De
acordo com dados da UNIFESP (Universidade Federal de São Paulo) a Esclerose
Lateral Amiotrófica acomete cerca de 40/50 mil brasileiros e é considerada a segunda causa de incapacidade
neurológica no país.
O psicoterapeuta Dr. Angelo Monesi, da equipe multidisciplinar de reabilitação do Dr. Beny
Schmidt, afirma que estar emocionalmente saudável, feliz com as conquistas de
toda a trajetória e grato pela vida é uma arma potente para inibir a progressão
da doença.
“Quanto mais a pessoa estiver preenchida dela
mesma contando a sua história e ouvindo de outras pessoas um feedback sobre
suas conquistas, a pessoa fica preenchida dela mesma. Se o eu próprio estiver
preenchido, a doença não entra, ela não cresce. Ela não progride. A pessoa
precisa se preencher da própria história, porque a biografia de cada pessoa é
sagrada”, pondera Monesi.
Segundo
Monesi, a evolução da ELA está diretamente ligada a condição psicológica. As
restrições físicas vão surgir, por ser um diagnóstico que atinge a capacidade
motora, mas a saúde emocional e capacidade cognitiva podem ser preservadas. E
até a capacidade motora pode ser trabalhada com a inteligência neuromuscular
para retardar a fraqueza e a atrofia muscular.
Conversamos com o Dr. Angelo Monesi para aprender a trabalhar melhor o nosso
emocional e inibir a progressão da ELA:
Dr.
como é possível
estimula a saúde emocional para pacientes com a ELA (Esclerose Lateral
Amiotrófica)?
Primeiro
é preciso fazer uma revisão serena da biografia da própria pessoa. Os pacientes
recebem o diagnóstico como se fosse um câncer e automaticamente vem o momento
do enfraquecimento. A primeira coisa é a negação, depois vem o momento de
blasfemar “por que eu?” e depois entra em uma outra fase que é a busca pela
culpa “sou eu o culpado pela doença?”. São processos que não levam a nada. O
início do trabalho terapêutico é de desmistificar essas coisas e de dizer que o
diagnóstico não é um diagnóstico de finitude. Ninguém está determinando um
tempo de vida. Tem pacientes que receberam diagnóstico de 6 meses de vida e
hoje estão com 8/9 anos de evolução de tratamento. Estão hígidas. Estão
mentalmente saudáveis, conseguem se comunicar. As pessoas vão tendo restrições
físicas ao longo do tempo, por conta da doença do neuromotor, mas a capacidade
cognitiva está preservada. A pessoa está totalmente lucida.
O
tratamento pode ser realizado remotamente?
Quando você vai para a terapia, você precisa
digerir o que foi falado. Eu tenho pacientes que moram longe de São Paulo e
normalmente levam 1 hora para chegar ao consultório. Eu sugiro a eles que
gravem a consulta. Eles gravam e quando retornam, ouvem a consulta de novo.
Então, ele faz a mesma consulta duas vezes. Essa segunda vez que ele ouve, ele
está digerindo a consulta. E se ele quiser, na próxima consulta, ele pode ouvir
de novo para absorver ainda mais tudo que foi falado na última sessão. Esses
pacientes melhoram em uma velocidade meteórica. Já o paciente on-line ele fala
com você, mas olha a tela porque está recebendo mensagem do WhatsApp. E para
piorar, quando acaba a consulta ele já está conectado ao trabalho ou comendo um
lanche. Enfim, ele não digeriu. A minha recomendação para pacientes com ELA é
sempre fazer a terapia presencial.
E quando a coordenação motora avança e o paciente fica nervoso pelas dificuldades de falar
e se locomover?
Por isso é importante iniciar a terapia anteriormente para auxiliar nesse processo. O que a gente precisa fazer antes
desse estágio é descobrir caminhos de comunicação. Isso, como terapeuta, nós
começamos a criar formas de se comunicar. Uma vez eu recebi um paciente e ele
não abriu a boca. Nesse consultório, eu tinha duas gatas e por alguma razão
essas gatas entraram na sala. Uma
se colocou debaixo da
cadeira dele e a outra subiu no colo. Minha assistente queria tirar, mas ao ver a reação do paciente
eu pedi para deixar. Ele começou a fazer carinho no animal. Eu questionei se
ele gostava de animal e ele balançou a cabeça que sim. Então, perguntei se ele
tinha algum animal e ele, com dificuldades, respondeu que sim. E assim consegui
fazer a consulta. Foram 50 minutos de conversa e eu consegui tirar toda a
história que eu queria. Mas essa é uma situação convencional? Não. Foi um
acidente. Mas foi impressionante a forma de conseguir mobilizar esse paciente.
Esse paciente que vai se restringindo fisicamente, você muitas vezes consegue
quebrar essa barreira de forma inusitada ou de forma criativa. O trabalho é
provocar a conscientização de que, quanto mais você reduz a matéria, mais você
eleva o espírito. Ou seja, quando mais você percebe a restrição física, fica
nítido a importância do trabalho terapêutico para dar esse suporte. Chega um
momento que o paciente tem a necessidade da terapia, eles aguardam as sessões,
por ser uma forma de fortalecê-los emocionalmente.
Quais atividades no dia a dia podem fortalecer a saúde
emocional do paciente?
Água cura. Sono cura. Musica cura. Passear com cachorro cura. Tomar banho de sol é remédio. Brincar com animal é remédio. Conversar com o amigo é remédio. Caminhar ao ar livre é remédio. Então, se nos mantermos aberto a tudo isso a nossa expansão continua e uma vez expandido e preenchendo os espaços dentro de você, a doença não entra. Você não permite que esse espaço para que ela evolua. Se a gente abre espaço para essas curas, não deixamos as doenças se proliferarem.
E para finalizar, o Dr. faz um apelo público para ajudar esses
pacientes. “É importante lembrar da questão financeira desses pacientes. A
evolução desses casos demanda muito esforço da família. E vale um alerta ao
poder público da necessidade de fazer projetos sociais para cuidar dos
pacientes acometidos pela Esclerose Lateral
Amiotrófica”, conclui o especialista.
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