A gordura abdominal é a última a responder ao
emagrecimento porque depende de metabolismo, hormônios e preservação de massa
magra e não apenas de calorias
A
frustração de ver a balança descer enquanto a barriga permanece igual tem
explicação. Segundo a nutricionista esportiva Alice Paiva, especializada em
emagrecimento e reeducação alimentar, os primeiros quilos perdidos raramente
correspondem à eliminação da gordura abdominal. Nos primeiros dias de dieta, o
peso tende a cair por perda de água, redução de glicogênio e menor volume
intestinal. A gordura visceral, porém, reage de forma lenta ao déficit calórico
e exige mudanças estruturais no metabolismo para começar a diminuir.
De
acordo com Alice, a região abdominal é a mais resistente do corpo porque
funciona como um “centro metabólico”, diretamente ligado ao estresse e aos
hormônios. A gordura visceral é mais inflamatória, tem receptores que bloqueiam
sua mobilização e responde de forma sensível ao cortisol. Por isso, a pessoa
pode seguir uma dieta restrita, perder peso rapidamente e ainda assim manter a
circunferência abdominal praticamente inalterada.
A
especialista alerta que uma queda rápida na balança pode indicar outro
problema: perda de massa magra. Quando o déficit calórico é agressivo, a
proteína é insuficiente e não há treino de força, o corpo usa o músculo como
fonte de energia. O resultado é um metabolismo mais lento, menor gasto
energético diário e manutenção da gordura abdominal. “A pessoa fica mais
leve no peso, mas não necessariamente com melhor composição corporal”,
afirma.
Outro
fator que mantém gordura na região central é o estresse constante. O aumento
prolongado do cortisol altera a sensibilidade à insulina, aumenta o apetite por
carboidratos rápidos e prejudica o sono, criando um ambiente fisiológico
favorável ao acúmulo abdominal. Estudos mostram que poucas noites mal dormidas
já são suficientes para alterar hormônios ligados à fome e à saciedade, o que
impacta diretamente o processo de emagrecimento.
Para
inverter esse cenário, Alice destaca que a abordagem não deve focar apenas em
calorias, mas em qualidade e estratégia. A barriga muda quando o corpo preserva
massa magra, melhora a sensibilidade à insulina e reduz a inflamação interna.
Um plano eficaz combina ingestão adequada de proteína distribuída ao longo do
dia, rotina de treino de força e menor exposição a alimentos ultraprocessados.
O exercício aeróbio continua importante para saúde cardiovascular, mas isolado
não é suficiente para reduzir a gordura visceral.
A
nutricionista recomenda que o acompanhamento do progresso vá além da balança:
roupas mais soltas na cintura, redução da circunferência abdominal, melhora da
força, mais disposição e menos fome são indicadores mais precisos de perda real
de gordura. Segundo ela, quando esses sinais aparecem, o peso se torna apenas
um número e muitas vezes um número enganoso.
“O desafio não é perder peso, mas qualificar o emagrecimento. O foco está em perder gordura, preservar músculo e construir um metabolismo que continue funcionando a favor do corpo. A balança mostra um número; o corpo, o resultado”, conclui Alice.
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