Levantamento da Fully em parceria com dr.consulta, revela que, apesar do avanço das conversas sobre saúde mental, a prática ainda não acompanha o discurso; 49% dos entrevistados relatam investir acima de R$ 600 mensais em práticas de autocuidado
O novo levantamento da Fully Ecosystem, plataforma de bem-estar
pertencente ao grupo Prudential, em conjunto com o dr.consulta, revela um
contraste entre discurso e prática quando o assunto é saúde mental. Embora 67%
dos entrevistados afirmem que cuidar da mente é “extremamente importante”,
apenas 8% de fato investem em terapia, meditação ou outras formas estruturadas
de autocuidado. A pesquisa, que ouviu 1.392 pessoas, investigou como diferentes
gerações, gêneros e perfis socioeconômicos lidaram com o autocuidado ao longo
deste ano.
Entre os recortes geracionais e de gênero, os dados mostram que a
percepção de importância é ainda mais intensa entre os mais jovens, até 30
anos, e entre o grupo de 51 a 60 anos, justamente as faixas que mais
classificam a saúde mental como tema “extremamente importante”. O mesmo
movimento aparece entre as mulheres, que se destacam como o público mais
sensível e atento ao tema.
Os obstáculos invisíveis entre valorizar a saúde mental e
investir em terapia
“A contradição entre reconhecer a saúde mental como extremamente
importante e, ainda assim, não investir em terapia ou em outras práticas
estruturadas vai além do simples desinteresse. Para muitas pessoas, o acesso
permanece limitado por fatores como custo, falta de tempo, oferta restrita de
profissionais e entraves dos convênios. Soma-se a isso o estigma persistente -
a ideia de que terapia é apenas para quem está em crise ou é ‘louco’ -, além do
medo de encarar conteúdos dolorosos ou de ser julgado. Paralelamente,
observa-se uma tendência crescente de substituir o acompanhamento profissional
por formas imediatas de autocuidado, como academia, estética, viagens e
consumo, que aliviam o estresse no curto prazo, mas não necessariamente
transformam padrões emocionais. Por fim, a cultura da alta performance e a
crença de que é preciso dar conta sozinho fazem com que muitos adiem a busca
por ajuda, mesmo quando já percebem impactos significativos na qualidade de
vida”, afirma a psicóloga do dr.consulta, Cibele Pejan.
A especialista pontua que a cultura da alta performance reforça o
adiamento da ajuda, sustentada por frases como ‘não tenho tempo’ ou ‘dou conta
sozinho’. Nesse contexto, vale a síntese de Carl Rogers: ‘o curioso paradoxo é
que, quando me aceito como sou, então posso mudar’, indicando que a mudança
real exige um espaço estruturado de reconhecimento e elaboração, e não apenas
intenção ou discurso.
Definição de autocuidado
Quando os respondentes foram convidados a dizer o que significa
“autocuidado”, a resposta foi muito além de rituais ou práticas isoladas. Para 75%,
o conceito está diretamente ligado a buscar equilíbrio entre todas as áreas da
vida, revelando uma visão mais ampla e integrada do bem-estar. A saúde mental e
emocional aparece em segundo plano, citada por 13%, seguida do cuidado com o
corpo (exercícios, alimentação e sono) lembrado por 9%. Já apenas 2% associam
autocuidado a ter tempo para lazer e descanso, enquanto 1% o relaciona à
estabilidade financeira.
“Os dados reforçam a urgência de quebrarmos os tabus que ainda
cercam o autocuidado, um tema que atravessa todas as gerações”, afirma Vivian
Muniz, VP de Marketing, Produto e Customer Experience da Fully Ecosystem. “O
autocuidado tem significados múltiplos: se colocar no centro pode envolver
desde consultas médicas até momentos de lazer, como ir ao salão, encontrar
amigos ou simplesmente reservar tempo para si. Quanto mais as pessoas
compreenderem o quanto esse conceito é amplo, mais conseguirão escolher e
investir nas práticas que realmente fazem sentido para elas e, com isso, colher
benefícios reais para sua saúde e suas relações”, diz.
