Pesquisa mostra que 59% dos profissionais priorizam qualidade de vida nas empresas
Pesquisa global da JLL “Workforce Preferences Barometer”,
realizada com mais de 4 mil pessoas em 10 países, aponta que as questões
financeiras saíram do primeiro lugar das prioridades antes da pandemia para a
terceira posição em abril de 2022. No topo da lista, está qualidade de vida/
equilíbrio entre vida profissional, apontada por 59% dos colaboradores.
Trabalhar em uma empresa que garanta a saúde e o bem-estar de seus funcionários
divide o pódio, também com 59%, tendo subido 15% no último ano.
A pesquisa mostra que 25% das pessoas reconsideraram o papel do
trabalho em suas vidas durante a pandemia e 71% querem trabalhar em corporações
que promovam ativamente um estilo de vida saudável, segurança e bem-estar.
Assim, 74% relatam que pediriam demissão em busca de mais flexibilidade e
equilíbrio.
No Brasil, apesar de crescer ano a ano o número de concessões de
auxílio-doença relacionados à síndrome de burnout – entre 2017 e 2018, o
crescimento foi de 115%, passando de 196 para 421 –, o burnout ocupa a 436ª
posição entre as doenças com pagamentos de auxílio-doença nos três primeiros
meses de 2021, com 148 concessões, de um total de 486.219. Já em 2020, foram
610 concessões de um total de 2.341.029, e o burnout ficou na 508ª posição
entre as doenças com pedidos de auxílio por incapacidade temporária.
Como ter sucesso na carreira sem prejudicar a saúde mental
Segundo Monica Machado, psicóloga pela USP, fundadora da Clínica
Ame.C, pós-graduada em Psicanálise e Saúde Mental pelo Instituto de Ensino e
Pesquisa do Hospital Albert Einstein; a pandemia e suas consequências no
universo dos negócios mostraram a necessidade de repensar e aprender a se desapegar
de valores que já estão ultrapassados.
“Priorizar a qualidade de vida nada mais é do que se respeitar,
tanto fisicamente quanto mentalmente, gerando boas condições para desempenhar
suas tarefas profissionais e pessoais”, afirma a psicóloga.
De acordo com a psiquiatra Danielle H. Admoni, preceptora na
residência da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP/EPM) e especialista
pela ABP (Associação Brasileira de Psiquiatria), é possível aliar carreira de
sucesso com qualidade de vida.
“O ser humano tem a tendência de esperar que as coisas melhorem
por si só, gerando expectativas irreais. O problema é que a expectativa vira
uma exigência e esquecemos que não podemos controlar nada, nem ninguém. É
preciso ter em mente que você também pode ser responsável por mudanças em sua
vida, sem precisar depender de outrem. Essa nova forma de pensar neutraliza as
emoções negativas e faz com que seja possível se relacionar ou atuar em
determinadas situações com menos pressão interna e mais equilíbrio emocional”.
Segundo um estudo da Universidade Duke, nos Estados Unidos, os
hábitos são responsáveis por 40% da nossa rotina e das tomadas de decisões.
Porém, uma pesquisa publicada na revista científica Biological Psychiatry
mostrou que o estresse reduz a capacidade do indivíduo de lidar com
adversidades.
“Claro que não existe uma fórmula universal que funcione para
todas as pessoas, afinal, cada indivíduo é único e tem recursos e situações
particulares. Mas, é possível se reinventar, elencar suas prioridades e fazer
escolhas certas, sem correr riscos mal calculados em nenhuma das esferas de sua
vida”, diz Monica Machado.
Confira as dicas das especialistas:
Defina suas prioridades
A primeira pergunta a ser respondida é: o que eu quero alcançar na
minha vida profissional? E na minha vida pessoal?
A segunda é: quais são as atividades que eu desempenho diariamente
na minha rotina profissional? E na minha vida pessoal?
