Estudo mostra que a
poluição intradomiciliar afeta cerca de 2,5 bilhões de pessoas nos países em
desenvolvimento
A 26ª Conferência das Nações Unidas
debate sobre questões climáticas entre os dias 1 e 12 de novembro, em Glasgow,
na Escócia
Um estudo divulgado recentemente mostrou que a poluição do
ar doméstico afeta cerca de 2,5 bilhões de pessoas em países em
desenvolvimento, causando comorbidades e mortes.
O
Dr. Herberto Chong Neto, diretor da Associação Brasileira de Alergia e Imunologia (ASBAI) e um
dos pesquisadores do estudo, comenta abaixo algumas descobertas.
O
cigarro é um poluente muito conhecido, mas o estudo do qual o Sr. participou,
aponta outros poluentes intradomiciliares muito noviços à saúde. Quais se
destacam?
A
poluição do ar interno abrange diversos contaminantes, que podem ser
classificados como biológicos e não biológicos:
Não
biológicos: Poluição do ar doméstico (HAP), resultante do cozimento com
combustíveis poluentes ("sujos"), que incluem carvão, querosene e
biomassa (madeira, carvão vegetal, resíduos de colheitas e esterco animal).
Poluentes
químicos do ar, como gases, material particulado, formaldeído e compostos
orgânicos voláteis (VOCs).
Biológicos:
alérgenos, principalmente ácaros da poeira doméstica, bem como insetos, pólen,
fontes animais, fungos e endotoxinas bacterianas.
Esses
poluentes podem ser considerados tão prejudiciais quanto o cigarro?
Sim,
sem dúvida! São considerados um problema de saúde ambiental global.
O
estudo mostrou que a poluição do ar doméstico afeta cerca de 2,5 bilhões de
pessoas em países em desenvolvimento, causando comorbidades e mortes. O Sr.
pode comentar os dados estatísticos encontrados nessa pesquisa?
Esse
tipo de poluição causa entre 2,8 e 4,3 milhões de mortes prematuras a cada ano,
equivalente a 7,7% da mortalidade global, o que representa um impacto superior
ao da malária, tuberculose e HIV/AIDS somadas.
Dentro
desse estudo de poluentes intradomiciliares, quem são os mais afetados, as
crianças ou os adultos?
Dados
publicados pela Organização Mundial da Saúde (OMS) mostram que a poluição do ar
tem um impacto amplo e terrível na saúde e na sobrevivência das crianças. Uma
em cada quatro mortes de crianças menores de cinco anos está direta ou
indiretamente relacionada aos riscos ambientais. Tanto a poluição do ar
ambiente quanto a doméstica contribuem para as infecções do trato respiratório,
que em 2016 causaram 543 mil mortes de crianças menores de cinco anos
relacionadas a riscos ambientais.
As
crianças são significativamente afetadas pelo impacto do meio ambiente devido
a: imaturidade biológica; desenvolvimento pulmonar pré-natal e pós-natal; maior
expectativa de vida; e não tendo capacidade de tomada de decisão sobre questões
ambientais.
Em
contrapartida, nos adultos, a poluição do ar tem sido fortemente associada a um
risco aumentado de mortalidade por doenças cardiovasculares, infarto do
miocárdio, acidente vascular cerebral e hospitalização por insuficiência
cardíaca congestiva e hipertensão.
No
caso de gestantes que vivem em ambientes com esses poluentes, quais os riscos
para o feto?
Há
risco de alterar o desenvolvimento pulmonar fetal, com perda de função pulmonar
e risco de desenvolver doença respiratória, como a asma. Houve também aumento
do risco de eczema e sensibilização alérgica.
O
estudo também levantou dados sobre a relação entre a poluição e a covid-19. O
que pode ser observado?
A
poluição do ar é um importante fator de risco e contribui para as principais
doenças crônicas que aumentam a gravidade e o risco de morte por COVID-19.
Altos níveis de poluição do ar afetam as defesas naturais do corpo contra os
vírus transportados pelo ar, tornando as pessoas mais suscetíveis a contrair
doenças virais, e é provável que isso também seja verdade para o SARS-CoV-2.
O
que precisa ser feito para minimizar o impacto da poluição intradomiciliar?
Nossa
classe médica pode contribuir com a sociedades a respeito da poluição
intradomiciliar. Entre algumas recomendações, estão:
Esteja
informado: Entenda a poluição do ar como fator de
risco para as pessoas; identificar as fontes de exposição ambiental nas comunidades
onde atuam.
Reconheça
condições médicas associadas ou relacionadas à exposição:
Um profissional de saúde pode identificar fatores de risco relacionados à
poluição do ar fazendo perguntas pertinentes sobre o ambiente onde seus
pacientes vivem ou trabalham.
Prescreva
soluções e eduque famílias e comunidades:
Para problemas relacionados à poluição do ar, como o consumo de combustíveis e
aparelhos que consomem menos energia, os profissionais de saúde podem
desempenhar um papel orientador.
Treine
outras pessoas no campo da saúde e da educação:
Os profissionais de saúde podem e devem aumentar o alcance de suas mensagens
sobre os riscos da poluição do ar à saúde e as estratégias para reduzi-los.
Eles podem envolver seus colegas em seus locais de trabalho, nos centros de
saúde locais, em conferências e em associações profissionais. Também podem
apoiar a inclusão da saúde ambiental das crianças no currículo de instituições
de ensino fundamental e superior, especialmente, em escolas de medicina e
enfermagem.
Aconselhar
sobre soluções para representantes políticos e líderes de outros setores:
Os profissionais de saúde estão bem posicionados para compartilhar seus
conhecimentos com os tomadores de decisão, incluindo membros de governos locais
e conselhos escolares, e com outros líderes comunitários. Os profissionais de
saúde podem transmitir fielmente aos líderes os problemas de saúde causados
pela poluição do ar, apoiar melhores padrões e políticas para reduzir a
exposição prejudicial, defender o monitoramento e enfatizar a necessidade de
proteger as pessoas vulneráveis.
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