Clizete Aparecida
Sbravate Martins, professora e coordenadora do curso de Biomedicina da Braz
Cubas, explica as características do vírus e como se prevenir desse agente
infeccioso que pode ser letal
Dados da OMS mostram que a
taxa de letalidade de casos do vírus Marburg variaram de 24% a 88% em surtos
anteriores ao que o mundo tem observado em Guiné Equatorial. Mas o que é esse
vírus e como ocorre a transmissão?
Trata-se de
um agente patogênico pertencente à família Filoviridae,
a mesma do vírus Ebola. É causador da doença do vírus de Marburg, anteriormente
chamada de febre de Marburg e febre hemorrágica de Marburg. Sua origem é
zoonótica (transmissível de animais para seres humanos) e está relacionada às
secreções de animais silvestres, especialmente morcegos africanos, considerados
reservatórios naturais.
Transmissão
A profa.
dra. Clizete Aparecida Sbravate Martins, coordenadora do curso de Biomedicina do Centro
Universitário Braz Cubas, conta que a infecção aos humanos, na natureza, se dá
por meio de secreções de animais silvestres, em particular de morcegos, seus
hospedeiros naturais, em ambientes como minas ou cavernas, mediante exposições
prolongadas, ou pelas secreções de animais doentes, quando retirados de seu
habitat.
“Após a
infecção humana, de pessoa a pessoa a transmissão ocorre por meio do contato
direto da pele e mucosas com fluidos corporais provenientes de pacientes
sintomáticos. Os líquidos corpóreos que podem se apresentar contaminados pelo
vírus são saliva, sangue, urina, vômito, fezes, suor, leite materno e sêmen.
Como já mencionado, trata-se de um vírus com elevada taxa de letalidade,
podendo alcançar até 90% dos indivíduos infectados”, considera.
“Embora o
vírus tenha sido detectado pela primeira vez no ano de 1967, na cidade alemã de
Marburg, é no Continente Africano que ele ocorre com mais frequência, seja em
casos esporádicos, seja em surtos epidêmicos como os descritos na África do
Sul, em Angola, no Quênia, em Uganda e na República Democrática do Congo. A
mais grave epidemia ocorreu em 2005, no norte de Angola, onde morreram 329
pessoas”, assinala a docente.
Sintomas e prevenção
Os sintomas
da doença do vírus Marburg assemelham-se à febre hemorrágica da dengue.
Contudo, são mais graves e intensos, podendo progredir para a falência múltipla
de órgãos, principal motivo de óbito da doença. Martins elenca que “os sintomas
iniciais são inespecíficos, podendo o paciente apresentar febre, calafrios,
náusea, dor de cabeça, diarreia (podendo conter sangue), vômitos, erupção
cutânea, mialgia, dor de garganta, dentre outros.”
Como ainda
não há fármacos específicos contra o vírus, as recomendações da OMS para que
melhorem as chances de sobrevivência do paciente orientam para o tratamento dos
sintomas, o que inclui o manejo individualizado das manifestações clínicas dos
pacientes, incluindo intensa hidratação oral ou endovenosa.
A prevenção,
por sua vez tem dois grandes pontos a serem praticados, que são as medidas
individuais e as coletivas. A medida individual de prevenção é evitar o contato
com secreções de animais silvestres, em áreas endêmicas, e de pessoas
infectadas. Já a medida coletiva de prevenção está associada à vigilância
sanitária que envolve a testagem de casos suspeitos para o diagnóstico da
doença, isolamento e monitoramento de casos registrados.
Sem motivo para alarde: risco de o vírus se espalhar pelo Brasil é
praticamente nulo
Segundo a
OMS, o período de incubação do vírus é de dois a 21 dias e, por isso, existe a
possibilidade que ele se espalhe. Porém, como o vírus tem baixa
transmissibilidade e, de forma geral, logo surgem os primeiros rapidamente os
infectados buscam assistência médica, o que facilita a identificação e o
controle da doença.
A
professora da Braz Cubas explica que a chance do agente infeccioso chegar ao
Brasil é baixa. “Não há a espécie de morcego reservatório do vírus Marburg no
país, portanto este modo de transmissão é praticamente nulo, mas turistas
vindos da África podem trazer o vírus e isso exige atenção em termos de saúde
pública.”
Apesar de
não haver registro de casos no Brasil, a RedeVírus MCTI, comitê de
especialistas instituído em fevereiro de 2020 para auxiliar o Ministério da
Ciência, Tecnologia e Inovações no desenvolvimento de estratégias para
enfrentamento da Covid-19, criou um grupo de trabalho destinado à realização de
pesquisas de testes diagnósticos para o vírus Marburg.
Por fim, a
docente salienta a importância da atenção a esse agente infeccioso. “Os
trabalhos de vigilância epidemiológica são fundamentais, visto que, a doença
não possui tratamento específico ou vacinas contra o agente causal. O
Laboratório de Virologia Molecular do Instituto de Biologia da UFRJ está
desenvolvendo testes RT-PCR para diagnóstico do vírus de Marburg, o que
contribuirá para a prevenção da disseminação do vírus.”
Braz Cubas
www.brazcubas.br
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