Sobrecarga acumulada, metas finais e pressões sociais elevam índices de estresse e exaustão em dezembro, aponta psicóloga
O
fim do ano costuma trazer comemorações, férias e expectativas renovadas, mas,
nos bastidores, dezembro também se tornou o mês em que mais aparecem sinais de
esgotamento emocional entre profissionais de diferentes setores. Pesquisas
recentes reforçam essa percepção: segundo o Where’s Your Head At? 2024, 72% dos
trabalhadores brasileiros relataram aumento de estresse crônico no último
trimestre do ano, e 64% afirmaram sentir queda significativa de energia nas
semanas que antecedem o Natal. Já um levantamento da Organização Mundial da
Saúde (OMS) mostra que o Brasil segue entre os países com maiores índices de
transtornos de ansiedade do mundo, criando terreno fértil para quadros de
burnout.
Para a psicóloga Dra. Andrea Beltran, esse pico de sintomas não é coincidência, mas reflexo direto da combinação entre sobrecarga acumulada e o ritmo acelerado do último bimestre.
“Dezembro funciona como uma peneira emocional. Tudo aquilo que foi sendo
empurrado ao longo do ano, metas não cumpridas, conflitos não resolvidos, falta
de descanso e alta demanda, reaparece com força. É comum que o corpo dê sinais
mais intensos justamente quando as pessoas acreditam que ‘precisam dar conta de
tudo antes do ano acabar’”, afirma.
Pressão
profissional e pessoal atuam ao mesmo tempo
Metas de fechamento, entregas acumuladas, avaliações de
desempenho, eventos corporativos, reorganização financeira e, paralelamente,
exigências sociais e familiares típicas do período elevam a sensação de “vida
em modo acelerado”.
Uma pesquisa da MindMiners mostra que 58% dos brasileiros dizem se sentir mais
pressionados no trabalho em dezembro, e 47% relatam piora do sono por
preocupações profissionais e pessoais.
Segundo a Dra. Andrea, esse acúmulo produz um ciclo contínuo:
“O corpo entra em alerta prolongado, quase sem pausa. Esgotamento não acontece
de um dia para o outro, ele é construído silenciosamente. O fim do ano só expõe
o limite que muitas pessoas já ultrapassaram meses antes.”
Sintomas
mais frequentes em dezembro
Entre os sinais mais comuns identificados em consultório nesse
período, a psicóloga explica que muitos pacientes relatam queda brusca de
energia e sensação de exaustão persistente, acompanhadas de irritabilidade e a
percepção de estar “no limite”. Também são frequentes lapsos de memória,
dificuldade de concentração e tomada de decisões mais lenta, além de alterações
significativas no sono, tanto insônia quanto sono excessivo. A perda de
interesse por atividades de lazer, somada a dores musculares, tensão no pescoço
e dores de cabeça recorrentes, aparece como indicativo claro de sobrecarga. Em
quadros mais avançados, podem surgir sentimentos de fracasso, despersonalização
e dificuldade para executar tarefas simples, características clássicas do
burnout.
A
cultura do “fechamento perfeito” intensifica o problema
A crença de que é preciso encerrar o ano “com tudo resolvido”
alimenta um padrão de sobrecarga emocional. Reuniões extras, jornadas
estendidas, pressão por resultados e múltiplos compromissos sociais fazem com
que muitos ignorem sinais de exaustão física e mental.
“O maior risco é naturalizar o estresse como parte do fim do ano.
Quando isso se torna rotina, o burnout deixa de ser exceção e passa a ser
consequência previsível. É fundamental entender limites antes que o corpo
imponha uma parada obrigatória”, reforça a psicóloga.
Como
reduzir o risco de esgotamento nos últimos meses do ano
Para a Dra. Andrea Beltran, algumas ações imediatas podem ajudar a
reduzir o impacto desse período. Ela destaca a importância de estabelecer
prioridades reais e evitar metas inalcançáveis antes do recesso, além de
programar pausas ao longo do dia, mesmo em semanas de alta demanda. A
negociação de prazos, quando possível, também é uma ferramenta essencial para
não assumir mais do que é viável. Outro ponto é criar limites claros entre trabalho
e vida pessoal, algo ainda mais crítico para quem está em home office. Por fim,
a psicóloga reforça que buscar apoio profissional ao perceber queda prolongada
de energia, irritabilidade ou sensação constante de incapacidade é uma medida
preventiva fundamental.
O alerta para 2026Com a expansão do esgotamento emocional entre brasileiros, especialmente entre mulheres e profissionais jovens, segundo dados da OMS, a psicóloga avalia que 2026 deve começar com maior procura por acompanhamento psicológico e por políticas internas de bem-estar nas empresas.
“As organizações perceberam que produtividade não se sustenta sem
saúde mental. O fim do ano de 2025 já sinaliza isso: pessoas esgotadas não
conseguem começar o próximo ciclo com clareza ou motivação. O cuidado precisa
deixar de ser emergencial e se tornar contínuo”, conclui a psicóloga.

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