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segunda-feira, 31 de março de 2025

Autismo não espera, é preciso reconhecer sinais do espectro desde os primeiros meses

Especialista reforça a importância do Dia Mundial de Conscientização sobre o tema e esclarece sobre os principais pontos do TEA 

 

No limiar dos primeiros meses de vida, cada olhar e sorriso carregam um significado vital. O diagnóstico precoce do autismo é mais do que uma simples avaliação. Trata-se de uma oportunidade de transformar o futuro, garantindo intervenções que potencializam o desenvolvimento pleno da criança, segundo especialistas. 

O último censo realizado pelo IBGE em 2021 revelou que no Brasil existiam 2 milhões de pessoas autistas, cerca de 1% da populaçãoPelo Sistema de Informações Ambulatoriais (SIA), foram realizados, em 2021, 9,6 milhões de atendimentos ambulatoriais a pessoas com autismo, sendo 4,1 milhões ao público infantil com até 9 anos de idade. Apesar de recorrentes, as informações sobre o Transtorno do Espectro Autista (TEA) ainda são escassas e, com isso, o diagnóstico do espectro pode, muitas vezes, ser tardio. Então, o Dia Mundial de Conscientização do Autismo, celebrado em 2 de abril, é uma oportunidade para trazer mais visibilidade ao assunto.  

Para a psicóloga Daniela Landim, coordenadora da Versania Cuidado Infantil, em São Paulo, comportamentos como o contato visual, a resposta ao sorriso social e o gesto de apontar para objetos ou pessoas são fundamentais nessa trajetória. Quando esses sinais se ausentam, os pais recebem um alerta essencial, abrindo caminho para uma investigação que pode redefinir a história de uma vida. 

Daniela explica que os primeiros sinais de que uma criança pode estar dentro do espectro são manifestados antes mesmo de o bebê completar um ano de vida. Dessa forma, é preciso ficar atento ao contato visual. “Os bebês já fazem contato visual, procuram o olhar para interação, tem o riso social. Então, a gente faz uma gracinha, o bebê sorri de volta. Se ele não fizer isso, já é um sinal de alerta.” Outro fator que os pais devem observar é se a criança aponta. No início do desenvolvimento, apontar para pessoas e objetos é algo esperado. A falta dessa ação pode também ser um sinal de autismo e precisa ser investigado.  

Quando se trata de alimentação, os pais também precisam ficar atentos. “É normal a criança rejeitar certos alimentos, mas se ela apresentar alta seletividade e aceitar somente comidas específicas, pode ser um traço de autismo. Landim alerta também para qualquer atraso, seja ele motor, cognitivo, na fala e entre outros. “Esses sinais indicam que está na hora de buscar ajuda profissional para detectar se é autismo ou não”, explica a coordenadora. 

De acordo com Daniela, em qualquer idade, se os pais notarem que o bebê parou de ter progresso na aprendizagem ou perdeu alguma habilidade que já havia adquirido, o que é conhecido como autismo regressivo, é importante investigar o caso. 

“Pular para as conclusões não é indicado. Caso uma criança manifeste qualquer uma dessas características, o protocolo é buscar médicos que estejam familiarizados com o TEA. Neuropediatras, psiquiatria infantil e pediatras geralmente são capazes de identificar o transtorno e dar um diagnóstico certeiro. O diagnóstico precoce pode fazer muita diferença na vida de uma pessoa atípica, uma vez que desde cedo o acompanhamento pode ser iniciado”, ressalta. 

A conscientização sobre o autismo é fundamental para combater a desinformação e reduzir o preconceito enfrentado por pessoas no espectro, de acordo com a psicóloga Daniela Landim, coordenadora da Versania Cuidado Infantil, em São Paulo. Além disso, segundo ela, o conhecimento sobre o transtorno e a forma como se manifesta é um incentivo para diagnósticos precoces, permitindo que crianças e adultos tenham acesso a intervenções adequadas e maior qualidade de vida. “A data comemorativa contribui também para a inclusão, uma vez que pode educar pessoas típicas a como lidar da maneira correta com o TEA”, diz.

 

Lidar com o diagnóstico 

O autismo não é um problema, não é uma doença. Trata-se de uma forma diferente de desenvolvimento, uma neuro divergência, de acordo com a psicóloga. Explica que, ao receber o diagnóstico de TEA de um filho ou ente querido, a primeira reação, geralmente, é a incerteza. “Por ser um transtorno ainda, um pouco conhecido, muitos pais apresentam preocupações em relação ao futuro dos filhos”.  

