As relações de trabalho vêm sendo intensamente ressignificadas. Muito mais do que salários atrativos e um plano de carreira bem desenhado, fatores como o match entre o propósito da empresa e o perfil dos candidatos se tornaram pontos decisivos para a retenção de talentos nas companhias. Infelizmente, este vem sendo um cenário difícil de ser encontrado em diversos negócios – desencadeando índices preocupantes de demissões voluntárias que, se não forem revertidas com urgência, podem trazer danos drásticos para o mercado.
Existem diversos fatores responsáveis por elevar o great
resignation, como ficou conhecido este fenômeno de demissões por
parte dos profissionais. Em uma análise global, além desta falta de
identificação com os valores e propósitos da empresa, a insegurança dos
trabalhadores frente a momentos de crise como a pandemia, o excesso de pressão
rotineiramente ou em determinados projetos, e o descuido com o reconhecimento
de suas contribuições, sempre se destacaram dentre os motivos mais frequentes
para os desligamentos.
Contudo, ao longo da pandemia, novos critérios
emergiram dentre as justificativas compartilhadas. Dentre eles, o retorno ao
trabalho presencial foi um dos mais polêmicos, visto que os benefícios
proporcionados pelo home office atraíram cada vez mais
adeptos para a procura de oportunidades que ofereçam essa modalidade. De
maneira relacionada, a busca por uma maior qualidade de vida também se mostrou
mandatória, em vagas que possibilitem uma verdadeira conciliação entre o
trabalho e a vida pessoal para maior tempo de lazer e entretenimento com amigos
e familiares.
Em âmbito financeiro, a extrema preocupação causada
diante dos altos números de desempregos, principalmente na pandemia, fez com
que grande parte dos profissionais optassem por permanecer em seus empregos –
mesmo sem estarem satisfeitos – como segurança de terem uma renda em meio à
crise. Porém, com o início da volta a normalidade, muitos já começaram a procurar
por melhores oportunidades que se encaixem em seus perfis.
Estamos presenciando um cenário alarmante. Segundo
dados divulgados pelo Caged, o Brasil bateu o recorde de demissões voluntárias
em agosto deste ano, representando 37,5% do total de desligamentos registrados
ao longo do mês. Diante de um fenômeno visto internacionalmente, reverter esta
“grande renúncia” deve ser uma das maiores prioridades das companhias de todos
os portes e segmentos, por meio de estratégias que alinhem os valores organizacionais
aos dos candidatos e, assim, os mantenham felizes em seus ambientes de
trabalho.
Após tantas mudanças sentidas ao longo do
isolamento social, uma das ações mais importantes para este objetivo é
viabilizar vagas que possam ser desempenhadas à distância – afinal, esta se
tornou uma modalidade de trabalho com imensa aceitação global. Em um estudo
realizado pela Frameable, comprovadamente, cerca de 73% dos profissionais são
mais satisfeitos trabalhando em home office, junto com 81% que se
sentem mais produtivos trabalhando à distância.
Muito além de permitir que realizem suas funções de
qualquer lugar, esta liberdade geográfica também contribui para o balando entre
o trabalho e a vida pessoal. Afinal, a dispensa de se locomoverem até a sede da
empresa permite um maior tempo em casa, menos estresse com trânsito e melhor
aproveitamento de suas tarefas. Por fim, a missão e propósito do negócio
precisam ser repensadas, de modo que tragam uma significância social e
ambiental defendidas, especialmente, pela nova geração de profissionais.
As prioridades de retenção mudaram nitidamente. No
lugar de remunerações elevadas, a flexibilidade, autonomia e liberdade
conquistaram o pódio de critérios dos profissionais. Independente da área de
atuação, não há como escapar desta realidade do mercado. Por isso, é dever das
empresas se adaptarem a essas demandas e oferecer aquilo que estão valorizando.
Em um mercado dinâmico, aquelas que se mantiverem atentas a tais
transformações, certamente conseguirão impedir o avanço destas demissões
voluntárias e reter seus talentos para um crescimento próspero.
Jordano
Rischter - sócio da Wide, consultoria boutique de
recrutamento e seleção.
Wide
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