Dia 17 de maio
foi Dia das espécies ameaçadas, dia 22 Dia Internacional da Biodiversidade e 27
é o Dia Nacional da Mata Atlântica. Diante dessas datas, é importante mencionar
que o Brasil é um dos países que concentra no mundo o maior número de espécies
de aves em seu território e, por isso, atrai observadores e interessados pela
prática de observação de aves de diversos países.
O país soma
quase duas mil espécies de aves (mais especificamente 1.971), e é a terceira
nação do mundo com a maior diversidade de espécies. Os dados são da Lista de Aves do Brasil, tornada pública em 2021 depois de
cinco anos de trabalho realizado por um grupo de pesquisadores voluntários
ligados à Sociedade Brasileira de Ornitologia. Segundo o estudo, o Brasil ainda
abriga 293 aves endêmicas – aquelas que, em todo mundo, se manifestam somente
naquele território. Fica em terceiro lugar entre os países com a maior taxa de
endemismo de aves, atrás apenas da Indonésia (419) e da Austrália (350). Em
termos de diversidade de aves do globo, está atrás da Colômbia e junto com o
Peru.
Observação
de aves na Grande Reserva Mata Atlântica
No caso da Grande Reserva Mata Atlântica – o território de quase três
milhões de hectares do bioma Mata Atlântica que passa pelos estados do Paraná,
Santa Catarina e São Paulo – a prática da observação de aves, ou birdwhatching,
em inglês, é um dos grandes diferenciais e com enorme potencial para ainda mais
crescimento.
Conforme
registros na plataforma Wiki Aves (o maior portal de dados da avifauna brasileira)
até abril de 2023, é grande a quantidade de aves que se pode observar nos
municípios que fazem parte da Grande Reserva, com vários pontos de concentração
de avistamentos (hotspots), sendo Antonina-PR, com 470 espécies registradas,
Joinville-SC, com 481, e Peruíbe-SP, com 499, as cidades com maior contagem por
estado, ressaltando-se que há várias outras com números semelhantes. O
observador de aves pode compor um roteiro regional para ampliar ainda mais a
diversão.
Também há
destaques por empreendimento. No ano passado, no território da Grande Reserva
em São Paulo, o Legado das Águas, maior reserva privada de Mata Atlântica do
Brasil, se consolidou como um hotspot para birdwatching.
A Reserva abriga mais de 300 espécies de aves, muitas exclusivas do bioma,
incluindo ameaçadas de extinção. A diversidade de espécies na Reserva
representa 40% de toda avifauna do Estado de São Paulo.
Em 2022, no Global Big
Day, o Legado foi destaque: ficou em primeiro lugar, registrando
218 espécies em 24 horas. O que possibilita a grande diversidade de aves são os
31 mil hectares de floresta (quase 5% do território de Santiago) conservada,
que abriga também várias outras espécies da fauna brasileira. A Reserva conta
com infraestrutura completa para receber os observadores – pousada, restaurante
e atrativos turísticos –, além de localização privilegiada: a duas horas e meia
de São Paulo capital, facilitando o acesso de turistas. A Reserva também se
destaca pelas grandes possibilidades de “lifers”, registros inéditos para alguns
observadores de aves.
Litoral
paranaense
O município de
Antonina, no litoral do Paraná, chegou a acumular, em abril de 2023, 470
espécies. Em Morretes, município vizinho, o número é de 448. “Os índices
representam mais que 50% de todas as espécies que podem ser encontradas em área
de Mata Atlântica do Nordeste ao Sul do Brasil”, diz Luciano Breves, que
trabalha como guia de birdwhatching há mais de 15 anos. “As
áreas de preservação que existem nesses municípios, e as diferentes categorias
de Unidades de Conservação reunidas pelo território da Grande Reserva,
contribuem muito para a existência desses índices, pontua.