Investimento de tempo e dinheiro
O levantamento mostra também que o autocuidado já ocupa espaço
significativo no orçamento mensal. Quase metade dos entrevistados (49%) afirma
investir mais de R$ 600 por mês em práticas de bem-estar físico, mental ou
financeiro, um patamar que indica a consolidação do tema como prioridade.
A faixa intermediária de gastos, entre R$ 301 e R$ 600, reúne 29%,
enquanto 16% destinam entre R$ 101 e R$ 300. Apenas uma minoria deixa de investir
diretamente no autocuidado (3%) ou gasta no máximo R$ 100 por mês (2%). O
recorte etário revela ainda que os entrevistados com 51 anos ou mais são os que
mais concentram investimentos acima de R$ 600, sugerindo uma etapa da vida em
que o autocuidado ganha peso tanto pela necessidade quanto pela capacidade
financeira.
“O grande desafio é tirar o autocuidado da bolha e ampliá-lo para
toda a sociedade”, aponta Vivian. “Os dados mostram que, para muitos, investir
em bem-estar significa comprometer uma parcela significativa da renda. Por
isso, democratizar o acesso, seja por meio de informação, práticas acessíveis
ou serviços mais viáveis financeiramente, é essencial. Todos devem ter
condições reais de cuidar da saúde física, mental e emocional, independentemente
da fase da vida ou do quanto podem gastar”.
Quanto à percepção sobre o que impede os brasileiros de cuidarem
melhor da própria saúde, a pesquisa revela um obstáculo dominante: 54% dizem
não ter tempo, apontando a rotina acelerada como principal barreira ao
autocuidado. A falta de dinheiro aparece em segundo lugar, citada por 25%,
enquanto 16% admitem que a dificuldade está na falta de motivação ou
disciplina.
Neste quesito, os recortes geracionais e de gênero mostram nuances
importantes. Entre os mais jovens, até 30 anos, a desmotivação quase empata com
a questão financeira, indicando um autocuidado mais ligado ao comportamento do
que ao orçamento. Já entre os maiores de 60 anos, o desafio muda completamente:
o problema não é o tempo, mas a falta de acesso à informação e recursos. As
diferenças por gênero também são significativas: para as mulheres, a limitação
financeira é maior, chegando a 31%; já entre os homens, a falta de tempo é o
fator principal para 57%.
Motivação e frequência
Os dados mostram um público bastante ativo quando o assunto é o
cuidado com a saúde física: 81% dos entrevistados praticam atividades físicas
entre 3 e 6 dias por semana, divididos quase igualmente entre quem treina de 3
a 4 dias (40%) e 5 a 6 dias (41%). Apenas 2% declararam não praticar
exercícios, enquanto 10% disseram manter uma rotina diária. A recorrência é
consistente entre homens e mulheres, mas o recorte etário revela uma curiosidade:
entre 51 e 60 anos, há um comprometimento ainda maior com a atividade física,
com 45% se exercitando de 5 a 6 dias por semana e 12% praticando atividades
todos os dias.
A principal força que impulsiona os respondentes a cuidarem de si
é a busca por melhorar a saúde, tendo a motivação citada por 58% dos
entrevistados. Ainda assim, os dados revelam diferenças marcantes entre
gerações. Entre os mais jovens, até 30 anos, a prioridade é mais distribuída: a
saúde ainda é o fator principal, mas a manutenção da autoestima, a redução do
estresse e a sensação de controle sobre a própria vida ganham relevância.
Já na faixa dos 51 a 60 anos, a saúde é disparada a principal
motivação (69%), enquanto entre os maiores de 60 anos cresce a busca por
autonomia (32%). Nessas duas faixas, a redução do estresse aparece com menos
intensidade que entre os mais jovens.
Fully Ecosystem
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