Retirar orquídeas
da natureza é crime inafiançável
As
orquídeas pertencem a uma família de plantas muito rica e evoluída. Crescem
praticamente em todos os continentes, em climas equatoriais e tropicais úmidos,
especialmente na América, Índia, África e Austrália, desde o nível do mar até
elevadas altitudes. Existem plantas rupestres, terrestres, aquáticas, epífitas
e saprófitas. Há também um grande número de gêneros e de espécies e uma
infinidade de híbridos, muitas vezes entre dois ou três gêneros diferentes.
As orquídeas florescem em diferentes épocas do ano e cada espécie têm o
seu período de floração, mas alguns gêneros chegam a florir mais de uma vez ao
ano. A flor de orquídea tem três sépalas: uma dorsal e duas
laterais, que envolvem a flor em botão. Possuem três pétalas, sendo que uma
delas, o labelo, a maior e mais chamativa com colorido diferenciado, e no seu
interior encontram os órgãos reprodutores. O labelo, além da função de
proteção, serve também para atrair insetos e pássaros responsáveis pela
polinização.
As
flores, individuais ou em inflorescências, têm formas diferentes com colorações
variadíssimas e magníficas, o que as fazem muito lindas e admiradas.
Aquisição de
plantas
O cultivo de orquídeas tem se popularizado muito ultimamente.
Para começar a cultivar orquídeas podemos comprar ou ganhar plantas. Depois
queremos ter uma coleção de plantas ou simplesmente cultivar vasos em casa.
Floriculturas e especialmente exposições tem colocado à disposição do público
variadíssimo, rico e numeroso conjunto de plantas de espécies e de híbridos.
Devemos adquirir plantas de boa procedência e com identificação correta. As
plantas de orquidários comerciais idôneos possuem genética conhecida, confiável
e elevada qualidade fitossanitária e nutricional, bem superior às plantas
retiradas da natureza. Encontramos plantas bem desenvolvidas com florações
robustas e flores belas e grandes e muito coloridas.
Mas é preciso ter cuidado para não se encantar
apenas pelo esplendor da inflorescência, número e beleza das flores sem
observar a parte vegetativa e as raízes das plantas. Isso porque, as orquídeas
colocadas à venda estão no auge do esplendor da parte aérea, ou seja, da parte
visível, dos pseudobulbos, folhas e flores. Mas, aqui está o problema! Aqui
está a “grande sacada”, o substrato que eficientemente permitiu o bom
desenvolvimento das raízes, reteve água, reteve e cedeu nutrientes, agora está
em pleno processo de apodrecimento, pelo que a maioria das raízes ou já morreu
ou estão morrendo. Assim, estas plantas pouco tempo depois secarão e
serão descartadas para a alegria de quem vende. Já para o amante de orquídeas,
o jeito será adquirir outra planta.
Por isso, temos que aprender com os colecionadores
de orquídeas. Eles querem ter plantas de espécies que se adaptam bem às suas
condições de cultivo. Plantas especiais pela beleza das flores albas,
semi-albas e coeruleas, amarelas e avermelhadas e por que querem continuar
cultivando e produzindo essas mudas, para ter ano após ano floradas belas e
raras. Como sabe que as raízes, na maioria das vezes estão na última, corre
para seu orquidário e elimina tudo o substrato replantando-as em novo
substrato, correndo o risco de quebrar e perder a flor. Entretanto, a planta
foi comprada não por essa flor, mas pelas próximas floradas.
Por isso, se você quer comprar uma planta pensando
em tê-la por muito tempo com você ou com quem você presenteou, procure observar
algumas características importantes antes de levar para a casa uma orquídea
pela qual você já se encantou. As plantas devem ser de boa procedência e estar
corretamente identificadas. Cada espécie é diferente das outras e é importante
que você as conheça pelos nomes. Observe se as plantas estão bem enraizadas,
sem manchas e com coloração adequada.
Fatores de
produção
Como todo vegetal, para bom desenvolvimento e crescimento, as orquídeas
requerem luminosidade (temperatura), água (irrigação e umidade) e nutrientes
(em quantidades balanceadas e equilibradas).
Luminosidade
Para uma boa floração as orquídeas precisam de luz, mas a maioria não
tolera sol direto, com exceção de alguns gêneros como Epidendrum,
Cyrtopodium, Arundina, Cymbidium, Dendrobium, Oncidium, Catasetum e
Renanthera.