Breves recorda
que, há pouco mais de uma década, eram mais pesquisadores, acadêmicos e
especialistas que faziam a prática da observação de aves, mas, hoje, o número
de interessados não só diversificou como multiplicou. Quando comecei como guia,
existiam em torno de dois mil observadores ativos, mas, hoje, o número
ultrapassa 50 mil no Brasil, o que representa um crescimento acima da média
mundial, que cresce, em média, 20% ao ano. Os dados também são do Wiki Aves.
Breves conta os
roteiros são pensados para as necessidades e preferências dos visitantes. E diz
que norte-americanos até hoje foram a maioria entre os turistas que ele já
guiou, além de pessoas da Inglaterra, Índia, Canadá, República Dominicana,
Japão, Alemanha, Holanda e África do Sul, por exemplo.
Raphael Sobania,
que também trabalha como guia da prática do birdwhatching há mais de duas décadas e
meia, destaca que a região da Grande Reserva é singular para quem deseja ter
contato com a visualização e a vocalização de incontáveis aves, muitas que só
ocorrem nesta região. “São Paulo, por exemplo, é um dos polos internacionais de
observação de aves, com locais como Cananeia, Iguape e Ilha Comprida. A serra
catarinense e, no caso do Paraná, a região do litoral do estado e a Serra do
Mar paranaense, são muito ricas em diversas e singulares espécies de aves”,
diz.
Ricardo Borges,
coordenador de comunicação e relacionamento da Grande Reserva Mata Atlântica,
lembra que a existência desse território não só é fundamental para o estímulo
do turismo de natureza e geração de renda para todos os envolvidos, como para a
preservação de espécies endêmicas, que estão em extinção ou são consideradas
vulneráveis, por exemplo. “A Grande Reserva Mata Atlântica é a prova de que as
áreas naturais em pé valem infinitamente mais, em múltiplos sentidos, do que
degradadas”, pontua.
Marcos Cruz
Alves, turismólogo e coordenador da rede de portais da Grande Reserva Mata
Atlântica, ressalta o potencial de geração de renda dessa atividade, que vai
além da contratação dos guias locais pelos turistas de observação de aves, pois
os mesmos também precisam de hospedagem, alimentação e consomem outros serviços
e produtos em seus deslocamentos. E quando esse turista viaja acompanhado de
seus familiares, estes também consomem produtos e serviços na região, fazendo
circular a economia. Um exemplo de encher os olhos são os números da atividade
nos Estados Unidos: o relatório Birding in the United States: A Demographic and
Economic Analysis (Observação de aves nos Estados Unidos: uma análise
demográfica e econômica) produzido pelo Serviço de Pesca e Vida Selvagem dos
EUA (2016), informou haver 45 milhões de observadores de pássaros nos Estados
Unidos, sendo que os gastos associados às despesas com viagens e equipamentos
movimentaram cerca de US$ 96 bilhões, 782 mil empregos e US$ 16 bilhões em
receita tributária, em um impacto distribuído pelas economias municipal,
estadual e nacional. São números inspiradores.
Veja
algumas espécies que existem no território da Grande Reserva Mata Atlântica
Bicudinho-do-brejo – É um novo gênero e uma nova espécie
recém-descoberta, privativa dos banhados da região meridional litorânea do
Paraná e do nordeste de Santa Catarina, encontra-se em alagados com vegetação
densa. O ambiente em que vive são os banhados e a vegetação que margeia os rios
da planície litorânea paranaense, ambientes ameaçados pelo crescimento de
balneários e cidades. Pode ocorrer próximo a áreas urbanizadas.
Papagaio-de-cara-roxa – Esta espécie de papagaio tem sua
ocorrência restrita ao litoral dos estados do Paraná e São Paulo na região
Sul-Sudeste do Brasil. Faz o ninho em ilhas cobertas por floresta na baía de
Paranaguá, Paraná, no oco de árvores, onde o casal frequentemente fica junto.
