No
Dia das Crianças, celebrado em 12 de outubro, muito se fala sobre presentes e
consumo, mas pouco se reflete sobre a essência da data: o brincar. Para além da
diversão, a brincadeira é uma das principais ferramentas para o desenvolvimento
emocional e social das crianças.
De
acordo com a psicóloga e neuropsicóloga Tatiana Serra, o ato de brincar é um
verdadeiro “laboratório da vida”, no qual as crianças aprendem a lidar com
sentimentos, frustrações, conquistas e relações.
“A
inteligência emocional, que tanto valorizamos nos adultos, começa a ser
construída na infância, e é no brincar que a criança ensaia situações do mundo
real de forma segura”, explica.
O papel da
brincadeira na regulação emocional: criatividade, memória e empatia
Brincadeiras
de faz de conta, jogos em grupo e até atividades físicas simples, como correr
ou pular corda, ajudam as crianças a entender regras, compartilhar, esperar a
vez e lidar com perdas.
“Quando
a criança perde em um jogo, por exemplo, ela vivencia a frustração e, com a
mediação de um adulto, pode aprender a lidar com esse sentimento de forma
saudável. Isso é inteligência emocional em formação”, destaca Tatiana.
Pesquisas
em neurociência apontam que o brincar ativa áreas cerebrais ligadas à
criatividade, à memória e à empatia. Para Tatiana Serra, esse é um ponto
crucial:
“Crianças
que têm espaço para brincar livremente, sem excesso de direcionamentos ou tecnologia,
desenvolvem maior autonomia e capacidade de resolver problemas.”
Brincar em
família: vínculo e saúde mental
A especialista
também alerta que, em tempos de telas, é fundamental que pais e responsáveis se
envolvam nas brincadeiras.
“O melhor presente
no Dia das Crianças é o tempo compartilhado. Brincar junto cria memórias
afetivas, fortalece vínculos e transmite segurança emocional — bases que vão
sustentar a vida adulta dessa criança”, afirma.
O olhar
pedagógico: brincar livre, brincar estruturado e “trabalho”
Na
perspectiva pedagógica, o brincar também é parte central do crescimento. Para a
pedagoga Mariana Ruske, fundadora da Senses Montessori School, a infância é um
momento em que aprender e brincar se entrelaçam. No método Montessori, isso acontece
de três formas principais:
- Brincar livre, quando a criança explora de forma espontânea,
criando regras próprias e deixando a imaginação fluir.
- Brincar estruturado, em que há um direcionamento leve como jogos de
construção ou de regras simples.
- “Trabalho”, conceito usado por Maria Montessori para descrever a
dedicação intensa e prazerosa em atividades escolhidas pela própria
criança, como cuidar de uma planta ou organizar blocos.
“Essas
três experiências se complementam. O brincar livre abre portas para a
criatividade, o estruturado desenvolve habilidades específicas e o trabalho
fortalece a concentração e a autonomia. Tudo isso ajuda a criança a construir
disciplina interna e autoestima de forma natural”, explica Mariana.
Para
a pedagoga, a principal lição é que o brincar não deve ser visto como algo
secundário, mas como parte da formação integral da criança.
“Quando
respeitamos o tempo da infância, damos espaço para que ela cresça explorando,
criando e se desafiando. Esse é o verdadeiro poder do brincar”, conclui.
Neste
Dia das Crianças, especialistas reforçam: mais do que presentes, brincar é a
base da inteligência emocional, da autonomia e das memórias que a criança
levará para toda a vida.
Brincadeiras
de criança antigas estimulam a inteligência
A
dica do Dr. Fernando Gomes, médico neurocirurgião, neurocientista e professor
livre docente da Faculdade de Medicina da USP, é voltar no tempo das
brincadeiras de antigamente e compreender como elas podem estimular os mais
diversos tipos de inteligência. “Quando comparamos amarelinha, pega-pega, par
ou ímpar, telefone sem fio, entre outras, com o mundo atual que é muito mais
on-line, conseguimos avaliar o quanto o mundo atual das telas comprometer o
desenvolvimento do cérebro”, avisa o médico.