A maioria das plantas prefere estar a meia-sombra,
embaixo da copa das árvores, sob proteção de sombrite, ou na varanda, onde não
recebam sol diretamente. Mesmo dentro do orquidário podemos organizar as
plantas para que cada espécie receba a incidência adequada de luz. É
fundamental estudar cada espécie. Entre todos os gêneros, a luminosidade ideal
pode variar de 30 a 80 %. Em caso de orquidários, usualmente, a cobertura é
feita com tela “sombrite”. A escolha dessa cobertura varia também de acordo com
a região onde estão as plantas. Pela diferença de tonalidade das folhas é
possível perceber se existe excesso ou falta de luz. Folhas com tons claros e amarelados indicam excesso de
luminosidade, se estiverem com um bonito tom de verde, a luminosidade está
adequada, mas se o verde for muito intenso está faltando luz.
Irrigação
Vai depender, em grande parte, da forma como se estão
cultivando as plantas, do ambiente onde ficam (umidade e temperatura), da
espécie, do tipo e tamanho de vaso e, especialmente, do substrato utilizado.
Podem ser usados diversos tipos de recipientes, como vasos de barro ou de
plástico, cachepots de madeira e pedaços de cascas de arvores ou até mesmo
arvores vivas.
O substrato deve ser poroso e facilitar o crescimento das
raízes. Os substratos podem ser orgânicos, esfagnum, casca de pinus, fibra de
coco, macadâmia, puros ou em combinações. Alguns preferem cultivar as plantas
em pedaços de casca de peroba, de troncos de café, sansão do campo e
barbatimão.
Quando não decompostos estes materiais tem boa porosidade, boa
capacidade de retenção de água e são fonte de nutrientes. Para liberar e ceder
nutrientes, para que possam ser absorbidos pelas raízes, é necessário a
decomposição e mineralização destes materiais, Na decomposição e mineralização
vão se compactando, apodrecendo, liberando substancias toxicas, que causam a
morte das raízes, pelo que, muitas vezes observamos raízes saindo dos vasos,
fugindo dos substratos. O apodrecimento de substratos orgânicos pode levar ao
aparecimento de pragas como lesmas e caracóis, aumentando o surgimento de
doenças e da retenção de água. Por isto, o substrato deve ser trocado
periodicamente, a cada dois ou três anos em recipientes maiores de acordo com o
tamanho da planta. Lembrar que é proibido usar xaxim, sejam vasos, placas ou
pedaços.
Atualmente, preferimos substratos de cultivo formados por
materiais inertes como seixos rodados pequenos ou brita zero, sinasita
(bolinhas de argila expandida), também tamanho pequeno, isopor em pedaços e a
grande sacada à “grande sacada”, carvão vegetal em pedaços, todos em tamanhos
de 0,5 a 1,5 cm. Estamos utilizando mistura de partes iguais de
carvão, sinasita, brita e isopor. Este substrato apresenta durabilidade muito
alta e pode ser reutilizado várias vezes.
Ao mesmo tempo em que devemos suprir a demanda de água,
também devemos evitar seu excesso, pois, o encharcamento do substrato dificulta
o arejamento. Também não devemos ter pratos embaixo dos vasos, pois a água deve
escorrer libremente.
Na irrigação devemos molhar o substrato até que comece a escorrer a
água. Todas as raízes das orquídeas devem ser molhadas. São elas que absorvem
eficientemente a água e os nutrientes, pois a maioria das orquídeas apresenta
um tecido esbranquiçado e esponjoso (velame) revestindo suas raízes. O velame é
um tecido responsável pela rápida absorção de água e nutrientes. Funciona como
uma espécie de esponja, pois apresenta espaços e canais microscópicos em seu
interior, onde usualmente se alojam as micorrizas.
É importante não
molhar as flores e evitar deixar as plantas com água nas folhas para evitar o
aparecimento de doenças. A melhor hora para molhar as orquídeas é meio da tarde
e com mangueira. Mas, atenção. O excesso de água lixivia nutrientes, provoca
falta de oxigênio nas raízes e acelera a decomposição de substratos de
materiais orgânicos.
Nutrição:
Para que a fotossínteses e o desenvolvimento das plantas se realize em
condições adequadas é necessário um bom equilíbrio entre a fixação de carbono
nas folhas e a absorção dos nutrientes pelas raízes.
Uma planta bem nutrida se desenvolve mais rápido e
produz flores mais bonitas. Para estar bem nutrida, uma orquídea deve dispor de
nutrientes em quantidades e proporções ótimas. Em média e a grosso modo
as plantas de orquídea apresenta a seguinte composição: C, H, O, 90
%; N, P, S, K, Ca, Mg, 8 %; Cl, B, Mo, Fe, Mn, Zn, Cu, Ni, 2 %.
