O ano de
2016 está às portas e, se há uma unanimidade no Brasil, entre governo e
oposição, crentes e descrentes, compatriotas e estrangeiros, ricos e pobres, é
que não será um ano fácil.
Os
registros de corrução se avolumam; valores expostos são assombrosamente
vultosos e expõem os intestinos de uma nação que se acostumou tanto com a
prática que já é presa fácil à extorsão pura e simples, calcada em
relacionamentos incestuosos com o poder.
Os
problemas fiscais são apocalípticos, possivelmente como “nunca na história
deste país”. Programas sociais de legitimidade e eficácia duvidosa contribuíram
para drenar a nação. Nestes últimos dias de 2015, cerca de 75 bilhões foram
transferidos de contas do governo para bancos estatais, para pagar as chamadas
“pedaladas”, ou maquiagens contábeis, pelas quais as contas vêm sendo
“fechadas” na aparência.
Na
realidade, muito deste “pagamento” foi feito em forma de substituição por
outras dívidas, com a emissão de títulos da dívida pública – ou seja, papeis e
promessas de pagamento futuro, em vez de dinheiro. O país está cabisbaixo,
envergonhado e sem atinar com a saída. A realidade dura é que todos nós vamos
pagar a conta dos desmandos; na realidade, JÁ estamos pagando. Aqueles que têm
poupança e bens, por mais modestos que sejam, tiveram estes confiscados em 50%,
nos últimos anos, quando transformados em dólar. Os salários valem 50% a menos,
quando a referência é o dólar, e não digam que “não temos nada a ver com essa
moeda”. Em uma economia globalizada, tudo fica mais caro e isso afeta a vida de
todos, inclusive a dos mais carentes. A ressurreição do infame Imposto sobre
Movimentações Financeiras (IPMF) não cessa de ser anunciada.
Nesse
cenário, alguns clamam por “mais governo”! “Aumentem os controles”! “Deem a
eles mais poder para aumentar os impostos! ” Outros desesperam e dizem, “não
adianta, não há esperança”.
Coloco
aqui alguns pensamentos para adentrarmos 2016 com um pouco de lucidez,
realistas, mas confiantes na soberania do Deus que reina, procurando deixar as
Escrituras construir nossas convicções sobre as estruturas e perspectivas
desse mundo, no qual ele nos colocou para sermos sal e luz.
A
solução não se encontra em mais controle governamental, mas na volta às responsabilidades
básicas do governo.
Vivemos
em um mundo caído em pecado. A ganância, a cobiça, os amores ao dinheiro sempre
se constituirão em fortes tentações. Sempre darão oportunidade de os ricos e
poderosos oprimirem os mais fracos.
Por
isso, em paralelo às garantias de liberdade e de livre iniciativa, o governo
deve também proteger os cidadãos comuns da injustiça e da desonestidade. Nisso,
nada mais fará do que voltar às suas responsabilidades básicas, recebidas de
Deus.
Porém,
isso não significa uma carta branca ao intervencionismo de toda sorte. Não
representa uma ressurreição do socialismo moribundo. Se há algo que os últimos
anos deveriam nos ensinar, é que o poder do estado (ou do governo) é RESTRITIVO
e não DISTRIBUTIVO.
A
esfera econômica também pode ser palco de violência e de injustiça e deve ser
fiscalizada.
Por
princípio, e exatamente por acreditar que esse é o projeto encontrado na
Bíblia, sou avesso à grande maioria dos controles governamentais que se aceitam
com naturalidade nos dias atuais.
O
propósito do Governo é dar garantia à segurança dos cidadãos para que eles
possam desenvolver, em condições de igualdade e justiça, suas desigualdades e
seus potenciais com o máximo de respeito ao próximo e em obediência à
autoridade que os garante (Romanos 13.1-7).
Mas essa
tarefa requer, por vezes, a colocação de controles na sociedade – e na esfera
econômica, exatamente para proteger os inocentes. Por exemplo, nenhum defensor
de um papel reduzido ao governo, deveria ser contra a existência de sinais de
trânsito.
Mas,
isso não é extrapolar as funções do governo? Não! Ao ordenar o tráfego, ele
protege as pessoas umas das outras; deve ter condições de punir os “avançadores” de sinais e de
reconhecer os que os respeitam. Nesse sentido, apoiemos a livre iniciativa
tanto quanto devemos apoiar a punição dos corruptos e daqueles que corrompem.
É
necessário a proteção aos inocentes e a punição dos maus.
É óbvio
que há a necessidade de mais fiscalização e diretrizes éticas no meio das
estatais. O tesouro da nação não é para ser explorado por pessoas, partidos ou
grupos de interesseiros. Cargos deveriam ser preenchidos por competência, não
por alinhamento político-partidário.
No
mercado financeiro, à luz da crise de 2008, é necessário que subsistam
diretrizes que limitem a exposição indevida aos créditos de risco. Essas
práticas estarão alinhadas exatamente com a proteção de inocentes. O aperto, o
arrocho fiscal, a recompensa dos maus, com os bons pagando a conta, é uma
inversão de valores. Cabe sim, ao governo, prevenir o crime, identificar e
punir os malfeitores.
