Trabalhadores da construção civil que enfrentam problemas com álcool podem procurar o Seconci-SP para tratamento e orientação
Quase 3% da população brasileira acima de 15 anos de idade
são considerados alcoólatras, de acordo com a Organização Mundial da Saúde
(OMS), o que equivale a mais de 4 milhões de pessoas. O álcool cria dependência
e pode levar ao desenvolvimento de outras 200 doenças. “A bebida é, de todas, a
principal causa da pancreatite, uma inflamação do pâncreas que pode ser aguda
ou crônica”, alerta Moacir Augusto Dias, gastroenterologista do Seconci-SP (Serviço Social da Construção).
O pâncreas é uma glândula grande situada atrás do estômago e perto
do duodeno – a primeira parte do intestino delgado. Ele secreta sucos digestivos,
ou enzimas, para o duodeno, que se juntam à bile, líquido produzido no fígado,
para digerir os alimentos. Também libera os hormônios insulina e glucagon na
corrente sanguínea, que ajudam o corpo a regular a glicose tomada dos alimentos
para a energia.
Quando o pâncreas está inflamado, as enzimas no seu interior
atacam e danificam os tecidos que as produzem. Qualquer uma das formas da
pancreatite – aguda ou crônica – é grave e pode estar relacionada ao uso
crônico de álcool. As principais manifestações da doença são dor e distensão
abdominal, náuseas e vômito. “Como a ocorrência é mais frequente em homens do
que em mulheres, procuramos sempre chamar a atenção dos trabalhadores da
construção para o risco a que estão expostos”, diz o especialista.
Desde 2013, o Seconci-SP oferece o Grupo de Apoio e Orientação no
Tratamento Ambulatorial para Dependência Química, conduzido por uma equipe
interdisciplinar – psiquiatra, nutricionista e assistente social. Atualmente,
há 43 membros, dos quais 24 dependentes somente de álcool (sendo 4 mulheres) e
19 de álcool associado a outras drogas. As reuniões são mensais, gratuitas e
abertas aos trabalhadores e seus familiares.
“A maior parte das pessoas que procura o grupo faz uso abusivo do
álcool, seguindo-se usuários de crack, cocaína e maconha. Há também os casos de
dependência cruzada, quando se usa mais de uma dessas substâncias”, explica
Angela Nogueira, coordenadora do setor de Serviço Social da entidade.
“Normalmente, eles nos procuram quando os prejuízos já estão aparentes, como a
iminente perda de emprego, da separação do cônjuge ou mesmo quando há risco de
morte”, disse.
No grupo, os dependentes químicos passam pelo acolhimento, etapa
em que se explica a doença, suas causas e consequências; e pela troca de
experiências, quando o corpo profissional procura orientá-los a lidar com a
ambivalência (indecisão entre prós e contras de parar de usar drogas) e a mudar
os pensamentos automáticos (tais como “álcool relaxa”).
Com o objetivo de alertar os trabalhadores para os perigos do
consumo de álcool e drogas, o Seconci-SP promove palestras em canteiros de
obra, nas quais o Grupo de Apoio é fortemente divulgado. Este ano, já foram
realizadas 74 palestras sobre drogas lícitas e ilícitas, atingindo 1.792
trabalhadores.
“É importante ressaltar o caráter sigiloso do serviço, pois é
comum nesses ambientes o preconceito, o estigma com relação à psiquiatria e,
consequentemente, o desestímulo por parte dos colegas”, completa Angela. “É
essencial procurar apoio. Recomendamos aos encarregados ou responsáveis pelo
Recursos Humanos das empresas sempre conversarem e nunca confrontarem o
alcóolatra”, aconselha Angela.
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