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sexta-feira, 19 de dezembro de 2025

Informação de qualidade amplia acesso ao Papanicolau e fortalece o rastreamento do câncer de colo do útero no Brasil

 Em um país que deve registrar cerca de 17 mil novos casos de câncer de colo do útero em 2025, segundo estimativa do Instituto Nacional de Câncer (INCA), ampliar o acesso à informação qualificada é decisivo para aumentar a adesão ao exame de Papanicolau e reduzir mortes evitáveis. Mesmo podendo causar desconforto, o exame segue como protagonista do rastreamento, capaz de identificar lesões pré-câncer. Em 2025, o rastreamento foi ampliado com a incorporação pelo Ministério da Saúde do exame de DNA-HPV 

 

O Brasil deve registrar cerca de 17 mil novos casos de câncer de colo do útero em 2025, segundo estimativa do Instituto Nacional de Câncer (INCA). Diante desse cenário, ampliar o acesso à informação de qualidade é uma das estratégias mais eficazes para fortalecer o rastreamento da doença e aumentar a adesão ao exame de Papanicolau, principal ferramenta para identificar alterações celulares antes que elas venham a evoluir para câncer. Mesmo podendo causar desconforto, o exame segue como um aliado decisivo da saúde feminina e da redução de mortes evitáveis. 

O câncer de colo do útero é considerado um dos tumores mais evitáveis da Oncologia. A principal razão é a existência de métodos eficazes de prevenção e diagnóstico precoce, como a vacinação contra o papilomavírus humano (HPV) e o rastreamento periódico até então, por meio do Papanicolau. Ainda assim, a doença permanece entre as principais causas de adoecimento e morte entre mulheres no país, evidenciando que o desafio não está na ausência de recursos, mas na dificuldade de acesso, na desinformação e na baixa adesão às estratégias preventivas.

O exame de Papanicolau é indicado para o rastreamento do câncer de colo do útero e deve ser realizado regularmente por mulheres entre 25 e 65 anos. O procedimento consiste na coleta de células do colo do útero com o auxílio de um espéculo, permitindo avaliar a saúde do colo uterino e identificar alterações celulares ainda em estágios iniciais. 

Apesar de simples e amplamente disponível no Sistema Único de Saúde, o exame de rastreamento do câncer de colo de útero ainda é cercado por receios. O desconforto durante a coleta, experiências negativas em atendimentos anteriores e a falta de informação sobre a importância do exame contribuem para o afastamento de muitas mulheres do rastreamento regular. A cirurgiã oncológica Viviane Rezende de Oliveira, vice-presidente da Sociedade Brasileira de Cirurgia Oncológica (SBCO), explica que é fundamental reconhecer essas barreiras, mas sem minimizar o impacto do exame. “Eu entendo que o exame ginecológico e a coleta podem ser desafiadores e desconfortáveis, mas esse processo pode ser um divisor de águas na vida íntima de uma paciente”, afirma.

Segundo a especialista, mesmo com a incorporação de novas tecnologias, o “preventivo ginecológico” mantém seu papel central no rastreamento. “Em 2025, o rastreamento de câncer de colo de útero não deixou de ser uma prioridade", destaca. A partir dele, é possível identificar lesões pré-cancerosas ou o câncer em estágios iniciais, tanto no colo do útero quanto na vagina, o que amplia as possibilidades de tratamento com menor agressividade e melhores resultados.

A importância do rastreamento está diretamente ligada à principal causa do câncer de colo do útero, que é a infecção persistente pelo HPV, vírus sexualmente transmissível e responsável por mais de 90% dos casos da doença. Embora algumas infecções  a partir desses vírus possam  ser eliminadas espontaneamente pelo organismo, não é possível prever, sem exames de rastreio e acompanhamento médico, quais casos irão regredir e quais poderão evoluir. Em uma parcela das mulheres, a infecção persiste de forma silenciosa, levando a alterações celulares progressivas que podem se transformar em câncer ao longo dos anos. Por isso, o rastreamento regular é fundamental, pois permite identificar lesões ainda em fases iniciais, antes do desenvolvimento da doença.


