Inovação parece ser a palavra do momento, todos estão atrás dela, mas
poucos sabem como, de fato, fazê-la. Mas quando uma oportunidade de inovar se
apresentar na sua frente, será que você é a melhor pessoa na sua empresa para
julgar se uma inovação é útil e se deve ou não ser implementada? Tudo se trata
de uma comparação entre a cultura da sua empresa e em qual lugar da “curva de
difusão” você está.
A curva de difusão da inovação nos explica como a sociedade se comporta
com a implementação de novos conceitos ou tecnologias. Ela divide os usuários de
uma inovação numa linha temporal relacionada a quão rápido as pessoas adotam um
novo conceito ou adquirem uma nova mercadoria, por exemplo. Se você já está
familiarizado com a curva, talvez queira pular os próximos 6 parágrafos.
Os primeiros a adquirir/adotar uma inovação são denominados inovadores:
eles representam cerca de 2,5% do mercado total de um produto. Sua decisão é
baseada simplesmente no conhecimento que há algo novo, sem necessariamente ter
todas as informações sobre a inovação, chegando a ser algo próximo do
emocional.
Passado algum tempo, mais pessoas se interessam pela inovação. São os primeiros
adeptos: eles constantemente buscam informações sobre novas tecnologias ou
tendências, representando 13,5% do mercado dessa inovação. Sua decisão
baseia-se na informação.
O próximo grupo representa uma fatia mais significativa do mercado,
correspondendo a 34% dele, e é denominado maioria inicial: Aqui já se
pode verificar o sucesso de uma inovação, pois os participantes desse grupo
apenas aceitam uma inovação que foi testada pelos grupos anteriores e
comprovadamente traz resultados satisfatórios. Sua decisão baseia-se no
empirismo.
O penúltimo grupo é chamado de maioria tardia: representando
outros 34% do mercado, esse grupo pode ser definido como cético. São aqueles
que adotam uma inovação apenas depois que mais da metade das pessoas já o fez.
Sua decisão baseia-se na necessidade.
Finalmente o último grupo, porém não menos importante, é o dos atrasados:
Esse grupo só adquire uma inovação quando não há mais possibilidades de se ter
a versão anterior ou quando ela se torna essencial para a vida em sociedade,
sendo composto por 16%. A incapacidade é o que leva esse grupo às compras.
O exemplo mais utilizado para apresentar a curva é o lançamento de um
novo iPhone. Os Inovadores são aqueles que fazem filas nas lojas da Apple e
compram o novo aparelho sem ao menos ler as especificações. Já os primeiros
adeptos entram no site, veem o que o modelo tem de diferente dos concorrentes e
decidem comprá-lo. A maioria inicial foi às lojas apenas depois que os reviews
comprovaram que o novo smartphone da Apple realmente é revolucionário. Quando
praticamente metade das pessoas tem um novo iPhone e estão mandando novos tipos
de mensagens, a maioria tardia se sente compelida a ter um também. Por fim, os
atrasados são aqueles que só compram smartphones porque não conseguem mais
achar telefones de flip.
A teoria de difusão coloca que quanto mais à esquerda se está na curva,
maior tende a ser o poder aquisitivo e a capacidade de liderança do indivíduo.
Então, pode-se dizer que os inovadores e primeiros adeptos, por terem mais o
perfil de líderes e influenciadores, devem tomar as decisões relacionadas à
inovação na minha empresa?
A resposta é um sonoro e retumbante NÃO.
Tudo depende da cultura organizacional da sua empresa e de como ela se
posiciona ou pretende se posicionar perante o mercado. Se pegarmos exemplos de
empresas de tecnologia, fica claro que as mais inovadoras devem ter um pool de
inovadores e primeiros adeptos como decisores. O real desafio é não pensar em
gigantes como a Apple, Microsoft ou Samsung, mas sim em empresas do cotidiano,
que empregam a maioria das pessoas, que provavelmente irão parar para ler esse
artigo.
Vamos pegar o exemplo de seguradoras, que são empresas que oferecem um
serviço bem estabelecido e com grande concorrência. Se uma seguradora preza
pela qualidade dos serviços prestados, pela confiança e pela tradição, qualquer
inovação a ser adotada tem que ser totalmente confiável, com cases de sucesso e
ROI comprovado. Logo, os melhores para o trabalho estão na maioria inicial e
tardia. Já uma seguradora que quer se destacar pelos planos flexíveis, acesso
rápido, um site e aplicativos modernos, precisa contar com inovadores e
primeiros adeptos, para que tais projetos saiam do papel, mesmo sem todas as
informações de mercado de antemão.
Em suma, saber se posicionar na curva de difusão de inovação é um
primeiro passo para ser honesto com você mesmo, se conhecer melhor e analisar
em qual função seu perfil de inovação se encaixa. Portando, basta saber qual é
a filosofia da empresa em relação à inovação, que você irá automaticamente saber se o
seu perfil é o de um bom decisor na hora de inovar. Claro que não espero que
ninguém peça as contas ou mude de empresa, mas montar um time heterogêneo e escutar os perfis mais ligados ao
estilo de inovar da empresa pode ser a chave para não deixar passar boas
oportunidades de se atingir a disrupção.
Carlos Zago