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sexta-feira, 19 de dezembro de 2025

Lealdade emocional no lugar da gestão profissional fragiliza empresas e decisões


Em um ambiente corporativo cada vez mais pressionado por resultados, governança e decisões consistentes, cresce um problema silencioso dentro das organizações: a confusão entre relações profissionais e vínculos de lealdade emocional. Empresas que ainda operam esperando aliados, e não profissionais maduros, enfrentam ambientes frágeis, baixa qualidade de decisões e dificuldades reais de sustentação no médio e longo prazo. 

Embora líderes afirmem buscar times de alta performance, na prática muitos estruturam relações baseadas em afeto, pertencimento e proteção emocional. Esse modelo, além de comprometer resultados, já não encontra espaço no contexto atual dos negócios, que exige clareza, responsabilidade e postura séria de gestão. 

Para Mari Viana, especialista em gestão de pessoas e sócia da Gestão Consciente, a profissionalização das relações deixou de ser opcional. “As empresas vivem hoje um nível de exigência que não comporta mais decisões baseadas em lealdade pessoal. Performance sustentável exige clareza de papéis, acordos bem definidos e maturidade nas relações”, afirma.
 

Aliados não são sinônimo de equipe profissional

Segundo a especialista, o equívoco começa quando líderes confundem boa relação com vínculo de aliança. “Aliado não é sinônimo de boa relação profissional. O aliado se envolve pelo afeto, protege, evita confronto e tenta preservar o vínculo emocional. O profissional atua a partir de escopo claro, expectativas alinhadas e responsabilidade com o negócio”, explica Mari. 

O próprio significado de aliado está ligado a pactos de defesa mútua e união em torno de uma causa. Quando essa lógica é transferida para o ambiente corporativo, cria-se um cenário em que discordar se torna ameaça e confrontar decisões passa a ser interpretado como deslealdade. 

Ambientes baseados em alianças emocionais tendem a silenciar divergências importantes. “Quando líderes esperam aliados, ninguém questiona decisões equivocadas, ninguém aponta riscos reais e ninguém traz dados que contrariem a liderança. O time concorda e a empresa paga a conta depois”, alerta Mari. 

Ela destaca que aliados seguem, enquanto profissionais maduros desafiam. “O aliado busca pertencimento. O profissional busca coerência. Ele questiona processos, provoca ajustes e se orienta pelo impacto coletivo das decisões, não por afinidade pessoal”, pontua.
 

Profissionalizar relações é fortalecer pessoas

Mari reforça que profissionalização não significa frieza. “Relações profissionais saudáveis são profundamente humanas justamente porque são claras. Onde há clareza, há segurança psicológica. Onde há governança, não há espaço para jogos emocionais”, afirma. 

A especialista também chama atenção para empresas que se definem como família. Segundo ela, esse discurso frequentemente esconde baixa tolerância ao dissenso, proteção da baixa performance e punições veladas a quem questiona. Com o tempo, o ambiente se torna defensivo, politizado e improdutivo. 

Na visão da sócia da Gestão Consciente, vínculos emocionais não compensam ausência de processos e critérios. “Boa intenção não corrige falta de estrutura. Aliados caminham junto. Profissionais sustentam a jornada”, resume Mari. 

Para líderes e áreas de Recursos Humanos, o alerta é direto. “A maturidade organizacional começa quando líderes param de buscar aliados para se sentirem seguros e assumem uma postura séria de gestão, desenvolvendo profissionais capazes de pensar, confrontar, decidir e entregar”, conclui. 

No cenário atual, reforça a especialista, não há mais espaço para lealdade cega. “O que sustenta relações e resultados hoje é clareza, responsabilidade e coragem de dizer o que precisa ser dito”, finaliza.



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