A indústria de transformação no Brasil, que era de 34% do PIB na década de 1980, recuou para 11% em 2021. Essa queda foi acompanhada de menor participação da produção de bens de alta intensidade tecnológica e da redução do nível de produtividade da economia, colocou o País mais dependente do suprimento de matérias-primas e produtos intermediários procedentes do exterior.
As últimas crises como a Pandemia de COVID 19 e
mais recentemente a Guerra na Ucrânia, mostraram a importância da indústria nos
aspectos econômico e social do País. Setores estratégicos como saúde, máquinas
e equipamentos, fertilizantes, componentes eletroeletrônicos entre outros,
foram os mais afetados.
A dependência de um único ou principal fornecedor,
mostrou a fragilidade das cadeias globais de valor no suprimento de ítens
críticos, quando submetidas às crises globais, levando as
principais economias do mundo a reavaliarem suas estratégias,
buscando explorar setores econômicos onde detêm maiores vantagens competitivas
ou onde podem desenvolvê-la para sustentação do crescimento.
O Brasil não pode ficar fora dessa tendência e,
para isso, necessita implementar um conjunto de instrumentos e políticas
públicas tendo como objetivo estimular e direcionar novos
investimentos produtivos de forma a induzir o setor privado na busca de novas
oportunidades e na expansão de fronteiras tecnológicas.
Estas políticas precisam ter objetivos permanentes
e suas medidas e instrumentos, horizontes de médio e longo prazo. Por outro
lado, é indispensável dispor de um sistema de acompanhamento e de avaliação de
desempenho das medidas adotadas, ao longo do tempo, para permitir, sempre que
necessário, sua adequação aos objetivos propostos. As políticas precisam ter
tempo para começar e data para terminar, com metas quantificáveis para serem
atingidas.
Nesse sentido, o País necessita de uma Política de
Desenvolvimento Industrial integrada com as Políticas de Inovação e de Comércio
Exterior, bem como com a Política Macroeconômica. Essas políticas devem
coexistir, de forma estratégica e objetiva, para que possam contribuir na
transformação da estrutura industrial, intensivas em tecnologia, para aumentar
a produtividade, a competitividade e o desenvolvimento de produtos
diferenciados e de maior valor agregado, extensivo a serviços junto a novos
modelos de negócios.
Sabemos que as últimas incursões do Brasil em
agendas de política industrial foram desastrosas e resultaram em má alocação de
recursos, corrupção, entre outros aspectos, principalmente por excesso de
políticas setoriais compensatórias, ações não integradas e falta de metas e de
prazos definidos. Essas políticas foram adotadas no intuito de compensar as
assimetrias provocadas pelo “Custo Brasil”, mas só as acentuou, reduzindo a
competitividade das empresas e acelerando o processo precoce de
desindustrialização, que o país vem sofrendo desde o início deste século.
A Política de Desenvolvimento Industrial moderna e
efetiva, deve promover um “catching up”, permitindo atingir o índice de renda
dos países da OCDE, tendo em consideração que é preciso: a resolução dos
problemas estruturais que resultam no “Custo Brasil”; estabilidade
macroeconômica e equilíbrio fiscal; melhoria da produtividade em todos os
setores econômicos; adoção de uma agenda de desenvolvimento transversal, que
priorize a inovação; e reorganização econômica em setores estratégicos para o
país.
A definição dessas áreas estratégicas tem que ter
uma visão holística, para transbordar conhecimento por toda a cadeia de valor,
principalmente considerando aquelas em que o País tem evidentes vantagens
comparativas.
O foco é o desenvolvimento de pesquisa,
desenvolvimento e engenharia de produto e processo, no país, modernizando e
ampliando a complexidade de nosso parque industrial, incluindo a integração com
serviços sofisticados. O objetivo é o aumento da produtividade e da
competitividade da produção brasileira, a partir do aumento do estoque de
capital por trabalhador, que é historicamente baixo e, consequentemente, o
aumento na participação da indústria no PIB, mas principalmente o domínio de
rotas tecnológicas estratégicas.
Dessa forma será necessário a modernização e
integração das instituições de apoio e das políticas de ciência,
tecnologia, inovação, educação e de desenvolvimento industrial de forma a
apoiar e possibilitar um sistema de produção sofisticado e complexo, necessário
para sustentar o desenvolvimento brasileiro. O recurso público deve ser usado
de forma a alavancar o investimento privado em P&D e a melhorar a
produtividade da economia.
José Velloso - engenheiro mecânico, administrador
de empresas e presidente executivo da ABIMAQ
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