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quinta-feira, 23 de abril de 2020

Volta da poupança? Especialista dá dicas do que fazer com investimentos na crise


Débora Toledo fala das oscilações no mercado e como não perder dinheiro por causa do novo coronavírus


Mais de um milhão de CPFs entraram na bolsa nos últimos dois anos. O Brasil viveu um momento em que se falou muito de educação financeira, não deixar dinheiro parado na poupança, permitir que a reserva trabalhasse sozinha... Mas, agora, a maioria se questiona o que fazer com o montante investido. Por isso, Débora Toledo, assessora de investimentos, preparou algumas dicas para evitar perda de dinheiro em meio à crise provocada pela COVID-19.

O primeiro passo é dividir os investidores em duas categorias:


1. Acima de 70

Quem já passou de 70 anos deve se perguntar: tenho gastrite ou apetite com a bolsa a 60 mil pontos? Se tem gastrite, melhor rever a carteira de investimentos. Pode ser a hora de dar uma recuada. Converse com um profissional da área, que acompanhe a sua conta, e veja uma alternativa menos instável. Isso porque, embora já tenha havido uma queda significativa e exista um pacote de estímulos para a economia, o vírus não atingiu seu auge por aqui. Ou seja, a instabilidade pode aumentar. 


2. Abaixo de 70

Se você é jovem provavelmente está começando a formar um patrimônio e ainda tem um longo período pela frente para se recuperar. Como, no fim, o mercado sempre se recupera, vale deixar tudo como está. Essa crise pode ser comparada à de 2008, que representou apenas um degrau na escala da renda variável. Se não é tão jovem assim, mas não pretende usar o dinheiro a curto prazo, a recomendação é a mesma. 

Na sequência, é hora de pensar na forma de investimento:


1. Nova modalidade de IPCA

A preocupação neste caso é cabível. Afinal, se o dólar dispara, pode haver um repasse nos preços. No entanto, vale observar que a atividade econômica ainda está fria, logo, um repasse do dólar não pode oferecer um aumento muito alto nos preços. Quem pegou, então, financiamento deve acompanhar de perto o IPCA, sabendo que nada de grave pode ocorrer a curto prazo. Ainda se ocorrer, bancos como a Caixa Econômica Federal poderão ajudar, como o ministro da economia Paulo Guedes já sinalizou. 


2. Renda variável

A renda variável acumula uma perda de 42% em 2020. Para quem é conservador ou moderado, dar um passo atrás pode ser uma opção. Ao rever a estratégia, uma alternativa interessante nesse momento de irracionalidade no mercado são os fundos cambiais, afinal, mesmo o dólar já tendo subido bastante, ele pode continuar subindo. Como, no início, o mercado negou a gravidade do coronavírus, subestimando seus efeitos, agora, ele deve exagerar o problema para compensar. Sendo assim, o dólar deve subir mais e a bolsa deve continuar caindo. Dessa maneira, investimentos como fundos cambiais atrelados ao dólar ou o dólar no mercado de derivativos podem ser seguros para compensar as perdas em renda variável. Outra opção é mudar para o tesouro selic ou fundos de tesouro Selic.


3. Fundos imobiliários

Os fundos imobiliários caíram em média 32% este ano, sendo que vinham se valorizando bastante nos últimos 3 anos. O que se deve ter em mente é que, em momentos de crise, quem tem liquidez é rei. Se existe a necessidade de liquidez, os fundos imobiliários não são a melhor opção. 


4. Caderneta de poupança

As crises também significam momentos de oportunidade para a renda variável, onde encontramos empresas sendo negociadas muito abaixo do patrimônio, principalmente pensando que o mercado deve continuar caindo. Se não tiver perfil para renda variável, vale a pena olhar pelo menos para um investimento tão seguro quanto a poupança, mas que rende um pouco mais, como o tesouro selic e os fundos de tesouro Selic, papel mais seguro da renda fixa. Além disso, pensando em opções mais conservadoras, outra alternativa é são os fundos DI, desde que com uma taxa de administração menor que 0,5%.


