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segunda-feira, 30 de agosto de 2021

Estudo traz reflexões sobre o Brasil pós-pandêmico

Desenvolvido pela VOX - We Study People, levantamento produzido em formato de vídeo ressalta impactos da pandemia no cotidiano que permanecerão na rotina dos brasileiros

 

Desde março de 2020 a vida dos brasileiros foi totalmente transformada. Com a chegada da Covid-19 ao país, fomos obrigados a nos relacionar em um mundo pandêmico e aprender suas novas regras. Olhando para este cenário, a VOX, instituição que desenvolve pesquisas especializadas em comportamento e cultura contemporânea, realizou uma análise aprofundada em relação aos efeitos desta nova realidade na vida das famílias brasileiras e de como estas transformações farão parte de seu futuro. Os resultados do estudo podem ser acompanhados através de vídeos que trazem as entrevistas feitas com 20 representantes das classes A, B e C das cinco regiões brasileiras, de 15 a 63 anos de idade, além de comentários de especialistas nas áreas de Ciências Sociais, Medicina, Antropologia, Economia e Produção Cultural.

Intitulado "Em Suspenso - reflexões sobre a pandemia no Brasil", o estudo qualitativo e centrado no ser humano, realizado nos meses de abril, maio e agosto de 2020, aponta que, além do impacto na maneira de trabalhar, as pessoas também vêm enfrentando mudanças em outras diversas esferas da vida, como consumo, saúde, aprendizagem, privacidade, entretenimento, relações sociais, absorção de informação e, principalmente, estão sendo obrigadas a lidar com uma nova noção de tempo. "A sociedade começou a viver um ‘presente eterno’, um futuro que não chega, congelando planos. Antes, o tempo era acelerado e tínhamos a sensação de que continuaria acelerando ainda mais. De repente, surgiu a pandemia, obrigando-nos a lidar e enxergar nossas vidas através de outro prisma", explica Dora Faggin, sócia e diretora de pesquisa da VOX We Study People.

A partir das óticas da sociologia, antropologia e psicologia, o levantamento traz à tona, ainda, os impactos e os novos hábitos que provavelmente permanecerão na rotina da sociedade brasileira como, por exemplo, na alimentação, na saúde mental das pessoas e na forma como elas se relacionam com o consumo, na comunidade e com serviços públicos. "Durante a pandemia as pessoas puderam olhar mais para si mesmas, ficando mais atentas - em especial as mulheres - às formas de manter uma vida mais balanceada e de buscarem ferramentas para manutenção do equilíbrio emocional. Esse ganho, principalmente nas classes mais abastadas da sociedade, dificilmente irá retroceder", ressalta Francisco Freire, sócio e diretor de estratégia da VOX.


Consumo mais racional - Outra conclusão do estudo é que as pessoas parecem ter entendido sua importância no processo de consumo, retirando as empresas de um lugar de "semi-deusas" que ditam a necessidade de aquisição de determinados produtos. A nova forma de lidar com o tempo, fez com que muitas compras não fossem mais realizadas de maneira impulsiva, promovendo um momento maior de reflexão, da real necessidade daquele produto. O dinheiro, incerto neste período, também foi um dos motivos principais para o controle de gastos. "Como eu perdi o meu emprego no início da pandemia, isso fez com que as despesas da casa precisassem ter mais controle", contou Gabriela Serafim, moradora de Belém (PA), uma das entrevistadas no estudo.

Além disso, a pesquisa ressalta que o consumidor passou a ter uma postura mais crítica também em relação ao posicionamento das corporações. Não basta mais que as marcas entreguem apenas um bom produto. Segundo a análise feita pela VOX, cada vez mais os clientes querem saber qual foi a postura da empresa diante de uma crise - e a pandemia serve como um teste inquestionável nesse sentido. "Como essa empresa se posiciona em momentos difíceis? O que ela fez para diminuir os efeitos negativos da situação? Como tratou seus colaboradores ou voltou seus recursos para atender às necessidades urgentes da sociedade? Essas questões vieram para ficar na hora de escolher o que consumir", exemplifica Francisco.

