Pesquisar no Blog

sábado, 29 de março de 2025

Transtorno Bipolar: uma questão de sensibilidade


Amanhã, 30 de março, é o Dia Mundial do Transtorno Bipolar, data escolhida em virtude do aniversário de Vincent Van Gogh, famoso pintor holandês que após a análise dos relatos sobre a sua vida, foi apontado como um sujeito provavelmente bipolar.

Sem tentar usurpar o lugar dos médicos na definição da doença, apresento um sucinto panorama da doença também conhecida como transtorno afetivo bipolar ou psicose maníaco-depressiva, com o objetivo de facilitar a compreensão do distúrbio. Trata-se de uma doença cujo principal sintoma são alterações de humor e as crises de mania (impulsividade, compulsões, ausência de sono, delírios e comportamentos arriscados) ou depressão.

Por ser uma doença que possui como sintomas os comportamentos extremos, acaba sendo utilizada como inspiração para várias músicas e personagens de teledramaturgia que possuem como característica a variação rápida de humor.

Uma simples procura em um aplicativo de músicas mostra que o tema é difundido socialmente, contemplando vários estilos musicais. Do funk ao pagode, as letras referenciam as pessoas com bipolaridade, principalmente as mulheres, como pessoas encrenqueiras que não sabem o que querem ou se manifestam de forma abrupta.

Uma das músicas mais populares no Brasil sobre o tema é a intitulada “Mulher Bipolar”, do grupo Molejo. A letra trata da vida de um casal em que a mulher é uma pessoa que sofre com a bipolaridade e tem uma difícil relação com o cônjuge.

Em algumas obras e, até mesmo na percepção popular, falta sensibilidade para enxergar a questão como uma doença, associando o transtorno a uma pessoa com dificuldades de relacionamento e culpada por suas ações.

Somente uma família que possui uma pessoa com bipolaridade ou pessoas próximas conhecem as dificuldades e o estigma social provocados pela doença. Uma pessoa nessa situação possui dificuldades com o mercado de trabalho, por exemplo. Elas omitem o diagnóstico por medo de não serem contratadas, o que representa um receio factível, em virtude de os empregadores optarem por não correrem o risco de terem um funcionário “em estado delirante” que pode “criar problemas” e entrar em crise. E, quando contratados, caso ocorra algum problema relacionado à doença, são demitidas.

Precisamos combater essa visão discriminatória sobre essas pessoas, que levam uma vida normal e podem ser funcionários excelentes, se tratados com terapia, acompanhamento médico, medicação adequada e vida regrada. Todavia, mesmo com tratamento, os bipolares podem entrar em crise quando submetidos a situações
extremas, como assédio moral e jornadas de trabalho excessivas.

Saindo do mercado de trabalho e indo para a questão previdenciária, existe divergência a respeito da caracterização da pessoa com transtorno bipolar como pessoa com deficiência. Na verdade, o diagnóstico depende do quão incapacitante é a doença para o indivíduo. Muitas vezes a questão é submetida ao judiciário que vai examinar caso a caso, principalmente em processos com pedido de aposentadoria por invalidez em virtude de doença grave.

Cabe à sociedade civil e ao Estado fomentarem o conhecimento sobre o tema e permitirem uma acessibilidade atitudinal no tratamento da questão. Quando pensamos em acessibilidade atitudinal, enxergamos a forma como devemos lidar com as pessoas detentoras de alguma atipicidade, como é o caso das pessoas com transtorno bipolar. Elas devem ser tratadas sem preconceitos e discriminação, sempre incluindo e empreendendo atitudes voltadas para que elas tenham uma interação em igualdade de condições.


Irineu Carvalho de Oliveira Soares -Professor de Direito Empresarial da Faculdade Presbiteriana Mackenzie Ri


Nenhum comentário:

Postar um comentário

Posts mais acessados