Psicóloga da Pró-Rim orienta como conversar com as
crianças e idosos sobre este tema tão delicado. Manda recado para os
profissionais da saúde e elogia o comportamento dos pacientes renais diante da
pandemia
Segundo a profissional, é preciso planejar o futuro, pois
“esta fase vai passar”
A
chegada do novo coronavírus e a necessidade de isolamento social trouxe uma
mudança radical que impactou a vida de toda a sociedade. Essa condição favorece
o aumento de tensão e estresse, por isso é necessário que haja um cuidado
especial em relação à saúde mental de toda a população.
A
psicóloga Rosa Gasparino, coordenadora do Serviço de Psicologia da Fundação
Pró-Rim, atua há 29 anos na instituição e é uma das pioneiras no Brasil no
tratamento de pacientes renais, traz dicas sobre a importância da adaptação
para o isolamento social e como tornar este período menos traumático. Confira!
Conversando
com as crianças
O
ponto principal é que os pais não devem mostrar abatimento nem irritação. As
crianças percebem isso e acabam absorvendo a energia negativa dos pais. As
crianças, mesmo as mais novinhas, são muito inteligentes.
É
importante ser objetivo, sem, no entanto, neurotizar ou assustá-las. “O momento
é de falar a verdade para as crianças, de uma forma lúdica, priorizando alguma brincadeira
sobre algo que faça parte do universo infantil”.
Por
exemplo, comparar o vírus a um monstro e mostrar que os heróis somos todos nós,
que estamos lutando para derrubar essa criatura do mal. Aí, na linha de frente,
temos o pessoal da saúde, a turma da limpeza, os bombeiros, quem cozinha,
enfim, todos mobilizados para cuidar dos que foram atingidos pelo monstro e
valorizar os que trabalham para salvar o mundo.
É
importante também explicar que quem está em casa, também é herói. Mostrar isso
ensinando como lavar as mãos (criança adora água), entre outros cuidados
relacionado à tosse, espirro e higiene de um modo geral, para enfraquecer o
monstro. Tudo isso pode ser ilustrado com desenhos. É muito importante criar
uma rotina para as crianças, inclusive de estudar no horário que faziam na
escola. Ou seja, uma disciplina para fatiar o tempo da melhor maneira possível.
CONVENCER
OS IDOSOS A FICAREM EM CASA
Idoso
não é criança e nem gosta de ser tratado como tal. Por isso é preciso ter muita
habilidade e dividir esta responsabilidade com os demais integrantes da
família.
Se
o idoso morar sozinho, ligar pelo menos duas ou três vezes por dia para que ele
se não se sinta distante do núcleo familiar. Sempre falar algo positivo,
estimular a preencher palavras cruzadas, entre outros passatempos e destacar a
importância dele ficar sozinho em casa neste momento difícil e não ir conversar
com o vizinho ou com alguém, pessoalmente; não descer no playground do prédio e
nem se aventurar a ir ao supermercado, na farmácia ou na padaria.
Além
disso, é importante explicar a gravidade do que está acontecendo, sem causar
pânico. E que quando precisar de ajuda, peça a família, aos vizinhos e amigos.
Garantir que se ele atender as recomendações, este momento vai passar e a sua
vida vai ser retomada normalmente.
COMO
EXERCITAR A EMPATIA E O BOM HUMOR
Primeiro
nós temos que respirar fundo e pensar como vamos atravessar este momento dentro
das necessidades impostas pela realidade. Ninguém inventou isso. É uma
necessidade. Ou seja, não é permitido correr na rua, passear com o cachorro ou
levar as crianças ao parquinho. É preciso ter consciência da realidade e das
limitações.
Quem
foi liberado para ficar em casa, mesmo sem nenhuma função profissional, deve
entender que não está de férias. O seu trabalho é ficar em casa para permanecer
saudável e não contaminar outras pessoas e também se manter saudável
mentalmente para evitar irritação, ansiedade, taquicardia, falta de ar e outros
sintomas provocados pelo estresse.
Acima
de tudo o momento exige disciplina, cada um com seu jeito de viver, que
recomeça todos os dias após acordar. É cansativo. Então vamos fazer este
confinamento com bom humor, mas com rotinas de se alimentar, se exercitar,
dormir, ler, ouvir músicas, assistir filmes agradáveis, tudo com muita
criatividade.
MEDO
DE MORRER
É
um assunto que ninguém gosta de falar. Quando surgirem pensamentos de desgraça,
tristeza, então vamos mudar o foco e pensar em viver com saúde e alegria.
Procure preencher o tempo com alinhamentos saudáveis e prazerosos. “Se é
possível mudar isso então eu vou conseguir”.
É
importante exercitar a criatividade e saber o que está acontecendo no mundo.
Porém, é preciso filtrar essas informações. Tem gente que passa o dia inteiro
com a televisão ligada e, de certa maneira, acaba absorvendo negativismo,
afinal quase tudo se relaciona à doença e morte.
Com
relação ao celular, penso que essa ferramenta é algo positivo, pois ele
aproxima os grupos familiares, de amigos, de colegas do trabalho e da escola. Mesmo
assim, é fundamental ter disciplina no tempo de uso deste aparelho e se atentar
às fake news nas redes sociais.
Em
resumo: mesmo contra todas estas contrariedades que nos estão sendo impostas,
precisamos desenvolver projetos de futuro. Assim a vida fica mais leve para ser
tocada em frente.
PACIENTES
EM HEMODIÁLISE
Observo
que os pacientes renais reagem bem diante de tudo o que está acontecendo, fazem
a parte deles e confiam no nosso trabalho. Quando os pacientes vêem os
profissionais bem, sem abatimento, com bom humor, eles sentem segurança no
nosso atendimento. Isso é importante para evitar crises de depressão.
Medo,
todo mundo tem. Mas o nosso papel é falar sobre essas angústias e buscar meios
para minimizá-las. Para ajudá-los temos que demonstrar coragem, segurança e
satisfação em tudo o que fazemos. Isso faz com que eles assimilem esse ânimo e
confiança e não caiam em depressão.
A
IMPORTÂNCIA DOS PROFISSIONAIS DA SAÚDE NA PANDEMIA
Os
profissionais da saúde, em qualquer área de atuação, são as pessoas mais
importantes do planeta neste momento.
Enquanto
a maioria da população é convocada a ficar em casa para evitar a propagação da
doença, os profissionais de saúde, ao contrário, têm de sair para salvar vidas.
Nós estamos proporcionando a segurança de todos. Um cuidando do outro.
O
profissional da saúde tem consciência que se conseguir passar segurança ao
paciente com todas as informações, ele está sendo um herói. Mas ele precisa
pensar em si também. A atividade é muito desgastante. Quando chegamos em casa,
muitas vezes na madrugada, entramos pela entrada de serviço e deixamos os
calçados longe da porta. Em seguida vamos botar as roupas pra lavar e tomar
banho, antes de conversar com a família.
Neste
momento, para recarregar a energia, é preciso reencontrar o aconchego do
convívio familiar, ligar para quem está longe, conversar com os amigos pelas
redes sociais, ouvir música, ter consciência que tudo passa. Depois, dormir um
sono revigorante, para recomeçar tudo outra vez, logo ao acordar.
Mesmo
diante de tanta adversidade, é preciso ter disposição para brincar entre nós,
com os nossos familiares e com os pacientes, pois sabemos que o bom humor ajuda
na recuperação de todos.
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