Há 1.953 anos morreu Nero, imperador de Roma. Dos quatro membros da Dinastia Júlio-claudiana, apenas Cláudio, o penúltimo, tentou a prosperidade de Roma. A esposa Messalina conspirou contra ele e foi condenada à morte. Naquele tempo, liberdade era algo perigoso, divergir dos poderosos um crime grave.
O primeiro reinado da polêmica dinastia foi de Tibério, e não promoveu as necessárias reformas políticas, econômicas e sociais. Com o tempo, Tibério tornou-se paranóico, imaginando conspirações e golpes mudou-se para a ilha de Capri de onde governou até a morte. Seu apego ao poder era tão grande, que mandou matar boa parte de seus familiares e ordenou o assassinato de senadores, provocando um período de muito medo e insegurança.
O sucessor,
Calígula, cresceu nesse ambiente e se mostrou um igualmente instável e
desequilibrado mental. Entre outros absurdos nomeou seu cavalo,
"Incitatus", cônsul romano. As perseguições tornaram-se prática
durante seu reinado, muitas famílias foram executadas. A prática da violência,
alimentando uma cultura do ódio, se estendeu pelos períodos seguintes de
Cláudio e Nero.
Em 68 d.C., a classe
política havia chegado ao limite diante da instabilidade política. Nero
Claudius Cæsar Augustus Germanicus, indicado pelo tio Claudio, governou de 13
de outubro de 54 d.C até sua morte, a 9 de junho de 68 d.C.. O reinado de Nero
está associado à tirania, ao populismo e à extravagância. Marcado por execuções
sistemáticas, incluindo a da própria mãe e a do meio-irmão, Britânico, sem
falar do assassinato de uma esposa grávida. Entre as imagens que se eternizaram
está a de Roma queimando, incêndio supostamente ordenado por Nero, enquanto tocava
sua lira. O histrionismo, unido ao desejo pueril de ser aplaudido, levou-o a
participar de corridas de biga.
Aliados políticos e
populares que o viam como mito, eram os principais conselheiros de Nero. Mesmo
com histórico de atleta, Nero conduziu um carro de 10 cavalos e quase morreu ao
sofrer uma queda. Embora não fosse o melhor dos participantes, ganhou todas as
coroas de louros e as expôs ao público em um desfile. As vitórias de Nero nas
competições são atribuídas ao poder e ao suborno dos juízes.
Depois de muitos
erros e de arruinar as finanças romanas de modo irresponsável, como na
construção do seu palácio dourado, Nero foi declarado inimigo do Estado e fora
da lei. Fugiu acompanhado apenas pelo secretário Epafrodito, e se suicidou
antes de ser apanhado pela guarda pretoriana que lhe perseguia. O imperador
mentiu até a morte, foi o fiel secretário quem, a seu pedido, o apunhalou. As
últimas palavras de Nero comprovam sua infinita vaidade e a certeza de que,
como político, era um grande canastrão: "Que artista falece comigo!"
Irresistível não
comparar o passado com fatos atuais: populismo, vaidade pessoal, atitudes
despóticas, mentiras, desfiles gloriosos, intenção em se perpetuar no poder e
outras similitudes. O ministério do bom senso adverte: a história ensina,
alerta e, até mesmo, pode prevenir problemas.
Ricardo Viveiros - jornalista, escritor e professor. Doutor em Educação, Arte
e História da Cultura pela Universidade Presbiteriana Mackenzie e autor de
vários livros, entre os quais: "Justiça Seja Feita", "A Vila que
Descobriu o Brasil", "Pelos Caminhos da Educação" e "O
Poeta e o Passarinho".
Nenhum comentário:
Postar um comentário