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sábado, 20 de dezembro de 2025

Como lidar com conflitos familiares nas festas de fim de ano?

Psicóloga explica por que tensões aumentam em dezembro e como estabelecer limites sem culpa
 

As festas de fim de ano costumam carregar simbolismos fortes. Reencontros, expectativas, balanços pessoais e, ao mesmo tempo, cansaço acumulado. Nesse cenário, conflitos familiares tendem a aparecer com mais força. Segundo a psicóloga Blenda Oliveira, doutora em Psicologia pela PUC-SP, esse aumento nas tensões é comum porque “o fim do ano funciona como um amplificador emocional. Tudo que foi engolido ao longo dos meses ganha volume quando nos aproximamos da família e do encerramento de um ciclo”. 

A psicologia aponta que as festas podem reativar papéis antigos, muitas vezes pouco saudáveis, relacionados à dinâmica familiar. É comum que adultos voltem a ocupar posições infantis, ou que diferenças de valores fiquem mais evidentes. “Há famílias que evitam conflitos o ano inteiro e se veem pressionadas a parecer unidas em dezembro. Essa pressão por harmonia gera o efeito contrário”, explica Blenda. 

Uma das recomendações centrais é preparar-se emocionalmente antes dos encontros. Isso envolve reconhecer gatilhos, identificar temas sensíveis e ajustar expectativas. “Quando você aceita que sua família não será a que está na propaganda de TV, você reduz a frustração e evita cobranças irreais”, afirma a psicóloga. 

Outro ponto importante é estabelecer limites claros. Dizer não, mudar de assunto ou se afastar de conversas desgastantes são ações legítimas e protetivas. Oliveira destaca que “limite não é desrespeito, é autocuidado. Ficar em silêncio diante de comentários invasivos não significa maturidade, significa sobrecarga”. 

Durante o encontro, estratégias simples podem fazer diferença. Respiração consciente, pausas breves e observação das próprias reações ajudam a evitar respostas impulsivas. A psicóloga também sugere combinar sinais com alguém de confiança para intervir, mudar o rumo da conversa ou propor uma pausa quando o clima começar a pesar. 

As diferenças geracionais também merecem atenção. Comentários sobre carreira, aparência, relacionamentos ou estilo de vida costumam surgir sem filtro. “É essencial lembrar que a opinião do outro não define quem você é. Você não precisa se explicar para validar suas escolhas”, reforça Oliveira. 

Caso os conflitos apareçam, a recomendação é não tentar resolver tudo na hora. O clima festivo, misturado com emoções fortes, geralmente não favorece conversas profundas. “Há discussões que precisam ocorrer em outro momento, com mais calma e disposição real para escutar”, explica a psicóloga. Forçar diálogos durante a ceia tende a piorar o cenário. 

Por fim, é importante lembrar que participar das festividades é uma escolha, não uma obrigação. Em alguns casos, proteger a própria saúde mental pode significar reduzir o tempo de permanência ou até optar por uma celebração alternativa. “Cuidar de si não é egoísmo. É maturidade emocional reconhecer o que faz bem e o que ultrapassa seus limites”, conclui Blenda Oliveira. 

Com preparação emocional, limites firmes e expectativas realistas, é possível viver um fim de ano mais leve, mesmo diante de relações familiares complexas.

 

Blenda Oliveira - doutora em psicologia pela Pontifícia Universidade Católica (PUC-SP) e psicanalista pela Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo (SBPSP). É autora do livro Fazendo as pazes com a ansiedade, publicado pela Editora Nacional, que foi indicado ao Prêmio Jabuti em 2023. A especialista também palestra sobre saúde mental e autoconhecimento e vem se dedicando ao tema do envelhecimento e solidão.

 

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