Responder às questões propostas não é simples e nem mesmo rápido,
e exige que o indivíduo esteja disposto a ir fundo nessa atividade. Liste as
coisas que faz, os papéis que desempenha e analise sua agenda de compromissos
para identificar onde seu tempo está, de fato, sendo empregado.
Sem essa base de informações precisas, fica muito difícil
estabelecer as prioridades, porque, para isso, é preciso separar suas
atividades em três grupos:
(1) Atividades que podem ser desempenhadas por outras pessoas
(2) Atividades que são puros “ladrões de tempo” e que devem ser
eliminadas
(3) Atividades que só podem ser realizadas pelo próprio indivíduo.
Evite ser centralizador
Saber delegar ou compartilhar funções é fundamental, pois nem
sempre é possível realizar tudo sozinho. E ainda que você consiga, é bem
provável que comprometa a qualidade das tarefas, além de te causar uma exaustão
desnecessária.
Quebre crenças limitantes
As crenças limitantes que todos têm, embora em diferentes
intensidades, são as grandes responsáveis por impedir a expressão de todo o
potencial que há no indivíduo. “Portanto, quebre o ciclo do ‘pensamento
impostor’, tenha consciência de suas habilidades, reconheça que capacidades se
desenvolvem, mas que novos desafios sempre vão criar um certo nível de tensão
interna, o que não significa que você não esteja à altura da tarefa”, pontua
Danielle Admoni.
Desenvolva resiliência
Resiliência passa por fortalecer nossas qualidades pessoais e agir
diante das adversidades com foco em nosso poder de atuação. É preciso cultivar
um modelo mental com espaço para uma visão positiva da vida, entrar em contato
com as emoções e avaliar se suas escolhas alimentam os problemas ou agem de
forma coerente à solução que se busca.
Não tema o julgamento alheio
A autenticidade requer coragem, pois exige de nós aceitar nossa
personalidade, nossas falhas e vulnerabilidade. É ter a força para abraçar quem
realmente somos, desapegar das comparações e dos paradigmas de quem achamos que
devemos ser. Nada vale mais a pena do que trazer ao mundo o que realmente temos
para dar. Ser coerente com nossa verdade nos proporciona liberdade, verdade e
plenitude.
Reserve um tempo para o descanso e para si mesmo
No modelo de vida atual, a quantidade de coisas que nós mesmos
exigimos vai além do que se pode aguentar. E quando não damos conta de tudo,
nos sentimos frustrados. Acorda no dia seguinte já se programando para fazer
ainda mais e melhor. E a simples ideia de uma pausa se torna cada vez mais
impensável.
“Como seria se você se permitisse fazer menos e incluir momentos
de descanso em sua jornada? Períodos de desconexão são essenciais para o
bem-estar. Esquecer um pouco o check-list, olhar para si mesmo e fazer algo que
não esteja vinculado a responsabilidades, mas ao prazer, ao conforto que tanto
lhe falta. Sua mente ficará mais descansada e até mais produtiva”, ressalta
Monica Machado.
Tenha autocompaixão
O perfeccionismo e a autocrítica geram um círculo vicioso. Passamos a viver na ansiedade de uma vida e atos perfeitos, tentando nos proteger das situações capazes de expor nossos defeitos ao mundo. Quando entendemos que a perfeição não existe e nos acolhemos exatamente como somos, com o pacote completo, conseguimos nos perdoar, atuar com autocompaixão e pedir ajuda quando precisamos.
“Nos casos em que
o esgotamento chegou ao limite, é fundamental buscar auxílio médico
especializado para avaliação do quadro e orientação quanto ao tratamento.
Especialmente no caso das pessoas cujas características de personalidade as
tornam mais propensas ao burnout, a psicoterapia é um complemento importante,
pois o problema está, muitas vezes, dentro da pessoa, e não tanto em suas
condições de trabalho”, finaliza Danielle Admoni.
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