Algumas
brincadeiras bem simples, fáceis de produzir e de brincar podem auxiliar na
educação das crianças e cada uma delas estimula um tipo de inteligência
especifica e as habilidades mentais. São elas:
- Stop, telefone sem fio ou trava língua: Aqui a inteligência linguística
e comunicação são estimuladas para potencializar matérias escolares como
português e inglês;
- O que, o que é? Pedra, papel e tesoura, par ou ímpar e jogo da
velha: Promovem a inteligência lógico matemática e melhoram as habilidades
com fazer contas;
- Esconde-esconde ou bola de gude: Tudo o que engloba a inteligência
espacial, aquelas que envolvem noção de espaço, melhoram o conhecimento
para andar de bicicleta e até dirigir no futuro, já que estruturas profundas
do cérebro, como cerebelo e gânglios da base, são utilizadas nestas
brincadeiras;
- Perna de lata, jogar amarelinha, cama de gato, pular corda,
elástico, andar de carrinho de rolimã ou de pega-pega: Como mexer com o
corpo físico desperta a habilidade motora, a inteligência corporal
sinestésica é trabalhada nestas brincadeiras que, além disso tudo, ainda
queimam calorias e pode ser uma boa introdução ao esporte;
- Bater bafo (bater figurinhas): Estimulam a inteligência emocional;
- Colecionar figurinhas: A memória, a atenção e outras habilidades
sociais são saudavelmente provocadas com esse hábito que aciona o circuito
do prazer;
- Ter um pet: Trabalha a empatia, desenvolve sentimentos e emoções
além de aquecer as habilidades sociais;
- Empinar pipa: Essa brincadeira envolve vários processos desde a
psicomotrocidade ao montar a pipa, compreender o mundo físico como o vento
que fará a pipa voar e assim, a inteligência física e interpessoal são
estimuladas;
- Vivo ou morto, gato-mia e passa anel: Ponderar atitudes provocam o
controle inibitório nesses tipos de brincadeiras que ainda estimulam a
atenção.
Dr Fernando Gomes - Professor Livre Docente de Neurocirurgia do Hospital das Clínicas de SP com mais de 2 milhões de seguidores. Há 12 anos atua como comunicador, já tendo passado pela TV Globo por seis anos como consultor fixo do programa Encontro com Fátima Bernardes (2013 a 2019), por um ano (2020) na TV Band no programa Aqui na Band como apresentador do quadro de saúde “E Agora Doutor?” e dois anos (2020 a 2022) como Corresponde Médico da TV CNN Brasil. Desde 2020 comanda seu programa semanal no Youtube ‘Olho Clínico com Dr. Fernando Gomes’ Link. É também autor de 10 livros de neurocirurgia e comportamento humano. Professor Livre Docente de Neurocirurgia, com residência médica em Neurologia e Neurocirurgia no Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP, é neurocirurgião em hospitais renomados e também coordena a unidade de ambulatório relacionado a doenças do envelhecimento no Hospital das Clínicas.
drfernandoneuro
Tatiana Serra - psicóloga e neuropsicóloga - CRP: 06/123778 - Neuropsicóloga pelo Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo (HCFMUSP), graduada em Psicologia pela Universidade Paulista (2014), analista do Comportamento pela Universidade de São Paulo (USP). Experiência de mais de 10 anos em Análise do Comportamento e Transtorno do Espectro do Autismo e desenvolvimento de famílias e equipe.
Link
Mariana Ruske - Pedagoga da Senses Montessori School, pedagoga,
fundadora da Senses Montessori School, referência em bilinguismo e educação
Montessori no Brasil. Sua trajetória inclui formações em engenharia e
astrofísica antes de encontrar sua vocação na pedagogia, impulsionada pela
paixão pelo cérebro humano e seu desenvolvimento. Palestrante e ativista,
dedica-se a disseminar informações sobre a proteção infantil contra abuso e
violência. Defende que a educação infantil é a base do futuro e vê na Pedagogia
Científica de Maria Montessori a ferramenta ideal para um desenvolvimento
integral.