Uma Questão de Vida ou Morte
Muito
se fala da importância dos cuidados com a higiene e a manipulação dos
alimentos, das técnicas de preparo, da temperatura que garanta que o alimento
não seja contaminado por bactérias e fungos, do armazenamento correto, entre
outros aspectos fundamentais para evitar contaminação e possíveis DTA’s –
Doenças Transmitidas por Alimentos.
A
produção de alimentos é demasiada complexa, pode ser uma questão de vida ou
morte, se bem monitorada pode significar saúde e bem-estar ou ao menor deslize
no controle higiênico-sanitário pode incorrer até em morte.
Segurança
Alimentar, qual a origem?
A expressão segurança alimentar apareceu pela primeira vez, após o
término da 1ª Guerra Mundial. Foi notado que um país poderia controlar o outro,
se tivesse controle sobre o seu fornecimento de alimentos. Era uma estratégia
importante, principalmente quando aplicada pelo país mais forte em relação
aquele com menor potencial, do ponto de vista militar e incapaz de gerar
alimentos suficientes para alimentar sua população. Logo este termo
"segurança alimentar" é de fato um conceito de origem militar. Era um
quesito de segurança nacional, pois cada país deveria ser autossuficiente ou
ter estoques estratégicos de alimentos.
No Brasil, a segurança alimentar
e nutricional significa garantir, a todos, alimentos básicos de qualidade, em
quantidades suficientes, de modo permanente, e sem comprometer o acesso a
outras necessidades essenciais, com base em práticas alimentares saudáveis,
contribuindo assim para uma existência digna, em um contexto de desenvolvimento
integral da pessoa humana.
A partir daí, surge a percepção que além da disponibilidade dos
alimentos, é preciso que todos os povos tenham acesso aos alimentos, item
fundamental para a segurança alimentar. Claro que são listados outros fatores
que geram insegurança alimentar, como as situações de guerra e desestruturação
da capacidade de produção, ou situações de bloqueios econômicos, sofrida
normalmente por países que não aceitam as imposições das grandes potências
mundiais, ou em situações de catástrofes naturais em que a agricultura dos
países atingidos é parcial ou totalmente impactada.
Cuidando da integridade e sanidade dos alimentos
Do
ponto de vista da produção de refeições nos restaurantes, nas produções da
panificação, confeitarias, patisserie, enfim, da manipulação como um todo de
alimentos, vários são os aspectos legais e de ordem técnica que asseguram que
os alimentos sejam próprios para o consumo e não cause surpresas desagradáveis à saúde.
O primeiro passo é ter no local de produção e cumprir o que está
definido no Manual de Boas Práticas (MBP) e os Pop´s (Procedimentos
Operacionais Padronizados). Neles estão descritos como produzir alimentos
seguros para o consumo.
Há também planilhas de monitoramento de temperaturas de
equipamentos, alimentos prontos e em preparação e muitas outras que
acompanham os POP´s ou o MBP que devem ser seguidas. Além de ter um responsável
que oriente e faça um fluxograma das diversas preparações para que não haja
contaminação cruzada entre os diversos pratos e/ou produtos que a empresa
produz e comercializa.
A importância dos 3 TTT – tempo, técnica e temperatura
Tempo, temperatura e técnicas de preparo são essenciais para um
alimento ser considerado seguro para o consumo humano. Por isso é fundamental
monitorar, planilhar e tomar ações corretivas em tempo hábil para que o erro se
não torne um problema de saúde pública (doença transmitida por alimentos -
DTA). Temos alguns parâmetros para tempo e temperatura, porém com as novas
técnicas de preparo, isso vem mudando. Em linhas gerais, uma preparação quente
deve estar acima de 60º C e a fria até 10º C. Quando o alimento está exposto
(por exemplo, restaurantes que tenham o serviço self service ou alimentos deixados na cozinha em banho-maria para serem servidos mais tarde, ou
conforme demanda), devem apresentar as seguintes temperaturas:
Alimentos quentes:
v Em temperaturas superiores a 60º C, por no máximo 6 horas;
v Em temperatura abaixo de 60º C, por no máximo 1 hora.
Alimentos frios:
v Até 10º C, por no máximo 4 horas;
v Entre 10º C e 21º C por no máximo 2 horas. Exceto preparações com
carnes cruas e pescados.
v Os alimentos preparados e prontos para o consumo em distribuição
ou espera, que contenham carne ou pescado crus, devem ser mantidos em exposição
por no máximo 2 horas a 5º
C.
Os veículos de contaminação,
patologias e bactérias
São vários agentes causadores de doença no homem quando os
processos de escolha do fornecedor, sanitização de hortifrutis, pré-preparo,
cocção, distribuição, dentre outros, são
inadequados ou inexistentes.
São eles:
v produtos químicos - metais pesados ou pesticidas
v toxinas naturais de plantas e animais - alcalóides e histaminas;
v vírus - hepatite e helmintos;
v bactérias patógenas;
v fungos patogênicos.
