O assédio sexual é uma expressão da violência caracterizada como manifestação sensual ou sexual, alheia à vontade da pessoa a quem se dirige. Como já é de conhecimento – por meio das pesquisas e análises em ciências sociais –, esse triste fenômeno se alimenta de crenças misóginas, da hipersexualização e da falta histórica de conscientização e combate às violências de gênero nos seus mais diversos contextos. As vítimas mais vulneráveis são as mulheres negras, mas a violência sexual e o assédio definitivamente não se restringem a um único público no Carnaval.
De acordo com a pesquisa realizada pelo Instituto
Locomotiva em parceria com a empresa QuestionPro, sete em cada 10 brasileiros
têm medo de sofrer assédio no Carnaval – em torno de 50% das mulheres relatam
já terem sofrido esse tipo de violência nos festejos. Além dos alarmantes
dados, é possível observar como os estigmas negativos e distorcidos que parte
da população projeta nas características das festas carnavalescas contribuem
para um cenário que prejudica a redução de danos às vítimas de violência.
Em vista de que ainda justificam o assédio,
culpabilizando a vítima pela presença na festa, pela roupa ou por algum
comportamento considerado inadequado, é possível considerar que essa angústia e
esse medo de sofrer assédio – presentes, principalmente, entre as mulheres –
impeçam que as pessoas denunciem quando sofrem a violência. Essa conjuntura
pode fazer com que as vítimas internalizem culpa, vergonha, raiva, tristeza e
mágoa. Emoções e sentimentos que podem evoluir para quadros de pânico,
ansiedade severa, agorafobia, entre outros traumas, prejudicando diretamente as
relações com as pessoas, com o território, com a cultura e um possível
rompimento com o senso de segurança e liberdade.
Por tudo isso, é importante que as campanhas de
combate ao assédio sexual nas festas sejam intensificadas e que os mecanismos
de denúncia sejam simplificados e acolhedores. Além disso, as pessoas precisam
se engajar no combate às violências sexuais e de gênero. A saúde mental e
física de todo mundo tem a ganhar, com menos chances da angústia se juntar à
folia.
JOÃO VITOR BORGES - Psicólogo e educador social, formado pela Universidade Guarulhos e especialista em Estudos Brasileiros de Sociedade, Educação e Cultura pela Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo. Membro do Conselho do Instituto Bem do Estar, o profissional é colaborador em programação socioeducativa do Sesc São Paulo.
INSTITUTO BEM DO ESTAR |
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