Novas tecnologias de rastreamento

Avanços recentes ampliaram ainda mais a capacidade do rastreamento. A citologia em meio líquido, uma técnica mais eficiente do que o Papanicolau, permite melhor preservação do material coletado e maior precisão na análise das células. Além disso, possibilita identificar o tipo de HPV presente na amostra. “A citologia em meio líquido é capaz de identificar qual tipo de HPV a pessoa tem, inclusive se ele é de alto risco para o desenvolvimento do câncer de colo do útero, ou então de baixo risco”, explica Viviane Rezende. 

Essa informação tem impacto direto na condução clínica. “Todo o rastreio e todo o tratamento a ser indicado para a paciente depende dessa informação”, afirma a cirurgiã. Ao identificar subtipos de alto risco, é possível intensificar o acompanhamento e intervir precocemente, evitando que a doença avance para estágios que exigem tratamentos mais invasivos. “Assim, nós podemos rastrear a paciente de uma forma mais eficiente e identificar as lesões de uma forma inicial, evitando tratamentos mais agressivos”, completa. 

A incorporação do exame molecular HPV-DNA ao SUS, em 2025, reforça essa estratégia ao permitir identificar a presença do vírus de alto risco antes mesmo do surgimento de lesões pré-cancerosas. Assim, haverá um processo de transição das solicitações de Papanicolau para citologia em meio líquido e pesquisa de genotipagem DNA-HPV como prática clínica.

Importante ressaltar que o exame ginecológico é mais amplo que a coleta do preventivo e não há exame que os substitua.


Acesso desigual no país 

Apesar desses avanços, o acesso ao rastreamento ainda é desigual no Brasil. Regiões com menor infraestrutura de saúde e maiores vulnerabilidades socioeconômicas, especialmente no Norte do país, concentram taxas mais elevadas de incidência e de mortalidade. A dificuldade de acesso ao Papanicolau, somada à baixa adesão à vacinação contra o HPV, contribui para manter o câncer de colo do útero como um problema relevante de saúde pública. “Estamos diante de um cenário em que é possível o combate e controle do câncer de colo de útero, mas a equação, que parece simples, torna-se muito complexa”, avalia Viviane Rezende.

A vacinação contra o HPV é outro pilar fundamental dessa estratégia. Disponível gratuitamente no SUS desde 2014, ela é recomendada para meninas e meninos entre 9 e 14 anos e apresenta eficácia próxima de 100% quando administrada antes do contato com o vírus. Em 2024, o Ministério da Saúde adotou o esquema de dose única, ampliando o potencial de adesão. Ainda assim, a cobertura vacinal permanece abaixo do ideal para alcançar a meta da Organização Mundial da Saúde de erradicar o câncer de colo do útero como problema de saúde pública até 2030.

Mesmo com a vacinação, o rastreamento segue indispensável. Mulheres vacinadas devem realizar o exame ginecológico regularmente seguindo as diretrizes do Ministério da Saúde , já que a imunização não cobre todos os subtipos oncogênicos do HPV e não tem efeito terapêutico sobre infecções já existentes. 

Os benefícios do diagnóstico precoce são expressivos. Dados do INCA indicam que as taxas de sobrevida em cinco anos podem ultrapassar 90% quando a doença é identificada em estágios iniciais. Nesses casos, a cirurgia associada ao acompanhamento adequado oferece altas chances de cura, com menor impacto físico e emocional. Radioterapia e quimioterapia também fazem parte do arsenal terapêutico, sempre indicadas de forma individualizada.

O compromisso com a prevenção também se reflete dentro da própria cirurgia oncológica. Atualmente, uma em cada quatro pessoas associadas à Sociedade Brasileira de Cirurgia Oncológica é mulher, profissionais que, com seus exames em dia, reforçam, na prática, a importância do cuidado preventivo e da realização regular do Papanicolau, atuando como referência para pacientes e para a sociedade. Viviane Rezende conclui reforçando que outros exames, que também podem ser desconfortáveis, são essenciais para o rastreio de câncer, entre eles a mamografia, a colonoscopia e o exame de toque, todos essenciais para o diagnóstico precoce e para o aumento das chances de cura. “Se você ainda não fez, procure um especialista. A informação é poder. Proteja-se, previna-se. Esse é um bem que você pode fazer à sua saúde”.

  

Sociedade Brasileira de Cirurgia Oncológica - SBCO


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