Psicanalista lembra que é importante ter autocontrole e saber o próprio valor
Nos últimos tempos, estamos sendo surpreendidos, quase todos os dias, por muitas demissões em massa, em diversas empresas. Até a Rede Globo, maior emissora de televisão do país, vem realizando diversos desligamentos de profissionais, artistas e jornalistas veteranos, com décadas de casa.
Muitos, inclusive,
pegos de surpresa com o desligamento inusitado. Uma situação que, levanta
reflexões sobre o futuro e sobre os efeitos do chamado luto demissional.
Afinal,
independente, das causas relacionadas ao aspecto econômico financeiro na gestão
destas empresas, existe o lado emocional de quem precisa encarar a dura
realidade do afastamento abrupto. Uma coisa é certa: ser demitido não é fácil,
mesmo quando você quer que isso aconteça.
Os motivos podem
ser inúmeros: diminuição de custos, falta de desenvolvimento profissional,
entre outros. Algumas pessoas se revoltam, buscam culpados e vilões para seu
desligamento. Já outras omitem a frustração e dizem que era isso mesmo que
queriam que acontecesse.
Porém, a demissão
está psicologicamente associada aos dois maiores medos que o ser humano tem na
vida: o medo do fracasso e o medo da rejeição, por isso é um processo delicado
e os impactos podem ser maiores do que se imagina.
O sofrimento
mental pode aumentar fazendo com que a estabilidade psíquica do sujeito seja
afetada, podendo vir a sofrer de depressão, ansiedade, pânico, entre outros
transtornos. Visto que, ser demitido, em muitos casos, leva o
"desligado" para um processo de "cancelamento" que passa
por fases similares ao do luto: isolamento, negação, pensamento distante, certa
irritação e, por fim, a esperança do recomeço.
No luto
demissional, em certo sentido, num estalar de dedos, o desligado
"perde" pessoas queridas do seu convívio diário. Simplesmente fica
orfão de centenas de pessoas, de uma só vez.
Apesar de sabermos
que, todos nós ficaremos frustrados em algum momento da vida e que, nem sempre
as coisas acontecem conforme gostaríamos, o que impacta emocionalmente, não são
os eventos em si, mas a maneira como interpretamos e respondemos a estes
eventos. .
Muitos são os
efeitos emocionais de ser surpreendido pelo desemprego: raiva e revolta;
tristeza e desamparo; frustração; sentimento de culpa, insegurança e medo;
sensação de injustiça; negação; vergonha; sensação de estar perdido e confuso;
sensação de cancelamento; elevação da ansiedade; medo do futuro; entre outros.
O ideal nestes
momentos é, desacelerar a mente, colocar as ideias no lugar para enxergar a
situação com clareza e racionalidade. Além disso, é preciso externar o
sentimento de alguma forma, sem deixar que eles dominem ou sequestrem a razão.
Sem dúvida, o
momento é desafiador, porém, se faz necessário não se deixar levar por
questionamentos internos que minem a autoestima. Por mais difícil que seja
lidar com esse mix de emoções, é importante manter o autocontrole e reconhecer
seu próprio valor.
Enfim, seja qual
for o motivo da demissão, ou de que forma ela se deu, é necessário trabalhar o
controle das emoções, pois o fato de ficar “remoendo” internamente o ocorrido,
pode ser tão ruim (ou até pior) do que expressar.
Lamentar não vai
resolver ou apagar o fato em si. Além disso, para lidar com a ansiedade sem fim
que, poderá aumentar após o episódio do desligamento, é importante se ocupar
com atividades físicas, movimentar o corpo e a mente para liberar hormônios da
"felicidade" que ajudarão a ativar uma sensação de tranquilidade com
menos ânsia e desespero no decorrer dos dias.
Ou seja, mais
importante que focar nos vilões, é compreender o que se está sentindo. Isso
ajudará a lidar melhor com a situação e a passar de forma equilibrada pelo
desafio do luto demissional.
Dra. Andréa Ladislau - Psicanalista
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