Estimativas
INCA indicam que ao ano 625 mil novos casos de tumores malignos são
diagnosticados no país; Terapias inovadoras, baseadas no conceito de oncologia
de precisão, são as grandes aliadas para qualidade de vida dos pacientes
A incidência global de
câncer deve atingir patamares recorde nos próximos anos, segundo a Organização
Mundial da Saúde (OMS), apresentando uma evolução contínua que deve fazer com
que em 2040 mais de 28 milhões de pessoas recebam o diagnóstico da doença - um
aumento de quase 50% em relação aos registros mundiais feitos em 2020, quando
18 milhões de novos casos foram detectados mundialmente. Atualmente,
considerando uma prevalência de 5 anos da doença, a entidade informa que mais
de 50 milhões de pessoas estão vivendo com Câncer em todo mundo, sendo que 1,5
milhão delas está no Brasil. Por aqui, este ano outros 625 mil novos casos da
doença serão somados a essa equação em 2021, segundo o Instituto Nacional do
Câncer (INCA).
Vale lembrar ainda que
as neoplasias malignas já figuram entre as principais causas de morte em mais
de 200 países, o que exige das lideranças governamentais e dos cidadãos de
forma geral uma atenção aos cuidados com a saúde, a partir da conscientização
sobre hábitos de vida saudáveis e a detecção precoce de tumores por meio de uma
rotina de acompanhamento médico e exames. A boa notícia é que aliada à
ampliação de campanhas para conscientização sobre o câncer, a ciência avança a
passos largos no acesso à saúde e a tratamentos avançados, com a chegada de
drogas inovadoras e tratamentos que prometem melhorar não só as chances de sobrevivência,
mas também ao bem estar dos pacientes.
"Alternativas de
terapias cada vez mais personalizadas e individualizadas fazem com que o câncer
se aproxime cada vez mais de se tornar uma doença considerada crônica, com
benefícios efetivos à qualidade de vida de pessoas com diagnóstico da
doença", aponta o oncologista Bruno Ferrari, fundador e CEO do Grupo
Oncoclínicas.
Para ele, o futuro do
tratamento da doença é promissor, e permitirá que cada vez mais pessoas tenham
alternativas terapêuticas para muito além da quimioterapia e radioterapia.
"Temos novidades que têm se mostrado bem sucedidas nos meio médico e
científico, como a imunoterapia e o tratamento com anticorpos monoclonais. O
chamado CAR-T Cell também vem conquistando grande espaço em casos de tumores
hematológicos, um avanço que se mostra animador quando nos referimos a em
especial a leucemias e linfomas", aponta.
O Dr. Bruno enfatiza
que a produção de conhecimento na área da oncologia no Brasil e no mundo passa
por uma fase de crescimento incomparável. Mas, mesmo sinalizando os próximos
anos como positivos e de chegada de avanços, lembra que há desafios no tocante
às aprovações necessárias para adoção dos testes moleculares e chegada de novas
medicações, como também na garantia do acesso igualitário à toda sociedade. Apesar
da ressalva, o médico garante que há motivos para comemorar e indica que a
informação é ferramenta essencial para assegurar o protagonismo a todos,
pacientes ou não, em um momento de mudanças nos paradigmas da doença.
Junto com o Dr. Bruno
Ferrari, os oncologistas do Grupo Oncoclínicas Clarissa Mathias, Carlos
Barrios, Carlos Gil e Wellington Azevedo esclarecem as principais perspectivas
no combate ao câncer:
Análise genômica é
palavra de ordem
O avanço dos estudos
envolvendo o genoma humano, código genético presente nas células e de forma
única em cada indivíduo, fez com que nos últimos anos a análise dos genes se
tornasse parte indispensável das áreas da medicina. Dentro delas, a oncologia
vem se beneficiando tanto na precisão diagnóstica, quanto na eficácia do
tratamento - ambas proporcionadas por essas avaliações.
Segundo o Dr. Carlos
Gil, exames que ajudam a detectar o perfil molecular de tumores como de pulmão,
intestino e melanoma têm se mostrado importantes aliados no controle da
condição.
"Esse tipo de
teste proporciona maior precisão e melhor qualidade no diagnóstico, o que é
fundamental para uma definição precisa do tratamento. Isso porque, apenas
conhecendo com precisão as células malignas o profissional
de saúde conseguirá especificar o melhor tratamento para aquele caso",
comenta.
