Crise que afeta produção de peças na China,
principal exportador para o Brasil, tem reflexos, principalmente, na fabricação
de celulares e computadores
Por conta da crise mundial causada pelo novo
coronavírus, 70% das indústrias brasileiras do setor eletroeletrônico enfrentam
problemas para manter a produção. O principal problema, aponta levantamento da
Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica (Abinee), é a falta de
materiais, componentes e insumos que eram importados da China. Os fabricantes
de produtos de Tecnologia da Informação, como celulares e computadores, são os
mais afetados.
“No total, 80% de tudo que é importado de
componente eletrônico vem do continente asiático, o que demonstra uma grande
vulnerabilidade. Não é o setor eletroeletrônico que tem essa situação, mas é
uma coisa que nos faz pensar muito seriamente em diminuir essa
vulnerabilidade”, relata o presidente da Abinee, Humberto Barbato.
Como a
atividade industrial do país asiático também diminuiu, o reflexo aqui foi
imediato. Segundo a pesquisa da Abinee, das 50 companhias ouvidas, três já
trabalham com paralisação parcial das fábricas. Nos próximos dias, outras sete
têm paralisações programadas.
Se informações preliminares estimam faturamento da
indústria eletroeletrônica de R$ 154 bilhões em 2019, os prejuízos para este
ano, até o momento, ainda não são conhecidos. Segundo a Abinee, a prioridade
agora é cuidar e manter o emprego de 235 mil funcionários que prestam serviço
ao setor no país.
A apreensão diante dos impactos econômicos, ao
menos, serviu para mostrar que é possível ser menos dependente dos produtos
chineses. Para isso, a instalação de indústrias que abastecem o setor requer
regras mais claras e menos burocracia.
“Nós temos uma boa demanda, temos um mercado
interno importante. Entretanto, ele não é suficiente para justificar a vinda de
determinado fabricante de componentes para cá. Para isso, precisamos fazer a
lição de casa: diminuir o Custo Brasil, fazer as reformas que estão sendo
colocadas, para que a gente possa voltar a ser uma grande base de produção e de
exportações”, espera Humberto Barbato, que defende que a aprovação da reforma
tributária para melhorar o ambiente de negócios e atrair investimentos.
Os números preliminares do ano passado reforçam
isso. Segundo dados da Abinee, com base em informações do IBGE e da Secretaria
de Comércio Exterior (Secex), a China é a principal origem das importações de
componentes do Brasil, totalizando US$ 7,5 bilhões em 2019, o que representou
42% do total importado. Isso significa dizer que somente o país asiático foi
responsável por 25% do total de insumos do setor (nacionais + importados).
Enquanto isso, as exportações da indústria eletroeletrônica caíram de US$ 5,9
bilhões, em 2018, para US$ 5,6 bilhões, em 2019.
Este ano, os prejuízos podem ser maiores, levando
em conta que mais da metade das fabricantes de eletroeletrônicos vão ter sua
produção afetada e não vão devem atingir a produção prevista para este semestre
ou ainda não calcularam os efeitos da crise. A Abinee estima que seja necessário,
no mínimo, dois meses para que o ritmo de produção volte ao normal.
Socorro às empresas
Enquanto as grandes reformas não chegam e o governo
ajusta seu orçamento para recolocar a economia nos trilhos, o setor industrial
adota medidas para atenuar os efeitos econômicos da crise. “A CNI tem feito um
conjunto de propostas, de diferimento e parcelamento de dívidas fiscais e
tributárias para dar mais oxigênio às empresas”, explica o Diretor de Educação
e Tecnologia da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Rafael
Lucchesi.
Na semana passada, a CNI encaminhou ao governo
federal um pacote de 37 propostas nas áreas de tributação, política monetária,
financiamento, normas regulatórias e legislação trabalhista, para socorrer as
empresas em meio à pandemia do novo coronavírus.
A avaliação da entidade é que as dificuldades para
produzir, geradas pela falta de insumos e pela falta de liquidez, fatores
somados à queda nas vendas, poderão levar empresas à falência e aumentar os
impactos sociais da crise.
O adiamento temporário de pagamento de impostos
(diferimento), a que se referiu Lucchesi, foi uma das medidas acatadas pela
área econômica do Planalto. A ideia é aliviar o caixa das empresas e, com isso,
evitar demissões em massa.
Essa providência emergencial está prevista na MP
927/2020, assinada pelo presidente Jair Bolsonaro nesta semana, e posterga o
recolhimento do FGTS, pelos empregadores, dos meses de março, abril e maio. Os
valores não recolhidos poderão ser pagos em até seis parcelas mensais a partir
de julho, sem incidência de atualizações, multas e outros encargos.
Fonte: https://www.agenciadoradio.com.br/
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