Coloca cerca de quatro ovos e os filhotes deixam o ninho após dois meses,
aproximadamente. Pode ser visto em Guaraqueçaba, Cananeia, Guaratuba, Itapoá e
no litoral de São Paulo, por exemplo.
Jacutinga – A espécie já foi extinta de muitos locais em
sua área de ocorrência original, como nos estados do Rio de Janeiro, Espírito
Santo e sul da Bahia. Por exemplo em Itatiaia (Rio de Janeiro) foi vista pela
última vez em 1978; na Serra dos Órgãos (Rio de Janeiro) em 1980. Há, no
entanto, um projeto em andamento de reintrodução da espécie na Serra dos Órgãos
e região. As principais populações brasileiras da espécie encontram-se no
contínuo florestal formado pelos Parques Estaduais Intervales, Carlos Botelho e
Alto Ribeira, em São Paulo, onde a população total é estimada em cerca de 2 mil
indivíduos. Populações menores ainda podem ser encontradas em Ilhabela, Paraná
e Santa Catarina. A espécie também ocorre em países vizinhos, e ainda pode ser
encontrada no Paraguai e, principalmente, na província de Misiones, na
Argentina. Também ocorrem na região de Foz do Iguaçu, na fronteira
Brasil/Argentina.
Cisqueiro – Ocorre em vários ambientes florestais acima de
800 metros de altitude. Alguns autores consideram que aglomerados de bambu e
matas ao longo de cursos d'água são o ambiente ideal. Embora seja considerada
quase ameaçada, no nordeste da Argentina foi encontrada com frequência em
ambientes degradados, principalmente em florestas com araucária em regeneração.
Restrita ao sudeste da América do Sul, é endêmica da porção meridional da Mata
Atlântica. Sua distribuição abrange o nordeste da Argentina, sudeste do
Paraguai e sul e sudeste do Brasil, neste último desde o extremo sul de São
Paulo até o noroeste do Rio Grande do Sul.
Papa-piri – É localmente comum em brejos, taboais e juncais
altos. Voa com frequência à pouca altura, entre moitas de vegetação, e pousa em
locais abertos, quando torna-se bastante visível. Movimenta-se constantemente,
às vezes permanecendo de cabeça para baixo na vegetação. Presente nos estados
do Rio Grande do Sul e Santa Catarina (região dos lagos/litoral). No inverno
alguns indivíduos podem atingir o interior de Santa Catarina e o Paraná.
Encontrado também no Peru, Bolívia, Chile, Argentina, Paraguai e Uruguai.
Guará– O guará foi, por muito tempo, dado como extinto no
sudeste do Brasil. Na década de 1980, uma colônia surgiu em um local
improvável, o poluidíssimo manguezal de Cubatão. Hoje a ave vem se expandindo.
Com a maré montante, repousam em grupos nas árvores do manguezal, onde não são
facilmente vistos entre a folhagem. Reúnem-se ao pôr do sol e voam em filas
para os locais onde passam a noite. O guará está presente em Trinidad e Tobago
(onde é a ave nacional), Colômbia, Venezuela, Guianas e no litoral norte do
Brasil.
Maria-catarinense – O habitat da espécie, bordas de matas
primárias e secundárias, capoeiras e florestas úmidas de baixada litorânea, tem
sido continuamente degradado ou substituído por áreas urbanas ou por plantios
desde o início da ocupação do litoral dos Estados do Paraná e de Santa
Catarina. Além disso, a proximidade dessas florestas com as áreas já ocupadas
em nosso litoral, aliada à facilidade de que se tem para a ocupação das
florestas de terras baixas, principalmente pelo próprio relevo, a torna alvo
fácil de ações antrópicas. Sem dúvida, este é o tipo de floresta que está mais
ameaçado em todo o Bioma da Floresta Atlântica. Poder ser vista em locais como
Guaratuba, Matinhos, Morretes e Joinville, por exemplo.