5. Ações de empresas sólidas

Adivinhar o fundo do poço e quando ele vai chegar é muito difícil. Então comprar ações de boas empresas pagadoras de dividendos de setores perenes, como bancos e elétricas, pode ser interessante. Afinal, o coronavírus pode chegar com força total no Brasil, mas as pessoas ainda precisarão acender a luz, por exemplo. 


6. Empresas de setores cíclicos

A Petrobras, por exemplo, tem seu valor de mercado atrelado ao petróleo. Sendo assim, é volátil e cíclica, ou seja, trata-se de ação de longo prazo. Se a Rússia e a Arábia Saudita entrarem em um acordo, há uma grande chance do petróleo subir. No entanto, com o coronavírus, estamos entrando em um período de recessão. Sendo assim, a Petrobras pode não se recuperar a curto prazo e um possível retorno seria a partir do médio prazo. Se puder investir a longo prazo, aí sim a Petrobras deve ser vista como uma opção.


7. Previdência Privada

Primeiramente é importante lembrar que o melhor produto de investimento é aquele que está de acordo com o seu perfil e objetivos. O segundo passo para quem já tem esse produto ou quem pensa em investir é saber em quais ativos financeiros o fundo de previdência que contratou investe. Se for um produto que investe majoritariamente em renda variável, com essa crise do Coronavírus, é importante lembrar que só vai recuperar a médio prazo. Dessa maneira, é preciso se perguntar se aguenta mais volatilidade. No entanto, é importante deixar claro que previdência é um investimento de longo prazo e que possui inúmeras vantagens como a possibilidade de ter eficiência tributária pagando menos imposto de renda. Outro fato importante é que geralmente temos fundos de previdência com a mesma estratégia que os melhores fundos multimercados e de ações do mesmo gestor. Assim, ao escolher o fundo de previdência, é possível ter um ganho de 10% a mais dependendo do regime a ser contratado.


8. Tesouro IPCA com juros semestrais

Normalmente, trata-se de uma boa opção para quem quer preservar patrimônio e também fazê-lo crescer, mas diante da crise atual vale a pena olhar para papéis menos expostos à inflação, como o tesouro Selic.


9. Ouro

Atualmente muito se fala sobre o ouro como porto seguro para momentos de crise. Mas primeiramente vale a pena saber que o ouro se trata de uma moeda de reserva em momentos de instabilidade do mercado. Até março, o ouro tem sido o grande vencedor já que aqui no Brasil ele se valorizou 24% e na bolsa de NY 8%. No entanto, o ouro também vem caindo com a crise desencadeada pelo coronavírus. E esse é o comportamento padrão do ouro em momentos mais agudos de crise como estamos vivendo agora. Isso porque os bancos e os fundos de investimento começam a ter necessidade de caixa e é comum que ativos com pouca liquidez como o ouro não tenham um desempenho tão bom. Apenas em um segundo momento ou previamente, antes de uma crise aguda, é que podemos observar que o ouro pode valorizar já que os mercados ainda possuem uma boa quantidade de liquidez e podem colocar mais dinheiro na economia, como por exemplo, imprimindo mais papel moeda. Lembrando que tal fenômeno ocorreu no passado. No clímax da crise de 2008 o ouro teve um desempenho ruim e posteriormente, em 2009, foi ótimo.







Débora Toledo - Formada em Direito pela PUC-RJ, Débora Toledo é advogada tributarista e assessora de investimentos. Fez curso de Gestão de Empresas Familiares na Fundação Getúlio Vargas (FGV), mesma instituição onde completou o MBA em Mercados Capitais. Com vivência de um ano fora do país, na Inglaterra, Débora acredita que investir no Brasil não se trata apenas de uma conquista pessoal e uma forma de mudar de vida, mas também de uma contribuição para a sociedade. A especialista aborda temas relacionados a fusões e aquisições, startups, dólar, influência do contexto internacional no cenário brasileiro, reforma administrativa e tributária, entre outros. Tudo com a expertise de quem não só atua na área de investimentos há anos, como entende da legislação que impacta toda operação.

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