Especialista
e psicóloga do LIV, Renata Ishida fala sobre as diferentes configurações
familiares e a desconstrução do estereótipo de gênero no cuidado de crianças e
adolescentes
Nas últimas décadas, o
papel do pai na sociedade tem se transformado e evoluído. Historicamente, o pai
desempenhava uma função disciplinadora e rígida, e a interação e participação
nos cuidados diários e na educação dos filhos era reduzida. Hoje em dia, além
de termos pais mais participativos, as construções familiares também mudaram e
são diversas. Em muitos lares, não vemos mais as composições tradicionais, mas
sim famílias compostas por casais homoafetivos, mãe solteira ou apenas o pai,
entre outras. E essa diversidade traz muitos benefícios para a construção e
desenvolvimento socioemocional das crianças e vai além do que podemos imaginar.
Para Renata Ishida,
psicóloga clínica e coordenadora pedagógica do LIV - Laboratório Inteligência
de Vida - a presença da família na vida de um filho, seja ela composta por
figuras masculinas ou não, é fundamental quando se pensa em um bom
desenvolvimento socioemocional. "Essas diversas configurações
familiares permitem criar crianças de uma maneira muito mais saudável, sendo
uma educação sem mentiras e tabus, que se pode dialogar, e ser menos preconceituosa.
Essas famílias valorizam muito mais o afeto, o cuidado e o lugar de segurança,
do que a sua constituição tradicional conservadora de pai e mãe, um lugar de
reprodução. E isso para a construção socioemocional das crianças é muito
valioso. Elas vão crescer se sentindo seguras, aceitas, e vão aprender que o
mundo é diverso. E vão saber que a diversidade é algo natural e positivo",
explica.
Para a psicóloga, em
países como o Brasil, que ressaltam e acreditam que os homens têm um papel e a
mulher tem outro, é fundamental que a educação consiga desconstruir esses
estereótipos de gênero. "Quando se tem uma figura masculina presente e
participativa na vida das crianças, isso mostra que ser cuidadoso com o outro,
afetuoso, se importar, ter uma escuta ativa, é algo que todo mundo pode
desenvolver. Isso evita que estereótipos de homem e mulher sejam criados. Esse
processo de cuidado entre pai e filho mostra às crianças que os homens também
choram, também sentem medo, se sentem inseguros, ficam com dúvidas, assim como
as mães. Quando uma criança vê um homem cuidando de uma criança, ela aprende
que isso também faz parte da vida, que isso também é responsabilidade dos
homens."
Segundo Renata, a
habilidade de cuidar do outro não nasce com as pessoas. Essa habilidade é
aprendida. "As mulheres são ensinadas a cuidar do outro desde pequenas
quando ganham bonecas. A partir do momento que nós podemos mostrar para as
crianças que todo mundo faz parte desse processo de criação, educação, cuidado,
troca, afeto, conversa, nós vamos desconstruindo essa ideia de que existe coisa
que é feita pra pai e coisa que é feita pra mãe, feito para homem, feita para
mulher. Isso dá a liberdade para as crianças, que serão mulheres ou homens no
futuro, fazerem e serem o que quiserem."
E uma família com a
ausência de uma figura masculina tem potencial para gerar conflitos no
desenvolvimento psicológico da criança? Renata explica: "Não é a
presença ou ausência do pai que vai fazer essa diferença, mas sim uma
comunidade social em torno da criança que seja diversa, acolhedora, presente, e
que exerça o cuidado dessa criança, independentemente de ser homem ou mulher.
A educação da criança fica muito mais rica quando se tem uma diversidade de
pessoas participando dela, seja de diferentes idades, de diferentes culturas,
de diferentes sexos. Isso vai gerar uma criança muito mais crítica, curiosa,
empática e interessada pelo mundo."
Renata Ishida - psicóloga clínica e coordenadora pedagógica do LIV - Mestra em
Psicologia Social pela PUC-São Paulo e especialista em infância e adolescência,
Renata atuou 10 anos na Saúde Pública, mas foi na área da Educação que percebeu
maior potência do seu trabalho no que diz respeito à transformação, criação e
encontros, ou seja, na própria possibilidade de produção do que considera
saúde. Acredita que precisamos de menos fórmulas e mais escuta - de si, do
outro e do mundo - para que consigamos construir com criatividade e
responsabilidade caminhos diante dos desafios da vida.
LIV - Laboratório
Inteligência de Vida
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