Débora Toledo fala
das oscilações no mercado e como não perder dinheiro por causa do novo
coronavírus
Mais de um milhão de CPFs entraram na bolsa nos
últimos dois anos. O Brasil viveu um momento em que se falou muito de educação
financeira, não deixar dinheiro parado na poupança, permitir que a reserva
trabalhasse sozinha... Mas, agora, a maioria se questiona o que fazer com o
montante investido. Por isso, Débora Toledo, assessora de investimentos,
preparou algumas dicas para evitar perda de dinheiro em meio à crise provocada
pela COVID-19.
O primeiro passo é dividir os investidores em duas
categorias:
1. Acima de 70
Quem já passou de 70 anos deve se perguntar: tenho
gastrite ou apetite com a bolsa a 60 mil pontos? Se tem gastrite, melhor rever
a carteira de investimentos. Pode ser a hora de dar uma recuada. Converse com
um profissional da área, que acompanhe a sua conta, e veja uma alternativa
menos instável. Isso porque, embora já tenha havido uma queda significativa e
exista um pacote de estímulos para a economia, o vírus não atingiu seu auge por
aqui. Ou seja, a instabilidade pode aumentar.
2. Abaixo de 70
Se você é jovem provavelmente está começando a
formar um patrimônio e ainda tem um longo período pela frente para se
recuperar. Como, no fim, o mercado sempre se recupera, vale deixar tudo como
está. Essa crise pode ser comparada à de 2008, que representou apenas um degrau
na escala da renda variável. Se não é tão jovem assim, mas não pretende usar o
dinheiro a curto prazo, a recomendação é a mesma.
Na sequência, é hora de pensar na forma de
investimento:
1. Nova modalidade de IPCA
A preocupação neste caso é cabível. Afinal, se o
dólar dispara, pode haver um repasse nos preços. No entanto, vale observar que
a atividade econômica ainda está fria, logo, um repasse do dólar não pode
oferecer um aumento muito alto nos preços. Quem pegou, então, financiamento deve
acompanhar de perto o IPCA, sabendo que nada de grave pode ocorrer a curto
prazo. Ainda se ocorrer, bancos como a Caixa Econômica Federal poderão ajudar,
como o ministro da economia Paulo Guedes já sinalizou.
2. Renda variável
A renda variável acumula uma perda de 42% em 2020.
Para quem é conservador ou moderado, dar um passo atrás pode ser uma opção. Ao
rever a estratégia, uma alternativa interessante nesse momento de
irracionalidade no mercado são os fundos cambiais, afinal, mesmo o dólar já
tendo subido bastante, ele pode continuar subindo. Como, no início, o mercado
negou a gravidade do coronavírus, subestimando seus efeitos, agora, ele deve
exagerar o problema para compensar. Sendo assim, o dólar deve subir mais e a
bolsa deve continuar caindo. Dessa maneira, investimentos como fundos cambiais
atrelados ao dólar ou o dólar no mercado de derivativos podem ser seguros para
compensar as perdas em renda variável. Outra opção é mudar para o tesouro selic
ou fundos de tesouro Selic.
3. Fundos imobiliários
Os fundos imobiliários caíram em média 32% este
ano, sendo que vinham se valorizando bastante nos últimos 3 anos. O que se deve
ter em mente é que, em momentos de crise, quem tem liquidez é rei. Se existe a
necessidade de liquidez, os fundos imobiliários não são a melhor opção.
4. Caderneta de poupança
As crises também significam momentos de
oportunidade para a renda variável, onde encontramos empresas sendo negociadas
muito abaixo do patrimônio, principalmente pensando que o mercado deve
continuar caindo. Se não tiver perfil para renda variável, vale a pena olhar
pelo menos para um investimento tão seguro quanto a poupança, mas que rende um
pouco mais, como o tesouro selic e os fundos de tesouro Selic, papel mais
seguro da renda fixa. Além disso, pensando em opções mais conservadoras, outra
alternativa é são os fundos DI, desde que com uma taxa de administração menor
que 0,5%.
