Com tantas transformações ocorridas nos últimos meses, sobretudo com o impacto da pandemia na aprendizagem dos alunos e o avanço da vacinação entre os professores e colaboradores das comunidades escolares, é difícil não depositar esperanças no início de um novo semestre ou, pelo menos, não refletir sobre os rumos que o processo educacional trilhará.
Segundo levantamento que abrange 94% das escolas
básicas brasileiras, divulgado no mês de julho pelo INEP, 21,9% das escolas
privadas retornaram às aulas em 2021 com a realização concomitante de
atividades presenciais e não presenciais. Na rede pública, 4% das escolas
adotaram essa medida.
De acordo com o recente estudo, 99,3% das escolas
brasileiras suspenderam as atividades presenciais e 90,1% não retornaram às atividades
presenciais no ano letivo de 2020. A média no país foi de 279 dias de suspensão
de atividades presenciais em 2020, considerando escolas públicas e privadas.
Esses dados corroboram com a percepção e diagnóstico realizado por muitas
instituições no primeiro semestre de 2021, de que é urgente a necessidade da
retomada presencial das atividades escolares envolvendo o maior número de
alunos possível.
O retorno à escola é sempre uma oportunidade de
crianças e adolescentes voltarem a manter uma saudável rotina de horários e
estudos. Sem dúvidas, o anunciado retorno das aulas com e pós vacinação não
deverá ser tão traumático como as tentativas realizadas até o momento em todo o
país. Porém, isso não significa que será menos desafiador.
Com estados já autorizando as escolas a retomarem
suas atividades com 100% de sua capacidade, automaticamente, a discussão se
desloca para outro nível: o que conseguiremos conservar de tudo que foi
construído, criado e aprendido neste tempo adverso que poderá aprimorar o ensino
de forma efetiva? De acordo com o levantamento realizado pelo INEP, a
realização de reuniões virtuais para planejamento, coordenação e monitoramento
das atividades foi a estratégia mais adotada pelos professores para dar
continuidade ao trabalho durante a suspensão das aulas presenciais. A
comunicação direta entre aluno e professor (e-mail, telefone, redes sociais e
aplicativo de mensagens) foi a estratégia mais adotada para manter contato e
oferecer apoio tecnológico junto aos estudantes.
Há uma expectativa de que os professores mais
experientes neste universo digital transitarão entre o ensino remoto e o ensino
presencial, tendo em vista as diferentes maneiras de utilizar os ambientes
escolares e virtuais para potencializar a aprendizagem, combinando tecnologias
e metodologias ativas para que todos os alunos sejam acompanhados em suas
demandas pedagógicas e emocionais. A gestão escolar, sem dúvidas, adotará
ferramentas e rituais virtuais que preencham espaços que antes desafiavam a
própria capacidade da liderança em conseguir alcançar a todos. Já a família,
viveu experiências tão marcantes do que é lecionar para uma criança, que a
comunicação entre a escola e a casa se intensificou de modo singular e
especial, potencializando essa parceria muitas vezes tímida.
Por outro lado, parte do aprendizado revisita
aquilo que já não precisa mais ser feito, ou o que carece adequação. A
intensidade de comunicação virtual, em decorrência da distância e sanada pelos
meios tecnológicos, tende a ser amenizada pelo encontro presencial. A tentativa
incansável das instituições em replicar os momentos marcantes do ambiente
escolar, como as festividades e comemorações, já não serão necessárias, pois
poderão, com novas regras, serem retomadas, o que não impede de ainda serem transmitidas
aos pais viajantes e ausentes do contexto presencial.
No retorno à rotina escolar, tudo o que precisamos
é fugir da antiga rotina. Será a oportunidade de construir novos hábitos,
especialmente os de higiene e saúde. A manutenção dos cuidados e dos protocolos
irão se tornar parte do fazer escolar. A escola é um espaço próspero para a
construção de bons costumes, regras e transformação social. Se formos capazes
de aproveitar a experiência pandêmica para evoluir, poderemos ver a tecnologia
– que permite um percurso formativo mais individualizado, complementando as
propostas presenciais – como sendo o lado cheio do
copo.
Milena Fiuza - gerente pedagógica do Sistema Positivo de Ensino
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