Em um ambiente
corporativo cada vez mais pressionado por resultados, governança e decisões
consistentes, cresce um problema silencioso dentro das organizações: a confusão
entre relações profissionais e vínculos de lealdade emocional. Empresas que
ainda operam esperando aliados, e não profissionais maduros, enfrentam
ambientes frágeis, baixa qualidade de decisões e dificuldades reais de
sustentação no médio e longo prazo.
Embora líderes
afirmem buscar times de alta performance, na prática muitos estruturam relações
baseadas em afeto, pertencimento e proteção emocional. Esse modelo, além de
comprometer resultados, já não encontra espaço no contexto atual dos negócios,
que exige clareza, responsabilidade e postura séria de gestão.
Para Mari Viana,
especialista em gestão de pessoas e sócia da Gestão Consciente, a
profissionalização das relações deixou de ser opcional. “As empresas vivem hoje
um nível de exigência que não comporta mais decisões baseadas em lealdade
pessoal. Performance sustentável exige clareza de papéis, acordos bem definidos
e maturidade nas relações”, afirma.
Aliados não
são sinônimo de equipe profissional
Segundo a
especialista, o equívoco começa quando líderes confundem boa relação com
vínculo de aliança. “Aliado não é sinônimo de boa relação profissional. O
aliado se envolve pelo afeto, protege, evita confronto e tenta preservar o
vínculo emocional. O profissional atua a partir de escopo claro, expectativas
alinhadas e responsabilidade com o negócio”, explica Mari.
O próprio
significado de aliado está ligado a pactos de defesa mútua e união em torno de
uma causa. Quando essa lógica é transferida para o ambiente corporativo,
cria-se um cenário em que discordar se torna ameaça e confrontar decisões passa
a ser interpretado como deslealdade.
Ambientes baseados
em alianças emocionais tendem a silenciar divergências importantes. “Quando
líderes esperam aliados, ninguém questiona decisões equivocadas, ninguém aponta
riscos reais e ninguém traz dados que contrariem a liderança. O time concorda e
a empresa paga a conta depois”, alerta Mari.
Ela destaca que
aliados seguem, enquanto profissionais maduros desafiam. “O aliado busca
pertencimento. O profissional busca coerência. Ele questiona processos, provoca
ajustes e se orienta pelo impacto coletivo das decisões, não por afinidade
pessoal”, pontua.
Profissionalizar
relações é fortalecer pessoas
Mari reforça que
profissionalização não significa frieza. “Relações profissionais saudáveis são
profundamente humanas justamente porque são claras. Onde há clareza, há
segurança psicológica. Onde há governança, não há espaço para jogos
emocionais”, afirma.
A especialista
também chama atenção para empresas que se definem como família. Segundo ela,
esse discurso frequentemente esconde baixa tolerância ao dissenso, proteção da
baixa performance e punições veladas a quem questiona. Com o tempo, o ambiente
se torna defensivo, politizado e improdutivo.
Na visão da sócia
da Gestão Consciente, vínculos emocionais não compensam ausência de processos e
critérios. “Boa intenção não corrige falta de estrutura. Aliados caminham
junto. Profissionais sustentam a jornada”, resume Mari.
Para líderes e
áreas de Recursos Humanos, o alerta é direto. “A maturidade organizacional
começa quando líderes param de buscar aliados para se sentirem seguros e
assumem uma postura séria de gestão, desenvolvendo profissionais capazes de
pensar, confrontar, decidir e entregar”, conclui.
No cenário atual, reforça a
especialista, não há mais espaço para lealdade cega. “O que sustenta relações e
resultados hoje é clareza, responsabilidade e coragem de dizer o que precisa
ser dito”, finaliza.
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