Na última quarta-feira (26), foram
veiculadas reportagens sobre um estudo publicado na revista JAMA, conduzido por
pesquisadores da Sociedade Americana do Câncer, Universidade de Oxford e Universidade
Nacional da Malásia, onde, de acordo com os especialistas, a taxa de
mortalidade de quem parou de fumar cigarro antes dos 35 anos é semelhante à de
quem nunca fumou. A pesquisa traz evidências científicas que confirmam aquilo
que se afirmava de maneira empírica: parar de fumar é uma atitude que deve ser
incentivada diante dos benefícios evidentes à saúde.
Há alguns anos, no entanto, tenho conduzido
palestras e debates que partem de um princípio ainda mais conservador: o ideal
é que as pessoas não comecem a fumar. Parece algo óbvio, mas é importante
destacar que tenho dito isso em nome de uma companhia que tem a meta de parar
de produzir e comercializar o seu principal produto, o cigarro.
Mesmo assim, muitos ainda iniciam ou
continuam a consumir cigarros. Por isso, é preciso falar também sobre redução
de danos no tabagismo. Existem pesquisas conduzidas com alto rigor, em centros
respeitados ao redor do mundo, demonstrando os benefícios dessa abordagem.
Diversos estudos indicam que a grande maioria dos consumidores faz uso do
cigarro por conta da nicotina presente no tabaco. Mas, ao contrário do que se
pensa, essa substância, embora não livre de risco, não é a principal causa de
doenças relacionadas ao tabagismo.
É a combustão do tabaco que gera a maior
parte dos componentes tóxicos à saúde dos fumantes. A esses resíduos que
resultam da queima do tabaco dá-se o nome de alcatrão. Há pesquisas que indicam
que eliminar a combustão dessa equação reduz, em média, cerca de 90% a
liberação de substâncias tóxicas quando comparado à fumaça do cigarro. Assim,
criar produtos para entrega de nicotina sem a queima do tabaco tornou-se um
foco dentro da indústria.
Existem alternativas de produtos que apenas
aquecem o tabaco para a entrega da nicotina, reduzindo a formação de tais
compostos tóxicos quando comparado ao cigarro. Eles já são comercializados em
mais de 70 países, sob o crivo das autoridades sanitárias locais. Hoje, no
Brasil, há mais de 20 milhões de adultos fumantes, os quais ainda não dispõem
dessa alternativa menos tóxica ao cigarro.
No Reino Unido, tido como referência em
saúde pública e onde o conceito de redução de danos é bastante evoluído, há
projetos para que os produtos de risco reduzido, no caso do tabagismo, sejam
indicados pelos médicos, quando entendem que essa é a opção melhor para
determinado indivíduo. Existem campanhas não apenas para encorajar as pessoas a
abandonar o cigarro, mas também, para aqueles que ainda assim seguem fumando,
oferecer informações corretas quanto à troca por um produto de menor
toxicidade.
Essa abordagem inovadora é baseada em
pesquisas científicas sérias – assim como a da JAMA. São trabalhos muito
importantes que não podem e não devem ser desconsiderados pelos especialistas e
por autoridades brasileiras. Olhar sem viés o resultado trazido por
pesquisadores sérios e renomados é importante para embasarmos melhor as nossas
discussões.
No caso do tabagismo, mais do que um ato de
empatia em relação ao fumante, essa é uma atitude que também protege a saúde
pública de maneira mais efetiva e menos preconceituosa.
Dérica Serra - Head de Assuntos Médicos da Philip Morris
Brasil
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