A especialista afirma que, em um primeiro momento, é sempre difícil tranquilizar os pais, mas que felizmente o Brasil é um país que vem evoluindo muito no quesito de tratamento e conhecimento. “É importante entender que ter um filho atípico, não necessariamente diz algo sobre o seu futuro. O pensamento de que o diagnóstico acaba com a vida do seu filho e com a sua deve ser substituído por uma busca de começar a entender o que é o autismo e como fazer o melhor para a criança,” enfatiza.  

Entre os tratamentos comprovados cientificamente, a intervenção ABA é uma das abordagens mais utilizadas, focando no desenvolvimento e aquisição de habilidades. A Integração Sensorial busca ajudar indivíduos com autismo que apresentam dificuldades de processamento sensorial, ou seja, dificuldades em reagir adequadamente a estímulos como sons, luzes e toques. Já a fonoaudiologia trabalha para melhorar a comunicação verbal e vocal, ajudando no desenvolvimento da fala e linguagem. "Essas intervenções, muitas vezes usadas em conjunto, visam melhorar a comunicação, o comportamento e a integração social das pessoas autistas", diz a psicóloga.

 

Inclusão 

Ainda existem desafios significativos quando se trata de autismo. Daniela conta que a falta de conhecimento em relação ao transtorno é um desses grandes problemas, o que dificulta a adaptação de espaços públicos, a formação de profissionais e a aceitação dessas crianças em ambientes como escolas e locais de lazer. “Se uma criança autista entra no mercado, os funcionários vão saber lidar com aquela criança, se ela sair correndo e jogar as coisas no chão? Se a criança está tendo algum comportamento inadequado na padaria, as pessoas vão saber lidar com aquilo? Então, hoje em dia, há sim muita dificuldade, não só em saber o que é o autismo, mas conhecer mais sobre ele”, afirma. 

A psicóloga relata que muitos pais também têm dificuldades no acesso a diagnósticos precoces e a terapias adequadas, que são essenciais para garantir a qualidade de vida de uma criança atípica e sua família. “O preconceito e a exclusão social também acontecem. Ainda há resistência em compreender que o autismo não é uma limitação intransponível, mas uma forma diferente de desenvolvimento que exige suporte e adaptação para garantir qualidade de vida. Por esses motivos, datas como o Dia Mundial da Conscientização do Autismo são extremamente importantes”. 

Apesar das dificuldades, a especialista diz que o Brasil é um país que vem avançando em termos de legislação e políticas públicas que acolhem pessoas no espectro. Ela lembra que a Política Nacional de Proteção dos Direitos da Pessoa com Transtorno do Espectro Autista tem o objetivo de garantir direitos e inclusão para pessoas autistas em diversas áreas, como saúde, educação, trabalho e assistência social. “Essa lei define, por exemplo, a obrigatoriedade de escolas públicas e privadas de aceitarem um aluno autista e garantir acompanhamento especializado, se necessário. Além disso, garante atendimento prioritário no SUS, acesso a terapias e tratamentos adequados e direito a medicamentos e acompanhamento multiprofissional. Também proporciona o Passe livre em transportes públicos interestadual para autistas de baixa renda”.

 Outra conquista, segundo a psicóloga, foi a criação do cordão de identificação. Pessoas com TEA podem usar tanto o cordão de girassol, que define uma deficiência oculta ou cordão específico para autistas, geralmente identificado com o símbolo do quebra-cabeça. Outra prática que vem ganhando popularidade é a criação de salas sensoriais em ambientes barulhentos para pessoas autistas, como estádios de futebol e aeroportos.

 

Evento 

Com o Dia Mundial Da Conscientização do Autismo e a necessidade crescente de expandir as discussões sobre o assunto, eventos em prol de pessoas com TEA são uma forma de trazer luz à temática. No dia 6 de abril, em São Paulo, ocorrerá a Caminhada pelo Autismo 2025. Nesse evento, que acontecerá no Memorial da América Latina, milhares de pessoas se reunirão para fortalecer a conscientização sobre o autismo e lutar pela inclusão. E a Versania estará presente e será uma das patrocinadoras.  

Daniela afirma que a participação no evento, tanto dos pais como das crianças, pode ser muito enriquecedora. “O ambiente vai ter show de criança, vai ter show de adulto. Então acho que ações como essas, né, a gente faz para tentar ter a participação da família na sociedade, sair um pouco da vida de intervenção, de só ficar na clínica”, afirma.

 

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