A importância dos serviços públicos ficou mais latente com o surgimento e agravamento da pandemia, pois a população já não consegue mais se imaginar sem um Sistema Único de Saúde (SUS). Apesar da noção de que instituições públicas estão longe de seu ideal, o seu esforço, a ética e a capacidade de colaborar com a sociedade em momentos de crise foram enaltecidos pelos entrevistados.

Em relação ao consumo de conteúdo e acesso à informação, o levantamento mostrou uma tendência de buscar fontes mais sérias e confiáveis, já que durante uma crise sanitária mundial em que existe uma enxurrada de informações e orientações, muitas vezes conflitantes, a população teve que realizar, de certa maneira, uma gestão mais individual das informações relacionadas à saúde. "A pandemia deixou as pessoas em risco, literalmente. Identificamos que a qualidade do conteúdo e das informações passou a ser mais importante que a quantidade. O povo precisa saber onde encontrar as fontes certas para se informar e esta tendência só cresce", avalia Dora, que explica ainda que esse é o momento para que as empresas de comunicação precisam encontrar maneiras de ressaltar seu trabalho daqui para frente.


Espaços privados: a casa como um escudo de proteção e um local onde público e privado se misturam

Segundo análise da VOX a partir das entrevistas realizadas, antes era possível comparar a vivência na rua com a exposição em um palco, enquanto a casa fazia parte dos bastidores. Ou seja, a parte mais importante de suas vidas acontecia fora de casa. Mas para se sentir equilibrado em casa, as pessoas precisavam da vida fora de suas paredes. Já durante a pandemia, a moradia tornou-se para muitos o único lugar seguro e, por outro lado, os moradores tiveram que se adequar a um convívio intenso, perdendo boa parte da privacidade e dos momentos de individualidade, reconfigurando o uso dos espaços e a convivência familiar de forma geral.

Assim, a pandemia acabou ressignificando as relações familiares ou de pessoas que dividem o mesmo teto. Elas foram forçadas a estarem juntas por muito tempo compartilhando suas rotinas, o que antes não era comum, casais, amigos e familiares descobriram que o fato de estarem sempre fora de casa não permitia que conhecessem verdadeiramente as pessoas com quem partilham os espaços privados.


Cicatrizes da pandemia - Algumas das esferas mais impactadas, como a do trabalho e a do estudo, sem dúvida sentirão os efeitos da pandemia a longo prazo, já que as distâncias sociais e as disparidades de condições foram escancaradas. A classe A teve como mudança mais profunda a transição para o homeoffice, enquanto a classe B teve que se reinventar como alternativa para a crise de desemprego acentuada pela pandemia. Já a classe C, além de ter sido mais exposta ao vírus, precisou frequentemente se submeter a condições de trabalho inadequadas para uma crise sanitária.

Nas escolas, muitos alunos sentiram-se desmotivados por conta das aulas online e também pela falta de estrutura, tanto de espaço, como de computadores e acesso à internet de qualidade e haverá um enorme desafio na retomada das aulas presenciais, com um provável alto índice de evasão, seja nas escolas, seja nas universidades, e em especial nas classes mais baixas, onde a instabilidade e as incertezas são os principais componentes das perspectivas de futuro.


Sociedade: o futuro que não veio

Em suma, as dificuldades durante a pandemia obrigaram o povo brasileiro a rever acordos sociais, a utilização das cidades e os modos de pensar e agir. "Nesse cenário de incertezas, sentimos um forte impacto na autoestima da população, pois o brasileiro parou de acreditar no outro, além de ter se sentido completamente abandonado por quem deveria protegê-lo. E isso não se restringe aos governos, estendendo-se também aos empregadores, escolas, professores, empresas e lideranças de uma forma geral. Dessa forma, ele acabou deixando de acreditar em um futuro melhor. O futuro, portanto, além da nossa própria identidade, precisarão ser reinventados", conclui Dora Faggin.

 

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