Desenvolvido pela VOX
- We Study People, levantamento produzido em formato de vídeo ressalta impactos
da pandemia no cotidiano que permanecerão na rotina dos brasileiros
Desde março de 2020 a
vida dos brasileiros foi totalmente transformada. Com a chegada da Covid-19 ao
país, fomos obrigados a nos relacionar em um mundo pandêmico e aprender suas novas regras.
Olhando para este cenário, a VOX, instituição que desenvolve pesquisas
especializadas em comportamento e cultura contemporânea, realizou uma análise
aprofundada em relação aos efeitos desta nova realidade na vida das famílias
brasileiras e de como estas transformações farão parte de seu futuro. Os
resultados do estudo podem ser acompanhados através de vídeos que trazem as
entrevistas feitas com 20 representantes das classes A, B e C das cinco regiões
brasileiras, de 15 a 63 anos de idade, além de comentários de especialistas nas áreas de Ciências
Sociais, Medicina, Antropologia, Economia e Produção Cultural.
Intitulado "Em
Suspenso - reflexões sobre a pandemia no Brasil", o estudo qualitativo e
centrado no ser humano, realizado nos meses de abril, maio e agosto de 2020,
aponta que, além do impacto na maneira de trabalhar, as pessoas também vêm enfrentando mudanças
em outras diversas esferas da vida, como consumo, saúde, aprendizagem,
privacidade, entretenimento, relações sociais, absorção de informação e,
principalmente, estão sendo obrigadas a lidar com uma nova noção de tempo.
"A sociedade começou a viver um ‘presente eterno’, um futuro que não
chega, congelando planos. Antes, o tempo era acelerado e tínhamos a sensação de
que continuaria acelerando ainda mais. De repente, surgiu a pandemia,
obrigando-nos a lidar e enxergar nossas vidas através de outro prisma",
explica Dora Faggin, sócia e diretora de pesquisa da VOX We Study People.
A partir das óticas da
sociologia, antropologia e psicologia, o levantamento traz à tona, ainda, os
impactos e os novos hábitos que provavelmente permanecerão na rotina da
sociedade brasileira como, por exemplo, na alimentação, na saúde mental das
pessoas e na forma como elas se relacionam com o consumo, na comunidade e com
serviços públicos. "Durante a pandemia as pessoas puderam olhar mais para
si mesmas, ficando mais atentas - em especial as mulheres - às formas de manter
uma vida mais balanceada e de buscarem ferramentas para manutenção do
equilíbrio emocional. Esse ganho, principalmente nas classes mais abastadas da
sociedade, dificilmente irá retroceder", ressalta Francisco Freire, sócio
e diretor de estratégia da VOX.
Consumo mais racional
- Outra conclusão do
estudo é que as pessoas parecem ter entendido sua importância no processo de
consumo, retirando as empresas de um lugar de "semi-deusas" que ditam
a necessidade de aquisição de determinados produtos. A nova forma de lidar com
o tempo, fez com que muitas compras não fossem mais realizadas de maneira
impulsiva, promovendo um momento maior de reflexão, da real necessidade daquele
produto. O dinheiro, incerto neste período, também foi um dos motivos
principais para o controle de gastos. "Como eu perdi o meu emprego no
início da pandemia, isso fez com que as despesas da casa precisassem ter mais
controle", contou Gabriela Serafim, moradora de Belém (PA), uma das
entrevistadas no estudo.
Além disso, a pesquisa
ressalta que o consumidor passou a ter uma postura mais crítica também em
relação ao posicionamento das corporações. Não basta mais que as marcas
entreguem apenas um bom produto. Segundo a análise feita pela VOX, cada vez
mais os clientes querem saber qual foi a postura da empresa diante de uma crise
- e a pandemia serve como um teste inquestionável nesse sentido. "Como
essa empresa se posiciona em momentos difíceis? O que ela fez para diminuir os
efeitos negativos da situação? Como tratou seus colaboradores ou voltou seus
recursos para atender às necessidades urgentes da sociedade? Essas questões
vieram para ficar na hora de escolher o que consumir", exemplifica
Francisco.