Os
governantes, como ministros (servos) de Deus, devem valorizar (e não sufocar em
impostos) aqueles que “trabalhando
sossegadamente” procuram ganhar o seu pão (2 Tessalonicenses
3.12). Em paralelo não podem deixar impunes aqueles que se aproveitam de
situações, ou do poder que detêm, para enriquecimento pessoal ilícito, muitas
vezes sugando dos que pouco têm – via de regra com desvio dos recursos
destinado a “órfãos e viúvas”.
Instabilidade
é uma realidade inexorável.
Instabilidade
parece ser a palavra da vez (com todas as suas derivativas: volatilidade,
desconfiança, falta de credibilidade, insegurança, etc.). Nesse sentido, todo
esse turbilhão econômico-financeiro que estamos vivenciando vem demonstrar a
bênção que é a estabilidade, tão rapidamente abalada.
No
Brasil, chegamos a quase nos acostumar com uma forma de vida
mais economicamente estável, em função da solidez da moeda e de uma
situação econômica favorável ao crescimento, experimentada desde 1994.
É
verdade que o aperto financeiro em nosso bolso nunca foi aliviado, mas passamos
a planejar com mais tranquilidade e, ingenuamente, passamos a achar que a
estabilidade era permanente. Chegamos a arquivar os pacotes econômicos, como
coisas do passado. É fácil enganarmo-nos a nós mesmos, mas uma simples olhada
na história demonstrará como instabilidade é a norma nesse mundo.
Em
1987 houve uma crise intensa nos mercados financeiros. A capa da revista TIME
chegou a compará-la à crise de 1929. Em 2008 tivemos uma crise mundial
monumental. Nossa memória é curta. Estamos preocupados com a situação
financeira, mas um olhar mais abrangente revela violência crescente, atos de
terror, guerras atrozes, crueldades indescritíveis, exploração de mulheres e
crianças. Um mundo que jaz em pecado é, por definição, instável.
Estabilidade
é um anseio legítimo que cresce em proporção inversa à instabilidade ao nosso
redor.
No
cenário de recessão que atravessamos e naquele que se descortina para 2016, já
é possível antever o continuado desaquecimento do mercado; vendas cada vez mais
decrescentes; contenção de despesas nas empresas, com o consequente desemprego;
incertezas em nosso dia-a-dia; instabilidade, enfim.
De
certa forma, nos sentimos espoliados em conquistas que julgávamos alcançadas.
Com frequência as pessoas se consideram aventureiras e corajosas, mas por que
será que a estabilidade é algo tão almejado e perseguido? Por que as pessoas
anseiam por uma repetitividade das circunstâncias, pela condição de poderem
planejar?
Estabilidade
é característica divina.
Estabilidade
é uma característica divina, por isso ela é uma bênção. Deus é estável. O
pecado é fator de instabilidade. Deus é previsível. Satanás é enganador e
astuto. A criação geme, sob o domínio do pecado. Deus instala a ordem no meio
do caos. A mensagem de Deus é construtiva, no meio da turbulência.
O
plano de salvação é sequencial, lógico e progressivo. Da morte espiritual, pela
justificação procedente de Jesus Cristo, passamos à vida e, em santificação,
aguardamos a glorificação e comunhão eterna com o Pai. A Palavra de Deus ensina
estabilidade de vida, a estabilidade da família, a estabilidade da sua Igreja.
Estabilidade, podemos esperar de Deus, e só dele: o mais está fadado à
desilusão.
Vivendo
estavelmente em um mundo instável.
Não
tenhamos dúvida de que Deus nos sustentará em 2016. Ele prepara os seus servos
para viverem estavelmente em um mundo instável. Jesus intercedeu não para que
fôssemos tirados do mundo, mesmo com suas instabilidades e perigos, mas para
que pudéssemos ser livres do mal.
Na
realidade, somos comissionados com a mensagem da estabilidade do evangelho,
como embaixadores de um país celestial, no qual não existem pacotes, e os
tesouros não são corrompidos pela inflação, especulação ou malversação; onde
não existem crises, nem turbilhão financeiro; de onde a corrução e o pecado
foram levados e lavados pelo Sangue de Cristo.
Serenidade
e confiança em Deus é o remédio para os sobressaltos desta vida. A estabilidade
que o mundo e os governantes nos oferecem, é passageira, é enganosa, é
traiçoeira. A paz que recebemos de Jesus difere da obtida do mundo: ela tem o
efeito de serenar os nossos corações.
Enfrentando
a instabilidade de 2016.
Como
enfrentar este ano de crise e outras crises em nossas vidas? Com a paz de
Deus em nossos corações, com a confiança de que ele reina e está em controle de
tudo e de todos, com a certeza de que a vitória final é dele e de seus servos.
O que
pedir a Deus, para 2016? Devemos estar orando para que ele possa atuar em nosso
país, derramando a sua graça comum, para que a estabilidade, tão característica
de sua pessoa, seja parte de nossa experiência e peregrinação, por onde ele nos
guiar.
Nesse
momento de incertezas, acima de tudo, além de contabilizarmos as perdas (agora,
ou no futuro) façamos um balanço da nossa alma, dos nossos objetivos e de
nossas motivações. Aprendamos com as circunstâncias, pois o Deus da providência
nos ensina através das situações em que ele nos coloca.
Solano Portela - Diretor Educacional do Mackenzie. Graduado em Ciências
Exatas, fez o mestrado no Biblical
Theological Seminary. Além de suas atividades no campo
empresarial, em São Paulo, é escritor, tradutor e conferencista.
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