O cérebro precisa de treino para manter as lembranças ao alcance
Ao longo do tempo, boa
parte da memória armazenada em nossos cérebros pode se perder. A ciência,
embora ainda não disponha de mecanismos capazes de recompor o que foi
esquecido, sabe que é possível exercitar sua mente, para retardar e reduzir o
processo de perda de memória, mesmo em casos de demência. É o que explica o
neurologista Fernando Freua, da BP – A Beneficência Portuguesa de São Paulo.
O treinamento para
uma memória mais apurada, segundo Freua, requer disposição mental para toda
atividade que demande planejamento, raciocínio lógico, matemática e evocação de
palavras ou utilização da linguagem. Tudo isso ajuda no treino da memória e das
demais funções cognitivas. Assim, passatempos como jogos, palavras cruzadas e
leitura, são úteis no processo contra o esquecimento.
Quando utilizamos as
diversas regiões do cérebro para a resolução de problemas, ajudamos a
consolidar essas funções cognitivas e, de maneira repetitiva, essas funções
melhoram. “Pense como uma academia para o cérebro. Os resultados não ocorrem de
um momento para o outro, mas é a frequência e insistência que podem ajudar
nesse processo que, às vezes, só é visto após muito tempo do início das
atividades”, explica o neurologista.
Como regra geral, não
existe uma recomendação global para uma faixa etária ou um tipo específico de
doença (demência) mas esses exercícios são direcionados individualmente de
acordo com cada domínio com maior prejuízo em cada paciente.
Idade
É fato, diz Freua,
que quanto mais idoso, mais suscetível à demência está o indivíduo. Mas a idade
é um fator de risco, que depende de outros, como hábitos e vícios (tabaco,
álcool, etc) e comorbidades (doenças pré-existentes como diabetes, colesterol e
hipertensão). “Não existe idade limite para se preocupar, mas sabemos que a
leitura e o nível de escolaridade são, de certa forma, fatores protetores para
o desenvolvimento de algumas demências. Sendo assim, sugiro que comecem a
treinar o cérebro o quanto antes”.
A capacidade de
prestar atenção participa ativamente na alocação e consolidação da memória,
explica o médico da BP: “Tanto é fato, que quadros desatencionais graves,
provocados por questões clinicas (como hormonais por exemplo), podem simular
demências e se tornar um desafio diagnóstico para o neurologista. Então, a
atenção é um dos domínios cognitivos que um neurologista deve avaliar numa
consulta cuja queixa do paciente é a perda de memória”.
Quando procurar
ajuda médica?
Qualquer perda de
memória que interfira no bom funcionamento do dia-a-dia do indivíduo ou que
tenha levado a algum prejuízo pessoal ou familiar deve ser investigado com mais
detalhes, por um neurologista.
Em razão da natureza
do problema, muitas vezes o próprio paciente não percebe que está sofrendo de
esquecimento e precisa da atenção de quem está por perto.
Como existem várias
causas de perda de memória, podemos evitar as mais comuns mantendo bons hábitos
de vida e evitando fatores de risco, então, a prática de atividade física, boa
noite de sono, boa alimentacâo (regular e evitar alimentos com muito
carboidrato ou gordura) funcionam como auxiliares neste processo.
Tratamentos e
avanços científicos
A doença mais frequentemente relacionada à perda progressiva da memória é a
Demência de Alzheimer e, em segundo lugar, a Demência por Corpos de Lewy. Em
termos gerais, os tratamentos dos pacientes acometidos por esses males são
feitos com medicações que aumentam um neurotransmissor chamado acetilcolina.
“Existem boas perspectivas de medicações sendo testadas com a finalidade de
interromper a progressão dessas doenças, o que já seria excelente”, afirma o
neurologista.
Apesar dos estudos e
avanços buscados para o controle da demência, há um longo caminho científico
pela frente. Recentemente o FDA aprovou uma droga para Alzheimer, mas os
benefícios ainda são contraditórios, segundo o médico. “O ideal é que o
tratamento seja individualizado e bem acompanhado, já que casos de demência têm
curso natural relativamente previsível. Se o quadro do paciente estiver saindo
desse curso esperado, talvez seja o caso de rever o diagnóstico ou o
tratamento”.
BP – A Beneficência Portuguesa de São Paulo