Os elementos essenciais (nutrientes) para desenvolvimento
e crescimento vegetal se classificam em macronutrientes (N, P, S e K, Ca, Mg) e
micronutrientes (Cl, B, Mo e Fe, Mn, Zn, Cu, Ni). A proporção dos teores de
macronutrientes nas plantas de orquídeas é diferente à de outras culturas: K
> N > Ca > Mg > P ≈ S
As fontes naturais de nutrientes para plantas de
orquídeas são rochas, solos, resíduos vegetais, cascas, poeira e esterco de
passarinhos. Na natureza as orquídeas sobrevivem com limitada disponibilidade
de nutrientes. É justamente o estresse nutricional que induz a frutificação. A
planta sacrifica-se pela sobrevivência da espécie.
Os substratos orgânicos são insuficientes para alta demanda de nutrientes,
daí a importância da fertilização. Entre os adubos usados no cultivo de
orquídeas podemos indicar a torta de mamona, farinha de osso, viagra, chorume,
compostos e bokashi. A frequência e dose de adubo deve respeitar as
recomendações dos fornecedores e, ou, fabricantes. Deve-se evitar colocar o
fertilizante diretamente em contato com as raízes. Como os adubos orgânicos
aceleram a decomposição do substrato devemos evitar espalhar sobre toda a
superfície do substrato. O ideal é colocar o adubo sempre num mesmo lugar.
Com o tempo os adubos orgânicos tendem a diminuir o arejamento do substrato do
vaso.
Entre os fertilizantes temos fontes que disponibilizam unicamente um
nutriente, N, P, K; dois nutrientes, NP, SK, NK, NS; macronutrientes
principais, NPK; macronutrientes, NPSKCaMg; micronutrientes e macro e
micronutrientes.
Podemos fazer aplicações semanais ou a cada 15 dias dos fertilizantes.
Devemos certificar-nos de que o fertilizante foi bem dissolvido e está na
concentração certa recomendada. Usualmente dissolver de 3 a 5 g por litro e
desta solução aplicar nas raízes de 20 a 50 mL por vaso dependendo da qualidade
e quantidade de substrato.
Evitar aplicação excessiva de fertilizantes, as orquídeas possuem baixa
tolerância aos sais. Observar que não está ocorrendo acúmulo de sais nas
laterais dos vasos. O pH na solução do substrato deve ficar entre 5 e 6.
Harmonia entre fatores de produção
A harmonia entre fatores deve ser adequada às exigências das espécies.
Como o colecionador quer cultivar várias espécies num orquidário, fica difícil
harmonizar o ambiente para as diferentes exigências das distintas plantas. Pois
a grande disponibilidade de variedades de espécies e de híbridos requer grande
variedade de ambientes.
O excesso de água lixivia nutrientes, provoca falta de oxigênio às
raízes, acelera a decomposição de substratos de materiais orgânicos.
A fertilização adequada, nos substratos orgânicos, disponibiliza
nutrientes em quantidades e proporções desejáveis, não só, ao bom crescimento
das orquídeas, mas também à proliferação de fungos e outros microrganismos que
acelerarão a decomposição e o apodrecimento do substrato.
Nos substratos inorgânicos, que não disponibilizam nutrientes,
necessariamente temos que utilizar fertilizantes. Entretanto, devemos ter
cuidado com o uso em excesso dos fertilizantes, que pode provocar o acúmulo de
sais. Utilizando este substrato as fertilizações são mais frequentes, mas em
menor dose (2 a 3 gramas por litro).
A harmonia entre ambiente, recipiente e substrato de cultivo, irrigação
suficiente e boa disponibilização de nutrientes, acelerará o desenvolvimento e
crescimento das plantas, antecipa as floradas e aumenta a durabilidade das
flores. O que mais aspiramos é poder reproduzir nossas plantas e que estas
floresçam ano opôs ano.
Finalmente - Que é o que mais quer um
orquidófilo? Mais orquídeas!!!
Nutrientes
Para Vida (NPV)
Víctor
Hugo Alvarez V. - Professor Voluntário, DPS, UFV.
Gustavo
Nogueira G. P. Rosa - Doutorando em Solos e
Nutrição de Plantas, DPS, UFV.
Andréia
Aline Fontes - Mestre em Solos e Nutrição de Plantas,
DPS, UFV.
Membros
da Associação Orquidófila e Orquidóloga de Viçosa - AOOV
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