1- Explique a
relação do câncer com a fertilidade.
Dr. Ellias (Oncomed BH): O tratamento pode
implicar em danos nos órgãos reprodutores, masculinos e femininos, e assim
causar infertilidade. Isso pode acontecer devido à necessidade de retirar
cirurgicamente ovários e testículos, bem como por efeitos tóxicos da rádio e
quimioterapia. A radioterapia destrói as células-tronco que originam os gametas
masculinos e femininos. Quimioterapia em altas doses também pode produzir
efeito parecido, comprometendo a fertilidade do paciente. No caso específico
das mulheres, quanto mais próximo do período da menopausa maiores são as
chances do tratamento resultar em esterilidade.
2- Pesquisas
revelam que nem todos os tratamentos oncológicos afetam a fertilidade do
paciente. Essa informação procede?
Dr. Ellias (Oncomed BH): Sim. A chance de infertilidade
secundária à quimioterapia varia com o tipo de medicação utilizada, dose e
frequência administrada. Em relação à radioterapia, o comprometimento da
fertilidade ocorre apenas quando a região pélvica do paciente, onde estão
localizadas as gônadas (ovários e testículos), entra no campo de tratamento.
Paralelamente, o tratamento cirúrgico só leva a esterilidade quando envolve
abordagem/resecção dos ovários ou testículos. A idade também tem impacto na
probabilidade de desenvolver infertilidade. Os indivíduos mais jovens tem mais
chances de recuperar a fertilidade após o tratamento oncológico.
3- É verdade que
deve ser levado em consideração o tipo de câncer a ser tratado, o tratamento a
ser realizado, a idade e o sexo dos pacientes?
Dr. Ellias (Oncomed BH): Sim. Ao tratar indivíduos
jovens com a prole ainda não estabelecida é importante, caso seja possível,
priorizar tratamentos que preservam a fertilidade. Caso não seja possível
garantir a preservação da fertilidade é fundamental discutir com o paciente a
possibilidade de congelamento de semên ou embriões. Por exemplo, mulheres com
estágios iniciais de tumores de colo uterino que ainda desejam ter filhos
usualmente são tratadas com um procedimento chamado traquelectomia, que consiste na retirada cirúrgica do colo do útero,
preservando a fertilidade em alguns casos. Por outro lado, mulheres que têm a
prole estabelecida normalmente são submetidas à histerectomia, ou seja, a
retirada completa do útero, o que leva inevitavelmente à perda da fertilidade.
Há mais de cem diferentes tipos de
câncer, cada um com sua particularidade no tratamento, estando uns mais
propensos a causar infertilidade e outros sem qualquer efeito neste sentido.
4- É verdade que
a decisão sobre a preservação da fertilidade deve ser tomada antes do início do
tratamento contra o câncer, para não inviabilizar o procedimento?
Dr. Ellias (Oncomed BH): Sim. Em casos de
tratamento com chance significativa de comprometer a fertilidade, o paciente
deve procurar um médico especialista em reprodução humana antes do início do tratamento para congelar embriões (no caso das
mulheres) ou esperma (no caso dos homens). Uma vez iniciado o tratamento
quimioterápico ou radioterápico torna-se mais difícil coletar gametas viáveis
do paciente, o que pode comprometer as chances de sucesso fertilização
artificial do embrião.
5- Todo paciente
diagnosticado com câncer pode preservar sua fertilidade?
Dr. Ellias (Oncomed BH): Sim, mas nem
sempre é preciso. Nem todos os tratamentos contra o câncer levam à infertilidade. Idealmente
o oncologista deve expor ao paciente que deseja ter filhos quais são suas
chances de se tornar infértil, para que ele então possa decidir sobre a
realização ou não de procedimentos de preservação da fertilidade.
6- Com quem
discutir a possibilidade de recorrer a técnicas de preservação da fertilidade?
Dr. Ellias (Oncomed BH): A utilização
de técnicas de preservação da fertilidade deve ser discutida com o médico
responsável pelo tratamento, seja ele oncologista, radioterapeuta ou cirurgião.
7- E quando o
tratamento oncológico não pode esperar, quais as opções para o paciente?
Dr. Ellias
(Oncomed BH): Usualmente, 2 a 3 semanas é tempo suficiente para se coletar
gametas viáveis do paciente. Na maioria das vezes, esse tempo de espera não
compromete os resultados do tratamento oncológico. Entretanto, em alguns casos
específicos, como nas leucemias, duas semanas pode ser tempo demais e nestas
circunstâncias deve-se priorizar a saúde e o bem-estar do paciente, em
detrimento de seu desejo de ter filhos.
8- Depois do
tratamento oncológico, quanto tempo esperar para engravidar?
Dr. Ellias (Oncomed BH): No caso das
mulheres, o retorno dos ciclos menstruais regulares quase sempre traduz em
retorno da fertilidade. A partir desse momento, que usualmente demanda 3 a 6
meses, a mulher pode engravidar.
9- E a gravidez é
normal como a de qualquer outra mulher que não tenha passado por tratamento
oncológico?
Dr. Ellias (Oncomed BH): Normalmente
sim, salvo aqueles casos de mulheres submetidas à radioterapia da região
pélvica. Elas devem se submeter à avaliação ginecológica antes de engravidar,
uma vez que a radioterapia pode comprometer a expansibilidade uterina e gerar
complicações evitáveis na gestação
10- O que todo
paciente com câncer deve saber sobre a sua fertilidade?
Dr. Ellias (Oncomed BH): Deve saber se
o tratamento pode ou não resultar em infertilidade e, caso a resposta seja sim,
deve ser orientado dos recursos disponíveis para preservação da capacidade de
gerar filhos.
11- Desde o mês de
abril de 2013, pacientes com diagnóstico de câncer das redes pública e
particular de saúde tem a oportunidade de resguardar, gratuitamente, a sua
capacidade reprodutiva, ao mesmo tempo em que poderão contribuir com pesquisas
para o desenvolvimento de novas técnicas na preservação da fertilidade. Qual
sua opinião sobre o assunto?
Dr. Ellias (Oncomed BH): Trata-se de
avanço que impacta de forma importante no bem-estar dos pacientes que se curam
do câncer. A infertilidade é motivo comum de problemas psicológicos desses
pacientes e o acesso a serviços de reprodução humana pode preservar o sonho
desses pacientes de constituírem suas famílias. Entretanto, o que se vê hoje é
uma realidade diferente. Existem poucos serviços de reprodução humana,
principalmente pelo sistema único de saúde (SUS), o que significa que a maioria
dos pacientes tratados não têm ainda acesso a este tipo de tratamento. Com
relação às pesquisas na área de reprodução humana, penso que o paciente deve
ser bem esclarecido a respeito do assunto e assinar um termo de
responsabilidade, pois trata-se de área muito polêmica da pesquisa clínica.
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