviam levantado algumas hipóteses de que alterações no
sistema imunológico poderiam levar a uma inflamação crônica do cérebro. “Alguns
marcadores inflamatórios estão presentes em alguns distúrbios
neuropsiquiátricos. Outro ponto é que alguns genes relacionados ao TDAH possuem
funções imunológicas que alteram a sinalização inflamatória no cérebro".
“O que poucas pessoas sabem é que a interleucina-6 é
fundamental para a homeostase (pleno funcionamento) do sistema nervoso, assim
como para o desenvolvimento normal dos neurônios e das células da glia, que
auxiliam e dão suporte para o funcionamento do sistema nervoso. Porém, quando
produzida em excesso, a IL-6 pode afetar o desenvolvimento cerebral nas
crianças”, explica Dra. Andrea.
A especialista explica que o aumento dos níveis
séricos da interleucina-6 pode alterar as vias neurais do cérebro em
desenvolvimento, especialmente no que diz respeito à memória e à atenção .
“Isso porque esta citocina interfere na neurogênese
(formação dos neurônios) e na plasticidade cerebral (capacidade de criação de
novas redes neurais), principalmente nas regiões do córtex pré-frontal e do
hipocampo. Portanto, a hipótese é que níveis elevados da IL-6 podem participar
da origem do TDAH devido a essas alterações”, comenta Dra. Andrea.
Outros impactos do excesso da IL-6
A neuropediatra cita que o excesso da interleucina-6
também pode afetar a liberação de alguns neurotransmissores, potencializando o
efeito excitatório e diminuindo o efeito inibitório. “Esse é um mecanismo que
pode explicar a hiperatividade, por exemplo, um dos sintomas do TDAH. Também
altera o tempo de reação e a memória de trabalho”.
Alguns estudos de imagem de pacientes com TDAH
demonstram um menor volume cerebral e da massa cinzenta, especialmente nas
regiões do córtex pré-frontal e dos núcleos basais, responsáveis por diversas
funções, como emoções, cognição, coordenação motora e comportamento, entre
outras. “Essas alterações de imagem podem ter relação com a interleucina-6, que
afetaria, portanto, o desenvolvimento normal do cérebro”, explica Dra. Andrea.
Por fim, outra descoberta é que níveis elevados da
interleucina-6 acarretam em uma diminuição da atividade neuronal no cingulado
anterior e no córtex pré-frontal. “Essas áreas do cérebro estão diretamente
envolvidas na atenção, na inibição do comportamento e na resistência à
distração. Mudanças no funcionamento do córtex pré-frontal são evidentes em
crianças e em adultos com TDAH”, ressalta a neuropediatra.
Relevância do estudo
“Uma vez que a interleucina-6 pode ter ligação com o
desenvolvimento do TDAH, é possível usar substâncias para reduzir os níveis da
IL-6 no organismo. Já há estudos que mostram que suplementos de ômega-3, por
exemplo, melhoram a desatenção e a hiperatividade em algumas crianças com
diagnóstico de TDAH. Uma das explicações que é o ômega-3 inibe a síntese das
citocinas inflamatórias”, diz Dra. Andrea.
“Finalmente, os resultados também dão aos médicos uma
nova abordagem no tratamento do TDAH, visando, principalmente, avaliar a
imunidade dos pacientes e usar recursos terapêuticos que possam atuar para
melhorar e equilibrar o sistema imunológico”, encerra a neuropediatra.
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