Os
primeiros mil dias são fundamentais na vida de uma criança. É nessa fase que
ocorre o maior desenvolvimento físico, cognitivo e emocional do bebê. Contado
desde o início da gestação, é o momento de ouro, que exige maior cuidado,
atenção e acompanhamento, que serão fundamentais para um crescimento saudável e
para evitar futuros problemas de saúde.
A fase
abrange os 270 dias da gestação aos 730 dias, até que o bebê complete dois anos
de idade. Nesse momento tão sensível, é onde acontece a nossa programação
genética, pois fatores ambientais podem atuar, modificando a leitura dos nossos
genes. É o conceito de epigenética. Dentre as influências ambientais, a má
alimentação vem se mostrando como uma das principais causadoras de futuros
problemas físicos, como cardiovasculares, obesidade e diabetes, bem como
doenças psicológicos, como depressão.
Em um
estudo divulgado pela Unicef, pelo menos uma em cada três crianças com menos de
cinco anos está subnutrida ou com sobrepeso. Para piorar, quase duas em cada
três crianças entre seis meses e dois anos não recebem alimentos necessários
para sustentar o desenvolvimento adequado de seu corpo e de seu cérebro.
Cada vez
mais mulheres estão malnutridas ao engravidarem, seja por meio de exposições
tóxicas de alimentos, opções gordurosas ou outros fatores – fato que se não for
cuidado logo, poderá impactar severamente no desenvolvimento de seu filho. Por
isso, a modulação da saúde desde a fase gestacional se torna fundamental para
evitar ao máximo tais problemas, programando o desenvolvimento e crescimento do
bebê graças à maior sensibilidade de seu sistema neurológico e endócrino nos
primeiros mil dias.
No início
da vida, os dois fatores de grande impacto para o bebê são o parto normal, uma
vez que o recém-nascido é colonizado pela microbiota materna, e,
indiscutivelmente, o aleitamento materno. Já sabemos que o leite materno
apresenta uma composição específica para o desenvolvimento físico e neuronal,
sem falar que bebês amamentados apresentam uma microbiota intestinal diferente
dos bebês que utilizam fórmulas – o que têm se mostrado como um fator protetor
da saúde no futuro.
Muitos
outros cuidados, contudo, devem ser iniciados antes mesmo da gravidez, com pelo
menos seis meses de antecedência. Assim, qualquer problema identificado poderá
ser tratado devidamente a fim de garantir uma gestação mais saudável. As
futuras mães devem fazer um pré-natal adequado, dormir bem, praticar exercícios
físicos regularmente e dar preferência a alimentos naturais, como verduras e
legumes, evitando ultra processados e opções mais gordurosas.
Quando o
bebê nascer, estimule o aleitamento materno e, após a introdução alimentar, dê
preferência também por alimentos in natura, sem açúcar, agrotóxicos ou ultra
processados. A suplementação, caso necessária, deve ser individualizada, o que
torna indispensável o acompanhamento de um pediatra desde o pré-natal. É ele
quem irá conhecer e acompanhar a criança desde a barriga, identificando onde
poderá interferir antecipadamente e, como ela irá evoluir.
A medicina
de prevenção é o melhor cuidado que as mães podem seguir para garantir um
desenvolvimento saudável de seus filhos. Com ela, diversos problemas de saúde
como diabetes, hipertensão, obesidade, câncer e distúrbios de
neurodesenvolvimento, como autismo, podem ser tratados desde cedo. Por isso,
não deixe de buscar um obstetra, nutricionista e pediatra para chamar de seu –
e, acima de tudo, dê amor, carinho e colo aos pequenos. Brincar, estar próximo
e incentivar o contato com a natureza também são ações que contribuem muito
para tornar os primeiros mil dias mais saudáveis.
Dra. Patrícia Consorte - pediatra e
especialista em nutrição materno-infantil.
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