Publicada
recentemente, nova resolução proíbe formalmente prescrição médica de
anabolizantes e esteroides androgênicos para ganhos estéticos e de performance
muscular
Uma nova resolução do Conselho Federal de Medicina
(CFM) ganhou o noticiário do país na última semana. A partir de agora, a
prescrição médica de anabolizantes e esteroides androgênicos com finalidade
estética, incremento de massa muscular e melhora do desempenho esportivo passam
a ser proibidos. A medida foi publicada oficialmente no Diário Oficial da União
no último dia 11 de abril e atendeu uma solicitação de seis diferentes
sociedades médicas que pressionaram o CFM a votar uma regulamentação mais clara
sobre o tema. Com a mudança, muitas pessoas têm se perguntado sobre o que muda
na prática a partir das novas diretrizes, e os riscos atrelados ao uso contínuo
destes tipos de produto.
O endocrinologista credenciado da Paraná Clínicas,
Dr. Caoê Índio do Brasil von Linsingen (CRM-24267/RQE-17646), explica que a
regulamentação apenas oficializa uma conduta ética que já deveria ser praticada
por todos os profissionais de saúde que atuam na área: “Nunca foi correto
prescrever esteroides anabolizantes para fins estéticos ou para ganho de
performance esportiva. O que muda é que, agora, com a proibição publicada no
Diário Oficial da União, fica mais fácil punir disciplinarmente os maus colegas
que receitavam este tipo de aditivo sem nenhuma justificativa médica adequada”,
explica. Ainda de acordo com o especialista, nada muda para pacientes que fazem
uso ético destes medicamentos a partir da indicação de profissionais de saúde,
o que acontece geralmente em casos onde o indivíduo possui deficiências
hormonais comprovadas e não reversíveis de forma natural.
Há diferentes tipos de anabolizantes e cada um
deles tem um propósito médico bem definido. Basicamente, são dois os
principais: os esteroides, que incrementam a performance física e muscular, e
os não esteroides, tais como o GH – também conhecido como hormônio do
crescimento – e a insulina. Os EAA, chamados esteroides anabolizantes androgênicos,
são derivados sintéticos da testosterona.
A testosterona é naturalmente produzida nas células
de Leydig dos testículos, e também em menor quantidade nos ovários e glândulas
adrenais nas mulheres. Ainda assim, homens têm fisiologicamente de 10 a 30
vezes mais testosterona em seus corpos. Ele é o hormônio responsável por
definir as características masculinas, estimular crescimento muscular, ósseo, e
interfere também no comportamento e agressividade. No músculo, estimula a
síntese (efeito anabólico) e inibe a degradação de proteínas (efeito
anticatabólico), ação que favorece o ganho de força.
Tais características tornam o uso de anabolizantes
muito atraente para pessoas em busca de ganho muscular, tanto para finalidade
esportiva quanto por fins estéticos. O problema é que o uso não prescrito deste
tipo de hormônio pode trazer sérias consequências à saúde do paciente, com uma
série de efeitos colaterais significativos. “A lista de possíveis complicações
é bem extensa: no coração, há aumento do risco de arritmia, infarto e embolias;
há piora do colesterol; disfunções hepáticas, com casos registrados de hepatite
fulminante; acne grave, queda de cabelo, ginecomastia (aumento das mamas) em
homens e clitoromegalia (aumento do clitóris) em mulheres, além da alteração do
timbre da voz feminino – muitas vezes irreversível, alterações bruscas de humor
e agressividade” explica von Linsingen.
Mesmo com tantos riscos, a busca pela prescrição
médica destes medicamentos é tão comum e ostensiva que associações que representam
profissionais de saúde da área passaram a pressionar o CFM a proibir
oficialmente uma prática que, apesar de eticamente questionável, ainda era
praticada livremente por alguns médicos. O Dr. Caoê Indio do Brasil von
Linsingen relata suas experiências em consultórios para dimensionar o quão
frequente são os pedidos por receitas do tipo: “Vejo casos desse tipo toda
semana, hoje mesmo atendi um jovem paciente usuário de esteroides
anabolizantes. Como profissionais responsáveis, orientamos estas pessoas de que
não existe a falácia do uso seguro mesmo com acompanhamento médico e as
aconselhamos a suspendê-lo imediatamente. Ainda assim, muitas vezes, os efeitos
colaterais já são tão graves que precisamos receitar o uso de medicamentos para
controlar os sintomas e restabelecer o pleno estado fisiológico do paciente.
Temos percebido um aumento importante nos últimos anos de usuários destes tipos
de aditivos, sendo prescritos por maus colegas ou mesmo sendo usados de forma
clandestina, administrados por conta própria”, conta.
Substituto natural?
Um dos maiores desafios enfrentados por
especialistas e entidades médicas na luta contra o uso indiscriminado de
anabolizantes é que, basicamente, não há como substituir naturalmente os
efeitos de ganho de performance na mesma velocidade proporcionados por estes
aditivos, algo que faz com que muitas pessoas simplesmente assumam os graves
riscos de saúde que podem acontecer. Na prática, o uso destes aditivos trará
ganho de massa magra maior para um indivíduo em relação a uma pessoa que não os
usa e também se exercita da mesma intensidade. Em função disso, comissões
atléticas do mundo todo classificam o uso de anabolizantes como doping.
Neste sentido, embora possa soar como uma
alternativa aceitável para a busca de ganhos musculares rápidos e expressivos,
o uso de anabolizantes não deve ser encarado como saudável ou sustentável,
mesmo que naturalmente não exista nenhum meio de proporcionar resultados de
performance tão rápido. “Não há atalhos para termos corpos saudáveis. Todos nós
queremos que os pacientes se exercitem regularmente, comam de maneira saudável
e ganhem bastante massa magra com exercícios resistidos. Manter um bom porte
muscular aumenta a longevidade e qualidade de vida e é recomendável para todos,
mas isso precisa ser feito de forma natural. Quem usa destes artifícios ou
outros atalhos faz o oposto, e está encurtando sua vida. Não há dose segura do
uso de anabolizantes e os riscos de seu consumo são muito maiores que os
benefícios”, concluiu von Linsingen.
Paraná Clínicas
panaclinicas.com.br
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