Já
não é novidade para ninguém que os alimentos orgânicos são vistos pela
população em geral como os mais saudáveis, nutricionalmente superiores e mais
seguros do que os convencionais. Diante da avalanche de notícias negativas em
torno dos agroquímicos, muitos consumidores se dispõe, inclusive, a pagar
preços exorbitantes por tais produtos, sempre em nome dos supostos benefícios à
saúde. Não por acaso, a produção e o mercado de alimentos orgânicos têm
crescido em ritmo acelerado em países como os Estados Unidos, Canadá, Brasil e
em toda a Europa.
Tais
teorias, no entanto, têm sido cada vez mais questionadas por estudos realizados
por centros de pesquisa e autoridades governamentais ligados à saúde pública e
segurança alimentar em todo o mundo. Se por um lado artistas, empresários e
musas fitness — gente que não tem qualquer conhecimento técnico sobre o assunto
— garantem que os orgânicos são melhores, por outro, a comunidade científica
vem provando dia após dia que esta história não passa de uma falácia.
Recentemente,
o Centro Nacional de Saúde Ambiental do Canadá publicou um relatório com os
resultados de pesquisas comparativas entre alimentos orgânicos e convencionais
sob os aspectos da qualidade nutricional e da segurança alimentar. Os
resultados, baseados em evidências científicas, são taxativos ao afirmar que
não existe nenhuma diferença entre os produtos, embora muitos fatores
relacionados aos sistemas de produção, local, clima, variedades e tipo de solo
possam influenciar no valor nutricional de ambos.
Outra
pesquisa conduzida na França, sob coordenação da Agência Francesa de Segurança
Alimentar (AFSSA), vai na mesma linha. Ao avaliaram as diferenças entre os dois
tipos de alimentos quanto aos conteúdos de matéria seca, vitaminas, minerais,
micronutrientes, ácidos graxos poli-insaturados, substâncias antioxidantes,
carboidratos e proteínas, os responsáveis pelo estudo também não encontraram
nenhuma diferença consistente entre ambos.
Em
alguns casos, é verdade, os orgânicos apresentaram um maior teor de
antioxidantes, como compostos fenólicos e ácido salicílico (a nossa Aspirina),
mas isso pode ser atribuído ao fato de essas substâncias atuarem como defesa
natural das plantas contra pragas e patógenos. É preciso lembrar, entretanto,
que do ponto de vista da segurança alimentar, um nível elevado de antioxidantes
não representa qualquer vantagem — muito pelo contrário. De acordo com uma
pesquisa conduzida pelo Dr. Bruce Ames, da Universidade da Califórnia em
Berkeley e publicada em revistas científicas de peso, como a Science, essas
toxinas naturais podem apresentar efeito mutagênico, carcinogênico,
cardiotóxico, hepatotóxico e teratogênico.
No
Reino Unido também não há qualquer evidência da superioridade dos orgânicos. Em
2012, um grupo de pesquisadores da Universidade de Stanford realizou uma
revisão detalhada de 237 estudos comparativos entre alimentos convencionais e
produtos equivalentes produzidos sem agroquímicos. Os resultados, publicados
nas prestigiosas revistas Annals
of Internal Medicine e
Journal of National Cancer Institute, mostram, mais uma vez, que
não há nenhum suporte científico na tese de que os alimentos orgânicos seriam
mais benéficos à saúde. Pesquisas sérias conduzidas no Brasil, como a publicada
pelo Instituto Tecnológico de Alimentos (ITAL) em 2017, também seguem na mesma
linha.
O fato
é que autoridades internacionais como a Organização das Nações Unidas para
Alimentação e Agricultura (FAO) e a Organização Mundial da Saúde (OMS), além
dos governos dos Estados Unidos, Canadá e de vários países da Comunidade
Europeia já demonstraram que os alimentos orgânicos não são nutricionalmente
superiores. No Brasil, porém, essa é uma discussão pautada muito mais pela
ideologia do que pela ciência, situação que beneficia apenas os oportunistas de
mercado, que vendem ilusões a preços muito maiores. A verdade, aos olhos da
ciência, é uma só: ambos os sistemas podem produzir alimentos saudáveis, nutritivos
e seguros. Basta que as boas práticas agrícolas sejam respeitadas.
Claud
Goellner* & Nicholas Vital**
*Engenheiro Agrônomo,
professor aposentado de Toxicologia e Toxicologia de Alimentos
**Jornalista e autor do livro Agradeça aos agrotóxicos por estar
vivo
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