Individualização e
imunoterapia
O conhecimento cada
vez maior de como as células cancerígenas funcionam em cada tipo de organismo
foi o avanço necessário para implementar outros tratamentos que têm
revolucionado a oncologia. O principal dele é a imunoterapia, citada no Prêmio
Nobel de Fisiologia e Medicina de 2018.
Segundo o Dr. Bruno,
ela é um tipo de tratamento biológico com o objetivo de potencializar o sistema
imunológico do indivíduo para combater o câncer. "A prática terapêutica
vem apresentando resultados muito significativos para diversos tumores,
especialmente mama, pulmão, colo de útero, endométrio, melanoma e cânceres de
cabeça e pescoço".
Um exemplo é o câncer
de mama triplo negativo, um subtipo agressivo da doença que afeta
principalmente mulheres jovens e representa, segundo a Dr. Clarissa, cerca de
13% dos casos. "O uso da imunoterapia com quimioterapia apresentou aumento
significativo de resposta patológica completa - ou seja, quando a doença
desaparece após o uso de um medicamento o que é uma importante evolução contra
esse subtipo, normalmente associado a um prognóstico ruim por causa de sua
agressividade", pontua a oncologista.
As terapias-alvo
também se mostram cada vez mais eficazes e são boa notícia para os próximos
anos. Os testes com esses medicamentos têm mostrado "resultados
excelentes, principalmente para para tumores de mama e de ovário", frisa a
Dra Clarissa, que também é a atual presidente da Sociedade Brasileira de
Oncologia Clínica (SBOC).
O tratamento é feito
com substâncias que foram desenvolvidas para identificar e atacar
características específicas das células cancerígenas, bloqueando assim o
crescimento do tumor e permitindo que o organismo do paciente recupere as
condições para derrotá-lo.
Anticorpos
monoclonais: menos toxicidade e maior efetividade
Um dos destaques,
nesse sentido, são as terapias conjugadas de quimioterapia com anticorpos, por
exemplo, como ressalta o Dr. Carlos Barrios. "O que acontece, nesses
casos, é que a combinação vai levar a quimioterapia diretamente para a célula
cancerígena, focando o tratamento apenas nela, o que diminui a toxicidade para
o organismo, ao mesmo tempo que aumenta a efetividade do tratamento", diz.
Segundo ele, é
importante frisar que, para alcançar bons resultados com essas terapias, um
fator é primordial: conhecer profundamente o tipo de câncer e as
características de cada paciente e cada célula, para atingir a doença com mais
precisão.
"É preciso estar
equipado com tecnologia que identifique as alterações genéticas com detalhes.
Não são muitos locais que oferecem esse tipo de tratamento", afirma.
Para linfomas e
leucemia, uma alternativa de sucesso
Uma nova opção de
tratamento para linfoma e leucemia, que vem sendo estudada por meio da terapia
genética, é a do CAR-T Cell, que usa células do próprio pacientes geneticamente
modificadas em laboratório para combater o câncer. A estratégia consiste em
habilitar células de defesa do corpo (linfócitos T) com receptores capazes de
reconhecer o tumor e atacá-lo de forma contínua e específica.
O CAR-T cell é uma
combinação de várias tecnologias, envolvendo a terapia gênica, imunoterapia e
terapia celular. Nos Estados Unidos e na Europa já existem produtos comercialmente
disponíveis.
O Dr. Wellington
explica que o Brasil ainda está atrasado, em função da indefinição da
legislação que regula esse assunto. Mas, ele ressalta que a Anvisa irá liberar
em breve uma autorização que regulamenta o uso. "A expectativa é que ainda
em 2020 as indústrias farmacêuticas já sejam capazes de registrar esses
medicamentos no país", complementa.
O alto custo para a
produção preocupa, mas o avanço é inegável: o tratamento conquistou
popularidade no Brasil na segunda metade de 2019, quando um paciente com
linfoma não Hodgkins avançado do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina
de Ribeirão Preto da USP, no interior de São Paulo, foi considerado o primeiro
paciente da América Latina a alcançar a remissão da doença com uso das células
CAR-T.
Para o Dr. Wellington,
a estratégia usada para o tratamento abre frentes para uso não só em tumores
hematológicos, como o linfoma, podendo possivelmente ser usada para qualquer
tipo de câncer. "A metodologia já conta com pesquisas voltadas a protocolos
para leucemia mieloide aguda e mieloma múltiplo. Há expectativas de que em um
futuro próximo seja possível o uso do CAR-T Cell em tumores sólidos, caso do
câncer de pâncreas, apenas para citar uma das possibilidades que já estão em
discussão", finaliza.
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