Dentre as bactérias mais comuns neste
contexto, podemos destacar:
v Clostridium botulinum
v Clostridium perfringens;
v
Staphylococcus aureus;
v Bacillus cereus;
v Escherichia coli;
v Campylobacter ssp;
v Salmonella ssp.
As doenças transmitidas por alimentos (DTA´s) são causadas pela
ingestão de água e/ou alimentos contaminados. Existem mais de 200 tipos de
DTA´s e a maioria são bactérias e suas toxinas, parasitas e vírus. Há também as
DTA´s causadas por envenenamento, provocados por toxinas naturais (ex.
cogumelos venenosos, toxinas de algas ou peixes) ou por produtos químicos que
contaminaram o alimento (ex. chumbo e agrotóxicos).
Recepção e armazenamento - o
início do controle no local de produção de alimentos
O recebimento é um processo muito importante, pois ali começa de
fato a "segurança do alimento" que logo se transformará em um produto
pronto para o consumo. Então, é necessário que se observe alguns aspectos, como
por exemplo, a data de validade e se a embalagem está íntegra, pois pode ser a
porta de entrada para fungos nos cereais. Alguns fungos produzem micotoxinas
que contaminam os alimentos e geram danos à saúde humana. A presença de fungos
indica a possibilidade de produção de micotoxinas e a obrigação de descartar
aquele lote. Logo a vigilância e o planejamento de estoque e compras são vitais
para minimizar esse tipo de problema.
Nesta
época do ano, quando as temperaturas médias no Brasil chegam a 33º, alguns
cuidados são imprescindíveis para se evitar a contaminação dos alimentos:
O monitoramento de tempo, a temperatura e a quantidade de alimento
produzido precisam estar em sincronia com a demanda ofertada. Fazer pequenos
lotes de produtos e controlar o tempo e a temperatura de exposição são os
principais motivos para evitar contaminações. Aliados a isso estão a manutenção
preventiva dos equipamentos e o olhar atendo nas planilhas de aferição.
Controle da higiene
ambiental, dos equipamentos e dos utensílios
É de extrema importância que todos os processos estejam alinhados
para que o produto final seja satisfatório. Logo é necessário que o ambiente,
os utensílios e os equipamentos estejam em condições ideais para uso. Limpos,
higienizados com os produtos certos, protegidos de possíveis contaminações
físicas (pó, poeira etc.). Por isso a obrigatoriedade de ter um Procedimento
Operacional Padrão (POP) e de realizá-lo conforme sua orientação para cada tipo
de utensílio/equipamento ou ambiente.
Controle da
higiene e saúde dos manipuladores
O principal modo de contaminação se dá por falta de higiene dos
manipuladores, principalmente pelo modo errado de lavar as mãos, quantidade
insuficiente de lavagens durante a jornada de trabalho e nas trocas de funções.
Outro aspecto importante se dá pela saúde física do colaborador. O manipulador
de alimentos não pode apresentar ferimentos ou precisa cobrí-los adequadamente,
não pode trabalhar gripado, com diarreia, vômitos frequentes, dor abdominal ou
qualquer outro indício que possa vir a contaminar o que ele produz. Além de
estar em dia com seus exames obrigatórios para exercer tal função.
O nutricionista
como agente fundamental na gestão da qualidade no food service
A legislação brasileira no campo da segurança alimentar é
eficiente e eficaz em relação a muitos países, porém é necessário que o
profissional que esteja operando essa atividade em Serviços de Alimentação e
Nutrição entenda, compreenda e saiba aplicá-la conforme a necessidade de cada
estabelecimento. Não é apenas ler, é preciso adequá-la a realidade da
organização.
O
nutricionsita tem papel fundamental na orientação, formulação de normas
técnicas e procedimentos que assegurem a sanidade dos alimentos, a saúde dos
manipuladores e o
bem-estar
dos consumidores.
Um nutricionista que entenda de processos de qualidade é muito
útil e agrega valor ao produto final. Ele é o profissional capacitado para ser
o responsável pela produção, segurança higiênica sanitária e qualidade de todo
os alimentos produzidos na empresa. Porém nem todos os getores e/ou gerentes
dos estabelecimentos entendem essa necessidade, nem encaram isso como
prioridade. Um nutricionista deve ser visto como alguém que está lá para
fortalecer sua marca perante o consumidor e gerar um diferencial competitivo
perante o mercado.
Caroline
Gargantini - consultora para empresas de alimentação - Graduada em Nutrição pela Universidade
São Judas Tadeu/SP e com MBA’s em Gestão Empresarial e Marketing pela
Universidade Paulista – UNIP. Pós-graduada em Gestão da Qualidade e
Controle higiênico-sanitário pelo Instituto Racine. Também realizou cursos de
Marketing e Gestão de Pessoas na Fundação Getúlio Vargas – FGV.Sócia-diretora da Conceito Equilíbrio
onde atua com Marketing Experimental e na abertura e reestruturação de negócios
na área de alimentação e otimização dos resultados ocupacionais. Também atua na
área comercial.
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