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sábado, 20 de dezembro de 2025

Explosão de burnout no fim do ano expõe esgotamento silencioso dos brasileiros

 

Sobrecarga acumulada, metas finais e pressões sociais elevam índices de estresse e exaustão em dezembro, aponta psicóloga

 

O fim do ano costuma trazer comemorações, férias e expectativas renovadas, mas, nos bastidores, dezembro também se tornou o mês em que mais aparecem sinais de esgotamento emocional entre profissionais de diferentes setores. Pesquisas recentes reforçam essa percepção: segundo o Where’s Your Head At? 2024, 72% dos trabalhadores brasileiros relataram aumento de estresse crônico no último trimestre do ano, e 64% afirmaram sentir queda significativa de energia nas semanas que antecedem o Natal. Já um levantamento da Organização Mundial da Saúde (OMS) mostra que o Brasil segue entre os países com maiores índices de transtornos de ansiedade do mundo, criando terreno fértil para quadros de burnout. 

Para a psicóloga Dra. Andrea Beltran, esse pico de sintomas não é coincidência, mas reflexo direto da combinação entre sobrecarga acumulada e o ritmo acelerado do último bimestre.

“Dezembro funciona como uma peneira emocional. Tudo aquilo que foi sendo empurrado ao longo do ano, metas não cumpridas, conflitos não resolvidos, falta de descanso e alta demanda, reaparece com força. É comum que o corpo dê sinais mais intensos justamente quando as pessoas acreditam que ‘precisam dar conta de tudo antes do ano acabar’”, afirma.
 

Pressão profissional e pessoal atuam ao mesmo tempo

Metas de fechamento, entregas acumuladas, avaliações de desempenho, eventos corporativos, reorganização financeira e, paralelamente, exigências sociais e familiares típicas do período elevam a sensação de “vida em modo acelerado”.

Uma pesquisa da MindMiners mostra que 58% dos brasileiros dizem se sentir mais pressionados no trabalho em dezembro, e 47% relatam piora do sono por preocupações profissionais e pessoais.

Segundo a Dra. Andrea, esse acúmulo produz um ciclo contínuo:
“O corpo entra em alerta prolongado, quase sem pausa. Esgotamento não acontece de um dia para o outro, ele é construído silenciosamente. O fim do ano só expõe o limite que muitas pessoas já ultrapassaram meses antes.”
 

Sintomas mais frequentes em dezembro

Entre os sinais mais comuns identificados em consultório nesse período, a psicóloga explica que muitos pacientes relatam queda brusca de energia e sensação de exaustão persistente, acompanhadas de irritabilidade e a percepção de estar “no limite”. Também são frequentes lapsos de memória, dificuldade de concentração e tomada de decisões mais lenta, além de alterações significativas no sono, tanto insônia quanto sono excessivo. A perda de interesse por atividades de lazer, somada a dores musculares, tensão no pescoço e dores de cabeça recorrentes, aparece como indicativo claro de sobrecarga. Em quadros mais avançados, podem surgir sentimentos de fracasso, despersonalização e dificuldade para executar tarefas simples, características clássicas do burnout.
 

A cultura do “fechamento perfeito” intensifica o problema

A crença de que é preciso encerrar o ano “com tudo resolvido” alimenta um padrão de sobrecarga emocional. Reuniões extras, jornadas estendidas, pressão por resultados e múltiplos compromissos sociais fazem com que muitos ignorem sinais de exaustão física e mental.

“O maior risco é naturalizar o estresse como parte do fim do ano. Quando isso se torna rotina, o burnout deixa de ser exceção e passa a ser consequência previsível. É fundamental entender limites antes que o corpo imponha uma parada obrigatória”, reforça a psicóloga.
 

Como reduzir o risco de esgotamento nos últimos meses do ano

Para a Dra. Andrea Beltran, algumas ações imediatas podem ajudar a reduzir o impacto desse período. Ela destaca a importância de estabelecer prioridades reais e evitar metas inalcançáveis antes do recesso, além de programar pausas ao longo do dia, mesmo em semanas de alta demanda. A negociação de prazos, quando possível, também é uma ferramenta essencial para não assumir mais do que é viável. Outro ponto é criar limites claros entre trabalho e vida pessoal, algo ainda mais crítico para quem está em home office. Por fim, a psicóloga reforça que buscar apoio profissional ao perceber queda prolongada de energia, irritabilidade ou sensação constante de incapacidade é uma medida preventiva fundamental.

 

O alerta para 2026Com a expansão do esgotamento emocional entre brasileiros, especialmente entre mulheres e profissionais jovens, segundo dados da OMS, a psicóloga avalia que 2026 deve começar com maior procura por acompanhamento psicológico e por políticas internas de bem-estar nas empresas. 

“As organizações perceberam que produtividade não se sustenta sem saúde mental. O fim do ano de 2025 já sinaliza isso: pessoas esgotadas não conseguem começar o próximo ciclo com clareza ou motivação. O cuidado precisa deixar de ser emergencial e se tornar contínuo”, conclui a psicóloga.

 

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