Metas não cumpridas, pressão por produtividade,
expectativas familiares e desafios financeiros formam uma combinação que pode
intensificar sintomas emocionais
O
fim do ano costuma ser um dos períodos de maior tensão emocional para grande
parte da população. Segundo o professor de psicologia e supervisor do núcleo de apoio psicopedagógico e inclusão da Faseh,
Welder Vicente, isso ocorre porque, em poucas semanas, se concentram diversos
fatores de risco psicossociais: balanço de metas, sobrecarga de trabalho,
mudanças na rotina, demandas familiares, eventos sociais e pressão financeira.
O
professor explica que o encerramento do ano funciona como um marcador
simbólico, que leva muitas pessoas a compararem o que planejaram com o que
realmente foi realizado. “Esse fechamento de ciclo desperta autocrítica,
sentimentos de inadequação e, em alguns casos, um senso de fracasso”, destaca
Vicente. Além disso, empresas intensificam entregas e avaliações, aumentando a
sobrecarga. Ao mesmo tempo, a convivência familiar, embora afetiva para alguns,
pode reativar conflitos, lutos mal elaborados, tensões e cobranças sobre
escolhas de vida. O cenário se agrava com as pressões de consumo ligadas às
festas, viagens e presentes.
Para
Welder Vicente, metas não cumpridas costumam ser interpretadas como falhas
pessoais, desconsiderando contextos e limites reais. “A autocrítica severa é um
fator central de sofrimento e está associada a maior risco de depressão e
ansiedade”, explica. O acúmulo de tarefas no trabalho também intensifica a
exaustão emocional e pode desencadear sintomas de burnout, como cinismo, irritabilidade
e sensação de ineficácia. Já a cultura de urgência e produtividade pode
comprometer o sono, aumentar o uso de álcool e outras substâncias e gerar
conflitos em casa.
De
acordo com o professor, três pilares se combinam para intensificar a ansiedade
no período: expectativas familiares, compromissos sociais e responsabilidades
financeiras. As cobranças sobre papéis de gênero, vida afetiva, carreira e
aparência podem afetar, sobretudo, mulheres, pessoas negras, pessoas LGBTQIAPN+
e quem não se encaixa no modelo tradicional de família. Festas e
confraternizações, por sua vez, podem ser desgastantes para quem enfrenta
ansiedade social. Somam-se ainda os custos elevados com presentes, viagens,
alimentação e despesas de início de ano que geram insegurança financeira.
Sinais de alerta: quando buscar ajuda profissional
O
especialista reforça que o estresse deixa de ser adaptativo quando passa a
comprometer a rotina. Ele enumera alguns sinais de atenção: sintomas
persistentes por semanas; queda no rendimento no trabalho ou nos estudos;
dificuldade de autocuidado básico; dores físicas recorrentes sem causa orgânica
clara; mudanças bruscas de comportamento, como irritabilidade ou aumento no uso
de substâncias; sensação de esgotamento, desesperança ou vazio; pensamentos de
morte.
“Nesses
casos, a busca por psicoterapia é fundamental, e, se houver risco iminente, é
necessário acionar serviços de urgência”, orienta. O professor ressalta que,
embora não substituam atendimento profissional, algumas ações ajudam na
prevenção e manejo do estresse: rever expectativas e adotar metas realistas;
delimitar prioridades e aprender a dizer não; manter cuidados básicos com sono,
alimentação e movimento; estabelecer limites nas relações familiares; planejar
financeiramente com realismo; cultivar redes de apoio e espaços de expressão
emocional; praticar exercícios de respiração, mindfulness ou outras formas de
regulação emocional.
Para
Vicente, a principal mensagem é reconhecer que o encerramento do ano não exige
perfeição, apenas presença, cuidado e limites saudáveis. “Não é o calendário
que adoece. É a forma como nos relacionamos com ele”, conclui.
Faseh - integrante do Ecossistema Ânima
Nenhum comentário:
Postar um comentário