Empresários
inovadores passam pelos mesmos problemas das companhias convencionais: alta
tributação, burocracia e falta de profissionais capacitados
Pitch, MVP, business model CANVAS, earnout, crowdfunding, growth
hacking, pivotar. Nem só de termos difíceis vivem os empreendedores
de startups, modelo de negócios que se firmou no Brasil durante a última
década. Inspirados no rápido crescimento e popularização de startups como Über,
Airbnb, Dropbox, Snapchat, Pinterest e Spotify e, principalmente com a crise de
emprego no Brasil em 2017-2018, houve um boom desse tipo de empresa no país,
nos últimos três anos. Segundo o relatório Startupbase, da Associação
Brasileira de Startups (ABStartups), a quantidade de empresas startups
cadastradas na associação dobrou entre 2012 e 2017, indo de 2519 negócios para
5147. Hoje, já são 12.881 empresas seguindo esse modelo.
De acordo com o coordenador da pós-graduação em
Criação e Gestão de Startups da Universidade Positivo, Cleonir Tumelero,
startups são empresas inovadoras, com rápido crescimento e vendas escaláveis -
ou seja, cujos modelos de negócios podem ser replicados. O conceito de startup
também está relacionado com o tempo de existência da empresa, indicando uma
empresa relativamente recente. "Nem todas as pequenas empresas
recém-criadas são startups, porque esse tipo de empresa é idealizada para
atingir um crescimento rápido e com escalabilidade, trabalhando em condições de
extrema incerteza mercadológica. Para isso, são adotadas metodologias como o growth
hacking, estratégia que tem como objetivo potenciar a empresa a
crescer de maneira rápida e sustentável", explica.
Mais de 63% das startups nacionais estão nas
regiões Sul e Sudeste. Ainda segundo a ABStartups, pouco mais de 1.500 startups
têm mais de 6 anos. Para Tumelero, isso pode indicar três fatores: 1) o mercado
brasileiro é bem recente e tem grande potencial de crescimento; 2) algumas
empresas com mais de 6 anos não se consideram mais startups e 3) muitas
startups não conseguem acessar financiamento e capital de risco e não sobrevivem
por mais de 5 anos. "Se considerarmos que em levantamento recente da
ABStartups, 82% das associadas declararam não ter recebido investimento e
apenas 1% declararam ter recebido um aporte na primeira rodada de
investimentos", o cenário não parece animador", ressalta.
Os dados de faturamento não são melhores:
aproximadamente 50% das startups mapeadas em todo Brasil ainda não faturam e
apenas 3,4% faturam entre R$ 500 mil e R$ 1 milhão ao ano. "Ou seja, há
dinheiro entrando, mas não circulando em todos os âmbitos do ecossistema. E
esse é um dos desafios para os próximos anos, ao pensar em um crescimento
sustentável do ecossistema", aponta o especialista.
Principais desafios
Os caminhos para Márcio Pacheco Jr. chegar à
consolidação da PhoneTrack não foram os mais fáceis. O CEO e fundador da
startup curitibana conta que enfrentou diversos desafios e obstáculos,
principalmente no início do negócio. "A começar pela burocracia para abrir
uma empresa no Brasil, independente se é uma startup ou não", afirma. Para
se ter uma ideia, são necessários cerca de 45 dias para a legalização integral
de uma companhia no Brasil.
A PhoneTrack atua na área de tecnologia e é
referência em call tracking, utilizando a inteligência artificial para o
monitoramento e mensuração das chamadas telefônicas. A startup foi fundada em
2015 e atualmente já contabiliza mais de 700 clientes, entre agências de
marketing, hotéis, clínicas, concessionárias e muitos outros segmentos que
utilizam a plataforma para análise completa dos dados de ligações telefônicas.
Entre outros fatores, Pacheco cita também a alta carga tributária e a
capacitação profissional como alguns dos obstáculos que enfrentou no meio do
caminho, tanto na área financeira, quanto em termos de recrutamento.
A falta de capacitação também é citada por Tumelero
como um dos principais obstáculos para o crescimento das startups brasileiras.
As oportunidades em fintechs, edtechs, adtechs, cleantechs, agtechs, dentre
outros setores como blockchain, life sciences, new food, advanced manufacturing
(indústria 4.0) e robótica estão cada vez maiores - o que falta são
profissionais preparados para encarar esses desafios", finaliza.
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