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sábado, 20 de dezembro de 2025

Fim de ano aumenta estresse e ansiedade: especialista explica por que o período exige mais atenção à saúde mental

Metas não cumpridas, pressão por produtividade, expectativas familiares e desafios financeiros formam uma combinação que pode intensificar sintomas emocionais 

 

O fim do ano costuma ser um dos períodos de maior tensão emocional para grande parte da população. Segundo o professor de psicologia e supervisor do núcleo de apoio psicopedagógico e inclusão da Faseh, Welder Vicente, isso ocorre porque, em poucas semanas, se concentram diversos fatores de risco psicossociais: balanço de metas, sobrecarga de trabalho, mudanças na rotina, demandas familiares, eventos sociais e pressão financeira. 

O professor explica que o encerramento do ano funciona como um marcador simbólico, que leva muitas pessoas a compararem o que planejaram com o que realmente foi realizado. “Esse fechamento de ciclo desperta autocrítica, sentimentos de inadequação e, em alguns casos, um senso de fracasso”, destaca Vicente. Além disso, empresas intensificam entregas e avaliações, aumentando a sobrecarga. Ao mesmo tempo, a convivência familiar, embora afetiva para alguns, pode reativar conflitos, lutos mal elaborados, tensões e cobranças sobre escolhas de vida. O cenário se agrava com as pressões de consumo ligadas às festas, viagens e presentes. 

Para Welder Vicente, metas não cumpridas costumam ser interpretadas como falhas pessoais, desconsiderando contextos e limites reais. “A autocrítica severa é um fator central de sofrimento e está associada a maior risco de depressão e ansiedade”, explica. O acúmulo de tarefas no trabalho também intensifica a exaustão emocional e pode desencadear sintomas de burnout, como cinismo, irritabilidade e sensação de ineficácia. Já a cultura de urgência e produtividade pode comprometer o sono, aumentar o uso de álcool e outras substâncias e gerar conflitos em casa. 

De acordo com o professor, três pilares se combinam para intensificar a ansiedade no período: expectativas familiares, compromissos sociais e responsabilidades financeiras. As cobranças sobre papéis de gênero, vida afetiva, carreira e aparência podem afetar, sobretudo, mulheres, pessoas negras, pessoas LGBTQIAPN+ e quem não se encaixa no modelo tradicional de família. Festas e confraternizações, por sua vez, podem ser desgastantes para quem enfrenta ansiedade social. Somam-se ainda os custos elevados com presentes, viagens, alimentação e despesas de início de ano que geram insegurança financeira.
 

Sinais de alerta: quando buscar ajuda profissional 

O especialista reforça que o estresse deixa de ser adaptativo quando passa a comprometer a rotina. Ele enumera alguns sinais de atenção: sintomas persistentes por semanas; queda no rendimento no trabalho ou nos estudos; dificuldade de autocuidado básico; dores físicas recorrentes sem causa orgânica clara; mudanças bruscas de comportamento, como irritabilidade ou aumento no uso de substâncias; sensação de esgotamento, desesperança ou vazio; pensamentos de morte. 

“Nesses casos, a busca por psicoterapia é fundamental, e, se houver risco iminente, é necessário acionar serviços de urgência”, orienta. O professor ressalta que, embora não substituam atendimento profissional, algumas ações ajudam na prevenção e manejo do estresse: rever expectativas e adotar metas realistas; delimitar prioridades e aprender a dizer não; manter cuidados básicos com sono, alimentação e movimento; estabelecer limites nas relações familiares; planejar financeiramente com realismo; cultivar redes de apoio e espaços de expressão emocional; praticar exercícios de respiração, mindfulness ou outras formas de regulação emocional. 

Para Vicente, a principal mensagem é reconhecer que o encerramento do ano não exige perfeição, apenas presença, cuidado e limites saudáveis. “Não é o calendário que adoece. É a forma como nos relacionamos com ele”, conclui.

 

Faseh - integrante do Ecossistema Ânima

 

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