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quinta-feira, 4 de novembro de 2021

COP-2026: Poluição doméstica causa até 4,3 milhões de mortes prematuras por ano

Estudo mostra que a poluição intradomiciliar afeta cerca de 2,5 bilhões de pessoas nos países em desenvolvimento

A 26ª Conferência das Nações Unidas debate sobre questões climáticas entre os dias 1 e 12 de novembro, em Glasgow, na Escócia

 

Um estudo divulgado recentemente mostrou que a poluição do ar doméstico afeta cerca de 2,5 bilhões de pessoas em países em desenvolvimento, causando comorbidades e mortes.

 

O Dr. Herberto Chong Neto, diretor da Associação Brasileira de Alergia e Imunologia (ASBAI) e um dos pesquisadores do estudo, comenta abaixo algumas descobertas.

 

O cigarro é um poluente muito conhecido, mas o estudo do qual o Sr. participou, aponta outros poluentes intradomiciliares muito noviços à saúde. Quais se destacam?

A poluição do ar interno abrange diversos contaminantes, que podem ser classificados como biológicos e não biológicos:

 

Não biológicos: Poluição do ar doméstico (HAP), resultante do cozimento com combustíveis poluentes ("sujos"), que incluem carvão, querosene e biomassa (madeira, carvão vegetal, resíduos de colheitas e esterco animal).

 

Poluentes químicos do ar, como gases, material particulado, formaldeído e compostos orgânicos voláteis (VOCs).

 

Biológicos: alérgenos, principalmente ácaros da poeira doméstica, bem como insetos, pólen, fontes animais, fungos e endotoxinas bacterianas.

 

Esses poluentes podem ser considerados tão prejudiciais quanto o cigarro?

Sim, sem dúvida! São considerados um problema de saúde ambiental global.

 

O estudo mostrou que a poluição do ar doméstico afeta cerca de 2,5 bilhões de pessoas em países em desenvolvimento, causando comorbidades e mortes. O Sr. pode comentar os dados estatísticos encontrados nessa pesquisa?

Esse tipo de poluição causa entre 2,8 e 4,3 milhões de mortes prematuras a cada ano, equivalente a 7,7% da mortalidade global, o que representa um impacto superior ao da malária, tuberculose e HIV/AIDS somadas.

 

Dentro desse estudo de poluentes intradomiciliares, quem são os mais afetados, as crianças ou os adultos?

Dados publicados pela Organização Mundial da Saúde (OMS) mostram que a poluição do ar tem um impacto amplo e terrível na saúde e na sobrevivência das crianças. Uma em cada quatro mortes de crianças menores de cinco anos está direta ou indiretamente relacionada aos riscos ambientais. Tanto a poluição do ar ambiente quanto a doméstica contribuem para as infecções do trato respiratório, que em 2016 causaram 543 mil mortes de crianças menores de cinco anos relacionadas a riscos ambientais.

 

As crianças são significativamente afetadas pelo impacto do meio ambiente devido a: imaturidade biológica; desenvolvimento pulmonar pré-natal e pós-natal; maior expectativa de vida; e não tendo capacidade de tomada de decisão sobre questões ambientais.

 

Em contrapartida, nos adultos, a poluição do ar tem sido fortemente associada a um risco aumentado de mortalidade por doenças cardiovasculares, infarto do miocárdio, acidente vascular cerebral e hospitalização por insuficiência cardíaca congestiva e hipertensão.

 

No caso de gestantes que vivem em ambientes com esses poluentes, quais os riscos para o feto?

Há risco de alterar o desenvolvimento pulmonar fetal, com perda de função pulmonar e risco de desenvolver doença respiratória, como a asma. Houve também aumento do risco de eczema e sensibilização alérgica.

 

O estudo também levantou dados sobre a relação entre a poluição e a covid-19. O que pode ser observado?

A poluição do ar é um importante fator de risco e contribui para as principais doenças crônicas que aumentam a gravidade e o risco de morte por COVID-19. Altos níveis de poluição do ar afetam as defesas naturais do corpo contra os vírus transportados pelo ar, tornando as pessoas mais suscetíveis a contrair doenças virais, e é provável que isso também seja verdade para o SARS-CoV-2.

 

O que precisa ser feito para minimizar o impacto da poluição intradomiciliar?

Nossa classe médica pode contribuir com a sociedades a respeito da poluição intradomiciliar. Entre algumas recomendações, estão:

 

Esteja informado: Entenda a poluição do ar como fator de risco para as pessoas; identificar as fontes de exposição ambiental nas comunidades onde atuam.

 

Reconheça condições médicas associadas ou relacionadas à exposição: Um profissional de saúde pode identificar fatores de risco relacionados à poluição do ar fazendo perguntas pertinentes sobre o ambiente onde seus pacientes vivem ou trabalham.

 

Prescreva soluções e eduque famílias e comunidades: Para problemas relacionados à poluição do ar, como o consumo de combustíveis e aparelhos que consomem menos energia, os profissionais de saúde podem desempenhar um papel orientador.

 

Treine outras pessoas no campo da saúde e da educação: Os profissionais de saúde podem e devem aumentar o alcance de suas mensagens sobre os riscos da poluição do ar à saúde e as estratégias para reduzi-los. Eles podem envolver seus colegas em seus locais de trabalho, nos centros de saúde locais, em conferências e em associações profissionais. Também podem apoiar a inclusão da saúde ambiental das crianças no currículo de instituições de ensino fundamental e superior, especialmente, em escolas de medicina e enfermagem.

 

Aconselhar sobre soluções para representantes políticos e líderes de outros setores: Os profissionais de saúde estão bem posicionados para compartilhar seus conhecimentos com os tomadores de decisão, incluindo membros de governos locais e conselhos escolares, e com outros líderes comunitários. Os profissionais de saúde podem transmitir fielmente aos líderes os problemas de saúde causados pela poluição do ar, apoiar melhores padrões e políticas para reduzir a exposição prejudicial, defender o monitoramento e enfatizar a necessidade de proteger as pessoas vulneráveis.

 



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