A importância dos
serviços públicos ficou mais latente com o surgimento e agravamento da
pandemia, pois a população já não consegue mais se imaginar sem um Sistema
Único de Saúde (SUS). Apesar da noção de que instituições públicas estão longe
de seu ideal, o seu esforço, a ética e a capacidade de colaborar com a
sociedade em momentos de crise foram enaltecidos pelos entrevistados.
Em relação ao consumo
de conteúdo e acesso à informação, o levantamento mostrou uma tendência de
buscar fontes mais sérias e confiáveis, já que durante uma crise sanitária
mundial em que existe uma enxurrada de informações e orientações, muitas vezes
conflitantes, a população teve que realizar, de certa maneira, uma gestão mais
individual das informações relacionadas à saúde. "A pandemia deixou as
pessoas em risco, literalmente. Identificamos que a qualidade do conteúdo e das
informações passou a ser mais importante que a quantidade. O povo precisa saber onde encontrar
as fontes certas para se informar e esta tendência só cresce", avalia
Dora, que explica ainda que esse é o momento para que as empresas de
comunicação precisam encontrar maneiras de ressaltar seu trabalho daqui para
frente.
Espaços privados: a casa como um escudo de proteção e um local onde público e privado se misturam
Segundo análise da VOX a partir das entrevistas
realizadas, antes era possível comparar a vivência na rua com a exposição em um
palco, enquanto a casa fazia parte dos bastidores. Ou seja, a parte mais
importante de suas vidas acontecia fora de casa. Mas para se sentir equilibrado
em casa, as pessoas precisavam da vida fora de suas paredes. Já durante a
pandemia, a moradia tornou-se para muitos o único lugar seguro e, por outro
lado, os moradores tiveram que se adequar a um convívio intenso, perdendo boa
parte da privacidade e dos momentos de individualidade, reconfigurando o uso
dos espaços e a convivência familiar de forma geral.
Assim, a pandemia
acabou ressignificando as relações familiares ou de pessoas que dividem o mesmo
teto. Elas foram forçadas a estarem juntas por muito tempo compartilhando suas
rotinas, o que antes não era comum, casais, amigos e familiares descobriram que
o fato de estarem sempre fora de casa não permitia que conhecessem
verdadeiramente as pessoas com quem partilham os espaços privados.
Cicatrizes da pandemia
- Algumas das esferas
mais impactadas, como a do trabalho e a do estudo, sem dúvida sentirão
os efeitos da pandemia a longo prazo, já que as distâncias sociais e as
disparidades de condições foram escancaradas. A classe A teve como
mudança mais profunda a transição para o homeoffice, enquanto a classe
B teve que se reinventar como alternativa para a crise de desemprego acentuada
pela pandemia. Já a classe C, além de ter sido mais exposta ao vírus, precisou
frequentemente se submeter a condições de trabalho inadequadas para uma crise
sanitária.
Nas escolas, muitos
alunos sentiram-se desmotivados por conta das aulas online e também pela falta
de estrutura, tanto de espaço, como de computadores e acesso à internet de
qualidade e haverá um enorme desafio na retomada das aulas presenciais, com um
provável alto índice de evasão, seja nas escolas, seja nas universidades, e em
especial nas classes mais baixas, onde a instabilidade e as incertezas são os
principais componentes das perspectivas de futuro.
Sociedade: o futuro
que não veio
Em suma, as dificuldades
durante a pandemia obrigaram o povo brasileiro a rever acordos sociais, a
utilização das cidades e os modos de pensar e agir. "Nesse cenário de
incertezas, sentimos um forte impacto na autoestima da população, pois o
brasileiro parou de acreditar no outro, além de ter se sentido completamente
abandonado por quem deveria protegê-lo. E isso não se restringe aos governos,
estendendo-se também aos empregadores, escolas, professores, empresas e
lideranças de uma forma geral. Dessa forma, ele acabou deixando de acreditar em
um futuro melhor. O futuro, portanto, além da nossa própria identidade,
precisarão ser reinventados", conclui Dora Faggin.
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