Estudo
mostra que dentre as pessoas com propensão à ansiedade, cerca de 36% tem piora
dos sintomas durante à noite
Segundo dados recentes da Organização Mundial da Saúde (OMS), o Brasil ainda é um dos países com mais pessoas ansiosas no mundo: mais de 9% dos brasileiros são acometidos pela ansiedade, o triplo da média mundial.
Já um estudo feito pelo psiquiatra Luc Staner, do Rouffach Hospital, na França, mostra que dentre as pessoas com propensão à ansiedade, cerca de 36% tem piora dos sintomas durante à noite, sem contar aquelas que possuem o diagnóstico de Transtorno de Ansiedade Generalizada (TAG).
A ansiedade noturna é desencadeada pelos altos níveis de estresse gerados ao longo do dia, seja por questões profissionais ou pessoais. À noite, depois que as obrigações se encerram, recebemos menos estímulos à distração e abrimos espaço para as preocupações.
Porém, remoer os problemas à noite só
irá resultar na perda do sono. Por consequência, o dia seguinte será exaustivo
e, muito provavelmente, a próxima noite também será.
Como a mente e o corpo reagem
Segundo Monica Machado, psicóloga pela USP, fundadora da Clínica Ame.C, pós-graduada em Psicanálise e Saúde Mental pelo Instituto de Ensino e Pesquisa do Hospital Albert Einstein; na teoria, a noite seria o momento em que a mente relaxa e fica menos ativa. No entanto, para quem está com a cabeça a mil, a ansiedade se acumula à noite, já que, durante o dia, as preocupações são mais evitáveis por usarmos o cérebro ativamente.
De acordo com um artigo da Faculdade de Medicina de Harvard, isso ocorre porque nosso cérebro é programado para responder ao perigo, aumentando a vigilância e a atenção para nos proteger.
“Durante o dia, quando estamos mais atarefados, o pensamento se estrutura no córtex pré-frontal do cérebro, onde estão as áreas de julgamento, planejamento e razão. Quando o córtex relaxa, ele se direciona às emoções. Consequentemente, os pensamentos ansiosos que estavam dormentes durante o dia surgem à tona”, explica a psicóloga.
Quem sofre de ansiedade noturna costuma
ter os seguintes sintomas: batimentos cardíacos rápidos e irregulares;
tremores; transpiração excessiva; pressão ou desconforto no peito; dormência
nos membros; tonturas ou vertigens; náuseas; dificuldade para respirar
normalmente; ondas de calor ou calafrios e dores ou espasmos musculares, além
de pensamentos intrusivos que não permitem o descanso da mente, como insegurança
em relação ao futuro e antecipação de acontecimentos ruins.
Saiba enfrentar a ansiedade noturna
Para evitar ou lidar com a ansiedade
que não te deixa relaxar e ter boas noites de sono, confira as dicas da
especialista:
Não leve os problemas para a cama
“Se você for deitar remoendo suas
preocupações, será impossível pegar no sono, mesmo que esteja exausto. Pior:
você acaba se forçando a dormir, vira de um lado, vira de outro, vê a hora
passar e o único resultado será mais ansiedade. Antes de dormir, aposte em
livros, uma música calma ou um filme leve. O importante é distrair a mente e
afastar os pensamentos negativos”, diz Monica Machado.
Pratique o relaxamento
Se o sono não vem, procure relaxar, não
dormir. Se você relaxar, o sono virá com mais facilidade. Uma das dicas é
praticar exercícios de respiração. Respire profundamente, direcionando a sua
atenção para o movimento do ar que entra e sai. Solte o ar lentamente através
da boca e, em cada inspiração, imagine uma paisagem ou uma imagem mental que
transmita calma e serenidade.
Tente manter a rotina do sono
Segundo a especialista, não ter um
horário definido para dormir é um forte gatilho para a ansiedade e insônia.
“Deite todos os dias no mesmo horário, com uma diferença de, no máximo, 30
minutos. O hábito regula o relógio biológico e o ritmo circadiano, fundamentais
para o organismo ajustar o sono”.
Reveja os horários do treino
Praticar atividade física é essencial para combater a ansiedade, já que o exercício libera hormônios como dopamina e endorfina, que geram a sensação de bem-estar. No entanto, se exercitar nas últimas horas do dia pode fazer com que seu sistema nervoso fique muito ativo à noite, inviabilizando o sono.
“Para muitas pessoas, o treino à noite
gera tanto relaxamento que até ajuda a dormir melhor. Já para outras, o
exercício neste período causa agitação. Se você faz parte deste último grupo,
prefira treinar na parte da manhã”, aconselha Monica Machado.
Desconecte-se das telas (e das
notícias)
Ao dormir, evite celular, tablet,
notebook e TV. As luzes fortes comprometem a liberação da melatonina, o
hormônio do sono. Além disso, as redes sociais ou os sites de notícias podem
desencadear estímulos mentais negativos, aumentando a ansiedade e dificultando
que o cérebro se desligue.
Esqueça os números ao se deitar
“Se o dinheiro é uma das suas
preocupações, jamais se deite e pegue o celular para checar o extrato bancário
ou a fatura do cartão de crédito. Você não vai solucionar nada a esta hora e só
vai alimentar a ansiedade. Se precisa organizar as finanças, deixe para fazer
contas e rever o orçamento durante o dia”.
Faça do seu quarto um ambiente
aconchegante
Quanto mais agradável for seu quarto e
sua cama, mais fácil será para dormir. Fatores como travesseiro confortável,
temperatura ideal, ambiente sem luzes e ruídos podem determinar a qualidade do
sono. Caso contrário, é possível acordar no meio da noite e não conseguir
dormir mais.
“Vale lembrar que dormir bem influencia
diretamente a estabilidade física, mental e emocional, já que durante o sono, o
organismo exerce as principais funções restauradoras do corpo e da mente.
Portanto, se o quadro é crônico, não hesite em buscar ajuda o quanto antes”,
alerta Monica Machado.
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