A especialista em diversidade Liliane Rocha defende a urgência na melhoria da inclusão desses profissionais, já que atualmente as empresas sequer atendem à legislação
Garantir a qualidade de vida e a promoção dos
direitos das pessoas com deficiência física é o objetivo do Dia
Nacional da Pessoa com Deficiência Física, celebrado em 11 de
outubro. A data foi instituída pela Lei Nº 2.795 e promulgada em 15 de abril de
1981 pelo governo de São Paulo, depois todo país passou a celebrar a data.
A Pesquisa Nacional de Saúde (PNS) de 2019
realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em
parceria com o Ministério da Saúde mostra que 8,4% da população brasileira
acima de 2 anos (17,3 milhões de pessoas) tem algum tipo de deficiência. Dentro
desse recorte, apenas 28,3% das pessoas com deficiência em idade de trabalhar
(14 anos ou mais de idade) têm acesso ao mercado de trabalho em comparação com
as pessoas sem deficiência que é de 66,3%.
Em contrapartida a esse cenário desafiador de
inserção no mercado de trabalho, de acordo com a Base de Dados dos Direitos da
Pessoa com Deficiência, da Secretaria de Estado dos Direitos da Pessoa com
Deficiência, “de um total de pelo menos 3 milhões de estudantes, cerca de
15.615 são estudantes com deficiência, dos quais 59,2% ou 9.326 estavam
cursando o nível superior em universidades do estado de São Paulo. Desse
contingente, 96,14% (15.012) não utilizam o sistema de reserva de vagas em
universidades e 86,52% (13.510) não recebem bolsa de estudos”.
Para traçar um panorama sobre a representatividade
dessa população nas empresas brasileiras, a Gestão Kairós – Consultoria de
Sustentabilidade e Diversidade lançou o relatório Diversidade, Representatividade e
Percepção - Censo Multissetorial 2022, um estudo inédito que
comprova que em uma população com mais de 26 mil respondentes de diversos
setores empresariais da economia, o grupo Pessoas com Deficiência é altamente
sub-representado tanto no quadro funcional quanto na liderança, apresentando
percentuais que estão muito distantes de espelhar a sociedade brasileira.
Mesmo em empresas engajadas e comprometidas com a
diversidade, dentre as que fizeram parte do estudo, 8% têm de 201 a 500
profissionais, ou seja, devem ter 3% de pessoas com deficiência de acordo com a
Lei de Cotas para pessoas com deficiência, na sequência 23% têm de 501 a 1000
profissionais, devendo apresentar 4% de pessoas com deficiência, e 69% têm mais
de 1001 profissionais, o que configura a exigência de 5% de pessoas com
deficiência em seu quadro interno. “No resultado do Censo Multissetorial da
Gestão Kairós 2022, identificamos que na consolidação geral fica evidente o
quanto o mercado precisa avançar nessa temática em uma perspectiva de
compromisso, inclusão e desenvolvimento, pois sejam empresas com mais ou menos
funcionários, elas não atingiram a margem mínima exigida por Lei”, observa Liliane
Rocha, CEO e Fundadora da consultoria e Conselheira de Diversidade.
Quando estratificamos os dados a partir da
interseccionalidade, o viés de gênero fica evidente. “No Quadro Funcional, do
total de pessoas com deficiência autodeclaradas (2,7%), apenas 0,8% das
autodeclarações, ou 30% desse contingente, são mulheres, número quase 4 vezes
menor que o percentual de homens. Na liderança, que também tem 2,7% de pessoas
com deficiência, 0,6% são mulheres”, diz Liliane Rocha.
Ainda segundo o Censo Multissetorial da
Gestão Kairós 2022, no comparativo dos tipos de deficiências
mais recorrentes, deficiência física é o mais presente nas empresas, com 41%
das autodeclarações, percentual 2,4 vezes maior que a segunda maior incidência
que é a deficiência visual, com 16,9%. Em seguida, aparecem deficiência
auditiva com 13,3% e deficiência intelectual ou múltipla, com percentuais
relativamente menores no Quadro Funcional, com 3,5% e 1,8% respectivamente.
Do total de autodeclarações de líderes com
deficiência, 52,4% apresentam deficiência física. Invertendo a lógica anterior,
ou seja, executivos(as) com deficiência auditiva aparecem como o segundo mais
incidente, com 19,1%.
No que se refere a forma como os profissionais
percebem os avanços relacionados à inclusão de profissionais com deficiência em
suas organizações, pelo menos 78% do total de respondentes do estudo afirma que
percebe a valorização dessa temática. Já 22% das pessoas autodeclaradas com
deficiência não percebem valorização da diversidade quanto ao tema em questão,
sendo este terceiro tema o de maior índice de rejeição.
“A conclusão do estudo no que se refere a
Pessoas com Deficiência é de que a sub-representação dessa população nas
empresas pesquisadas conversa diretamente com o alto índice de que não há
valorização da temática internamente, dentro de uma perspectiva inclusiva”,
explica Liliane Rocha.
Para que possamos alcançar nos Quadros Internos das
organizações a real demografia do país ainda são necessários muitos avanços.
“Mesmo tendo uma legislação que obriga as empresas a contratarem esses
profissionais, menos de 30% da população com deficiência está no mercado de
trabalho, ou seja, há uma lacuna gigantesca que precisa ser solucionada pelas
empresas, principalmente quando olhamos a questão de gênero, já que as mulheres
com deficiência estão em menor número nos quadros corporativos”, finaliza
Liliane Rocha.
Liliane Rocha - Fundadora e
CEO da Gestão Kairós – Consultoria de Sustentabilidade e Diversidade.
Especialista há 17 anos em Sustentabilidade e Diversidade em grandes empresas.
Foi eleita recentemente uma das 50 Mulheres de Impacto da América Latina pela
Bloomberg Línea. É Conselheira Consultiva de Diversidade da AmBev, da Novelis
do Brasil, do CEOs’ Legacy - Iniciativa da Fundação Dom Cabral e do Conselho do
Futuro do IBGC (Instituto Brasileiro de Governança Corporativa). Autora do
livro “Como ser um líder inclusivo”, detentora oficial do conceito Diversitywashing – Lavagem da Diversidade – no Brasil, desde 2016. Colunista da Época Negócios, na coluna Diversifique-se, da VOGUE,
na coluna Negócios e, mais
recentemente, do InvestNews, na coluna ESG News com Liliane Rocha.
Reconhecida por três anos consecutivos como uma das 101 Lideranças Globais de
Diversidade e Inclusão pelo World HRD Congress.
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