5. Ações de empresas sólidas
Adivinhar o fundo do poço e quando ele vai chegar é
muito difícil. Então comprar ações de boas empresas pagadoras de dividendos de
setores perenes, como bancos e elétricas, pode ser interessante. Afinal, o
coronavírus pode chegar com força total no Brasil, mas as pessoas ainda
precisarão acender a luz, por exemplo.
6. Empresas de setores cíclicos
A Petrobras, por exemplo, tem seu valor de mercado
atrelado ao petróleo. Sendo assim, é volátil e cíclica, ou seja, trata-se de
ação de longo prazo. Se a Rússia e a Arábia Saudita entrarem em um acordo, há
uma grande chance do petróleo subir. No entanto, com o coronavírus, estamos
entrando em um período de recessão. Sendo assim, a Petrobras pode não se
recuperar a curto prazo e um possível retorno seria a partir do médio prazo. Se
puder investir a longo prazo, aí sim a Petrobras deve ser vista como uma opção.
7. Previdência Privada
Primeiramente é importante lembrar que o melhor
produto de investimento é aquele que está de acordo com o seu perfil e
objetivos. O segundo passo para quem já tem esse produto ou quem pensa em
investir é saber em quais ativos financeiros o fundo de previdência que
contratou investe. Se for um produto que investe majoritariamente em renda
variável, com essa crise do Coronavírus, é importante lembrar que só vai
recuperar a médio prazo. Dessa maneira, é preciso se perguntar se aguenta mais
volatilidade. No entanto, é importante deixar claro que previdência é um
investimento de longo prazo e que possui inúmeras vantagens como a
possibilidade de ter eficiência tributária pagando menos imposto de renda.
Outro fato importante é que geralmente temos fundos de previdência com a mesma
estratégia que os melhores fundos multimercados e de ações do mesmo gestor.
Assim, ao escolher o fundo de previdência, é possível ter um ganho de 10% a
mais dependendo do regime a ser contratado.
8. Tesouro IPCA com juros semestrais
Normalmente, trata-se de uma boa opção para quem
quer preservar patrimônio e também fazê-lo crescer, mas diante da crise atual
vale a pena olhar para papéis menos expostos à inflação, como o tesouro Selic.
9. Ouro
Atualmente muito se fala sobre o ouro como porto
seguro para momentos de crise. Mas primeiramente vale a pena saber que o ouro
se trata de uma moeda de reserva em momentos de instabilidade do mercado. Até
março, o ouro tem sido o grande vencedor já que aqui no Brasil ele se valorizou
24% e na bolsa de NY 8%. No entanto, o ouro também vem caindo com a crise
desencadeada pelo coronavírus. E esse é o comportamento padrão do ouro em
momentos mais agudos de crise como estamos vivendo agora. Isso porque os bancos
e os fundos de investimento começam a ter necessidade de caixa e é comum que
ativos com pouca liquidez como o ouro não tenham um desempenho tão bom. Apenas
em um segundo momento ou previamente, antes de uma crise aguda, é que podemos
observar que o ouro pode valorizar já que os mercados ainda possuem uma boa
quantidade de liquidez e podem colocar mais dinheiro na economia, como por
exemplo, imprimindo mais papel moeda. Lembrando que tal fenômeno ocorreu no
passado. No clímax da crise de 2008 o ouro teve um desempenho ruim e
posteriormente, em 2009, foi ótimo.
Débora
Toledo - Formada em Direito
pela PUC-RJ, Débora Toledo é advogada tributarista e assessora de
investimentos. Fez curso de Gestão de Empresas Familiares na Fundação Getúlio
Vargas (FGV), mesma instituição onde completou o MBA em Mercados Capitais. Com
vivência de um ano fora do país, na Inglaterra, Débora acredita que investir no
Brasil não se trata apenas de uma conquista pessoal e uma forma de mudar de
vida, mas também de uma contribuição para a sociedade. A especialista aborda
temas relacionados a fusões e aquisições, startups, dólar, influência do
contexto internacional no cenário brasileiro, reforma administrativa e
tributária, entre outros. Tudo com a expertise de quem não só atua na área de
investimentos há anos, como entende da legislação que impacta toda operação.
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